Os chineses descobriram o chá e a rainha portuguesa Catarina de Bragança levou-o para Inglaterra no século XVII. Mas foi Anna María Stanhope, a sétima duquesa de Bedford, a desenvolver o hábito de fazer uma pausa a meio da tarde para uma refeição ligeira com infusões e bebidas quentes entre o almoço e o jantar, na Inglaterra de 1840, complementando-a com algumas iguarias próprias da época. Durante todos estes anos, o chá das cinco nunca saiu de moda mas, nos últimos tempos, tornou-se ainda mais requintado.

Muitos hotéis passaram mesmo a recorrer a chefs, alguns deles premiados internacionalmente, para criar verdadeiras especialidades para tornar os fins de tarde ainda mais deliciosos e já não são só os de topo que apostam neste conceito gastronómico. Atualmente, quando se pensa em ir a Londres, tomar o chá das cinco está longe de figurar no topo da lista de prioridades da maioria dos visitantes.

Esta situação que deve, contudo, ser revista urgentemente, uma vez que por toda a cidade não faltam cafés selecionados e bares de hotéis que disponibilizam verdadeiros pitéus inspirados na tradição inglesa, como é o caso do St James’s Hotel and Club, que por 29,50 libras, cerca de 36 euros, propõe um afternoon tea preparado pelo chef William Drabble, já agraciado com uma mediática estrela Michelin. Se o pedir, vai ficar surpreendido com a quantidade de comida que lhe põem na mesa.

Além de quatro pequenas sandes em pão de forma (uma de salmão fumado, uma de manteiga e fiambre, uma de queijo creme com pepino e uma de creme de ovo com um toque de ervas ervas), o chá vem acompanhado de uma fatia de bolo de frutos secos e frutas cristalizadas, de um cupcake de chocolate e avelã, de um pedaço de bolo de noz coberto com massapão e de um queque de limão com cobertura de doce de alperce e pedaços de amêndoa. Mas a lista não se fica por aqui.

O recipiente a imitar as fruteiras em voga nos anos da década de 1980 traz ainda um quadrado de bolo de mousse de chocolate, um quadrado de bolo de maçã e amêndoa e dois scones, um tradicional e um com passas, para saborear com doce de morango e/ou com thick clotted cream, uma espécie de manteiga caseira muito leve, absolutamente irresistível. Além desta renovada versão tradicional, a ementa do hotel também inclui um menu semelhante adaptado para pessoas intolerantes ao glúten.

«Não há muitos hotéis a fazer essa versão especial para celíacos mas tem muita procura», confessa Benedetta Fullin, gestora de marketing do hotel, que assegura que as especialidades servidas são todas de fabrico caseiro. Nos meses de outono e inverno, a oferta é mais calórica e aposta muito no chocolate e nos frutos secos. Nos meses de verão, é privilegiada a fruta e são servidas delícias mais leves, respeitando também a sazonalidade dos ingredientes.

Em ocasiões especiais, como por altura do batizado do novo bebé real, foi servido um royal baby shower, que incluía bolos decorados em cor de rosa e azul em forma de chupeta. Em épocas festivas, como o Natal e a Páscoa, a ementa também pode ter surpresas e variações especiais mas, de um modo geral, não sofre grandes alterações. O chá das cinco do St James’s Hotel and Club é servido diariamente entre as 15 h e as 17h30 no William's Bar and Bistro.

Decorada com muitos quadros e com mesas e cadeiras de vários estilos, cores e feitios, a sala, muito tranquila e confortável, mantém algumas das características da arquitectura victoriana que o edifício do hotel orgulhosamente exibe. Além de chás especiais da Índia, da China e do Sri Lanka, também são servidos cafés, cappuccinos e machiatos mas, se lhe apetecer algo ainda mais especial, pode pedir um champagne afternoon tea, que inclui um copo de champanhe como extra.

Ir a Londres tomar o chá do chef

O aviso foi feito. «É melhor não almoçar muito antes e não ir jantar logo a seguir porque vai ter alguma dificuldade», alertou Benedetta Fullin uns dias antes. Não podia ter mais razão. A meio da degustação, já quase não se tem estômago para mais, porque algumas das especialidades servidas são mesmo irresistíveis, como é o caso do bolo com camadas muito finas de mousse de chocolate com um sabor muito intenso a cacau ou das cremosas sandes.

A de queijo creme com pepino estranha-se ao primeiro contacto mas, depois, acaba por conquistar até os paladares mais esquisitos e os mais exigentes, revelando-se uma combinação muito mais interessante do que aquilo que, à primeira vista, parecia. O thick clotted cream é outra agradável surpresa. Ligeiramente adocicada, é de tal maneira suave que quase apetece comer à colher.

Com o doce de morangos, com pedaços de fruta, sucede o mesmo. É absolutamente divinal. O cupcake de chocolate e avelã, com a sua massa encorpada e ligeiramente ensopada, é outra das delícias imperdíveis desta verdadeira e inesquecível experiência gastronómica de inspiração britânica.

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Texto: Luis Batista Gonçalves