Quando engravidei já tinha vários anos de experiência de viagem, com cerca de 40 países visitados. Viajar é algo prioritário e absolutamente apaixonante para mim e, com o tempo, veio mesmo a tornar-se na minha profissão. Nunca me passou pela cabeça deixar de o fazer mesmo tendo uma criança.
Enquanto grávida estava confortavelmente informada - como estão hoje em dia todas as mulheres no nosso país - do meu estado, das minhas limitações e do que devia fazer para ter uma gravidez segura e saudável. E foi por isso que, com cinco meses de Maria na barriga, fui para a ilha de Boavista em Cabo Verde.
Penso que, tanto na gravidez como com um bebé já nos braços, o que cada mulher tem de perceber é que pode viajar à mesma. Apenas a maneira como o faz nunca mais será a mesma. Tendo essa noção bem presente é que decidi ir.
Noutros tempos tinha alugado um carro e percorrido a ilha, passeado muito mais, experimentado mais comida diferente, mas não foi nada disto que aconteceu. As estradas lá não são muito boas por isso não houve passeio de carro (para a barriga não abanar), andei bastante a pé mas, de vez em quando, precisei de andar de táxi e tive cuidado extremo com a comida. Zero molhos, bebidas em copo, fruta descascada ou sobremesas. Comi sopa e peixe grelhado com arroz branco, o que não anda longe da comida que normalmente como em casa. E estava tudo bem. Estava a viajar mas totalmente consciente de que a prioridade máxima era tratar bem a minha filha.
Quando a Maria nasceu foi integrada no prazer de viajar partilhado pelos pais. Aos dois meses de idade foi ao Funchal, um voo curto para ver como se adaptava. Correu bem e foi fazer os três meses ao Brasil, a Natal. Tem agora quatro anos e já vai no terceiro passaporte. Veja estas dicas que lhe deixo para viajar com crianças:
1 – Escolha bem o destino
Penso que a escolha do destino é muito provavelmente a dica mais importante. Desde que viajo com a minha filha invisto muito mais tempo do que antes a pesquisar e a escolher os meus destinos.
É essencial escolher um local onde não haja doenças perigosas, como malária, que seja seguro, que tenha uma gastronomia fácil para uma criança, que tenha assistência médica aceitável e que tenha atividades interessantes para os mais pequenos. Pode parecer um pouco complicado por ser tanta coisa, mas na realidade há imensos sítios onde é possível ir que obedecem a todos estes requisitos, como é o caso da totalidade da Europa, da América do Norte e da Oceania, assim como várias zonas de África, da Ásia e da América do Sul. Um mundo inteiro para descobrir com os mais pequenos.
Por exemplo, no ano passado quando fui pela primeira vez com a minha filha ao continente asiático, escolhi locais que me interessavam conhecer e que obedeciam a todas as condições que, para mim, são importantes. O destino final eram as ilhas de Java e Bali na Indonésia, mas para dar tempo à Maria de recuperar do jet lag passei uns dias em Kuala Lumpur onde a diferença horária ainda não era tão grande. As ilhas que eram o meu destino final são fantásticas, culturalmente muito interessantes e permitiam à minha filha ter vários momentos fantásticos. Muita praia, caminhadas ao ar livre, interação com os habitantes que são extremamente simpáticos (pelo menos em Bali), andar em tuk tuks e muito mais.
2 – Planeie bem os voos
Antes de ser mãe, quando pesquisava um voo tinha em atenção o preço e se ia o mais cedo possível para o meu destino. Queria sempre aproveitar o máximo possível da minha viagem, ou seja, ir cedo no primeiro dia e regressar tarde no último.
Hoje em dia os critérios são um pouco diferentes. Claro que a questão do preço se mantém, mas o horário do voo obedece a outras regras. Com um bebé com poucos meses acaba por ser mais fácil, porque é normalmente mais calminho e dorme bastante. A sensação que eu tinha é que nessa fase era igual para a minha filha estar no avião ou no quarto dela. Desde que as suas necessidades obedecessem ao mesmo ritmo, estava tudo bem.
Quando uma criança é um pouco mais velha, talvez por volta dos 18 meses, já é diferente, especialmente se tiver a energia da minha filha. Eu procurava sempre que os voos fossem durante a noite ou nas horas da sesta dela. Não era fácil ocupá-la em voos longos e assim tornava-se bem mais simples.
Mais recentemente, já com quatro anos de Maria, continuo a procurar respeitar o seu sono noturno. Viajo durante o dia para ela chegar ainda a tempo de dormir à hora habitual no hotel. Claro que isto é a regra, mas já houve vezes em que tive voos às cinco da manhã e outros à noite, em que a tive de acordar. O segredo aqui é procurar seguir o mais possível as nossas regras mas ter flexibilidade para, pontualmente, ter de ir contra elas.
3 –Saiba ajustar expectativas e planos
Quando se viaja com uma criança nunca sabemos muito bem como vai ser o nosso dia. Podemos ter um plano mas é preciso aceitar que, muito provavelmente, vai sofrer alterações. Não vale a pena stressar com algo inevitável.
Quando os filhos são pequenos e têm ainda de fazer sestas, temos de descobrir um local calmo onde possam dormir na sua hora habitual. Já sabemos que se não dormirem vão ficar muito mais irritados e birrentos e isso muda muito a nossa disposição também. O que eu fazia quando a minha filha ainda dormia à tarde era todos o dias que saía para passear levava sempre o carro de bebé, que se transformava numa cama perfeita para ela dormir a sesta. Neste período, dependendo do sítio onde estava, ficava parada perto dela e aproveitava para ler e descansar ou íamos visitar um museu ou parque, normalmente silenciosos.
Além da sesta, também vão haver paragens para ir ao parque que viu na rua, para ficar a brincar com algumas crianças simpáticas que chamam a atenção ou para admirar algum pormenor que fugiu ao nosso olhar, que já é diferente e menos atento a pormenores. Pode ainda acontecer uma birra ou a criança querer dormir mais cedo.
Olhando para estes quatros anos de viagens com a Maria lembro-me de muitas adaptações de planos, mas desde cedo me mentalizei que estas iriam sempre existir. Se viajarmos com a perfeita noção disto é bem mais fácil.
4 –Mantenha as rotinas
Uma criança quando viaja está inserida num contexto totalmente diferente do seu. Os pais o que podem fazer é procurar respeitar o mais possível aquilo que conseguem controlar, como por exemplo os horários. Sempre procurei que a minha filha dormisse e tomasse as suas refeições à mesma hora, como se estivesse em casa. Penso que o facto de ela saber o que pode esperar é muito mais confortável e facilita imenso o processo de adaptação.
Numa viagem que envolva jet lag, é preciso ir gradualmente adaptando aos novos horários, o que mediante o país pode demorar mais ou menos tempo. No regresso será preciso igualmente algum tempo para retomar os horários normais.
Uma das coisas que também faço sempre é levar dois ou três livros que ela gosta para contar uma história antes de adormecer, como acontece em casa.
5 - Mantenha as crianças motivadas
Logo que os pais sintam que a criança já consegue perceber que vai viajar e o que vai fazer, devem procurar conversar e arranjar forma de a motivar, captando o seu interesse nos aspetos que para ela são os mais importantes. Isto deve acontecer só uns dias antes da viagem, porque senão de outra forma vai estar sempre a perguntar quando é.
Já durante a viagem ajuda imenso se os pais continuarem sempre a explicar qual é o interesse que existe nos sítios que vão visitar. Um castelo pode tornar-se fascinante se lhes explicarmos que já lá viveram reis e rainhas e uma caminhada de alguns quilómetros pode ser tão fácil se recriarmos a história do Capuchinho Vermelho, por exemplo. Há que puxar pela imaginação.
Além de a contextualizar, podemos também dar-lhe alguma responsabilidade, como ver o mapa da cidade onde estamos para tentar encontrar o tesouro, que é só o sítio onde queremos chegar. Uma criança motivada, interessada e curiosa com o que a rodeia vai tirar muito mais partido da experiência, o que é bom para ela e para os pais.
Catarina Leonardo é autora do blogue Wandering Life.
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