Numa informação enviada à agência Lusa, a ACISO refere que há dois meses auscultou os empresários da hotelaria e, das 61 respostas, “72% das empresas encontravam-se encerradas” e, destas, “88% não tinham qualquer previsão de data de abertura”, enquanto “10% previa abrir em março”.
“Dois por cento das empresas responderam que ponderavam não reabrir, estando a pensar avançar para a insolvência”, avança a mesma informação, sendo que os dados podem ser replicados este mês, porque a situação decorrente da pandemia de covid-19 não sofreu alteração.
A presidente da ACISO, Purificação Reis, acrescentou que a associação tem “conhecimento de algumas unidades com maiores dificuldades de sobrevivência”, mas não tem “informação relativamente a números de processos de insolvência que tenham iniciado”.
“Existem intenções e interesse de venda de algumas unidades, talvez ronde a meia dúzia, o que é, naturalmente, consequência direta da forte crise que o setor atravessa”, declarou Purificação Reis.
Salientando que “o parque hoteleiro de Fátima é forte e resiliente” e que, “na sua maioria, está devidamente preparado para reabrir”, assim que o fluxo turístico retorne, a presidente da ACISO reconheceu, contudo, que “os empresários têm problemas e dificuldades sérias para manterem as suas estruturas em funcionamento e para fazerem face a todos os custos e encargos numa situação de ausência total de receitas”.
“As diversas medidas de apoio disponíveis ajudaram, mas, infelizmente, sabemos que não são suficientes para resolver todos os problemas. Penso que será difícil a manutenção de toda a oferta hoteleira tal como a conhecíamos”, sustentou.
Para Purificação Reis, “a retoma do turismo vai ser lenta e vai ainda ser mais lenta no segmento do turismo religioso, o qual depende muito de mercados extraeuropeus, nomeadamente do asiático e do sul-americano”, pelo que se perspetivam “anos de dificuldade acrescida para os empresários do setor”.
“A motivação para visitar Fátima não desaparecerá, talvez até saia reforçada com a pandemia, assim que retornem as necessárias condições de mobilidade e segurança”, sustentou.
Purificação Reis observou que “o setor já estava em mudança” e essa mudança vai acelerar-se, “sendo importante que os agentes económicos se adaptem rapidamente a estas novas realidades”.
“O turista é cada vez mais sensível à procura de destinos sustentáveis e amigos do ambiente. Os jovens têm tendência a organizar a sua própria viagem com recurso à internet e as viagens organizadas e em grupo serão mais procuradas pelo turista sénior, que quer um pacote que alie segurança, saúde, apoio especializado, diversão e vivência do local, das suas gentes e culturas”, exemplificou.
Para a presidente da ACISO, “o turismo religioso, e particularmente Fátima, reúne um conjunto de características que o tornam um destino especial com condições para dar resposta a muitas destas motivações do turista”, esperando que “a estrutura empresarial consiga sobreviver e manter-se em funcionamento até à retoma do setor”.
O vice-presidente da Associação de Hotelaria de Portugal Alexandre Marto antecipa que, embora “as interrogações sejam muito maiores do que as respostas nesta altura”, vai haver “uma concentração maior de empresas na aviação, na operação turística e na hotelaria, e, consequentemente, algumas das pequenas empresas terão ainda mais dificuldade em sobreviver”.
“Julgo que no segundo semestre de 2022, se não existirem surpresas do ponto de vista sanitário, teremos uma recuperação total”, declarou Alexandre Marto, considerando existir “uma vontade enorme das pessoas, em todo o mundo, de viajar”.
“Acredito que logo que as pessoas tenham uma oportunidade - sentirem-se seguras - irão viajar”, adiantou, notando que “o nível de poupança mundial está em níveis elevadíssimos e a vontade de viajar também e isso é a receita perfeita para provocar viagens de vingança, pessoas que querem ter uma desforra de todo este tempo em que estiveram confinadas”.
Alexandre Marto sublinhou que “a vacinação está a ser feita por idades e, portanto, as pessoas mais velhas, que antes estavam muito retraídas e não queriam viajar, serão as primeiras a ter condições para o fazer” e “Fátima é destino destes mercados e de pessoas de maior idade e que estarão vacinadas”.
O presidente do Turismo Centro de Portugal, Pedro Machado, apontou a possibilidade de a pandemia de covid-19 “mudar muito os negócios” como se conheciam até aqui, considerando que “a hotelaria vai ter de se readaptar”.
“Provavelmente é mais complicado [na hotelaria]. Nalguns casos já não basta a perceção de que o selo ‘clean & safe’, as boas práticas, os bons instrumentos serão suficientes para captar turistas, vão ter também eles [hoteleiros] de se reinventar neste trabalho de aproximação àquilo que são as expectativas e exigências dos clientes”, acrescentou Pedro Machado.
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