
Foi durante um passeio a pé entre a Guarda e Unhais da Serra, que João Tomás, um apaixonado pelas montanhas que o levou até os maiores cumes do mundo, se encantou pela beleza natural e potencial da zona das Penhas Douradas e decidiu pôr em prática o desejo antigo de, no seu 50° aniversário, abandonar a vida executiva e adquirir um pequeno refúgio na Serra na Estrela.

Mas o que começou com o desejo de ter apenas uma casa de férias na montanha depressa se transformou num negócio ligado ao turismo de natureza no coração daquela que é a montanha mais alta de Portugal continental. Juntamente com a mulher, Isabel Costa, na altura com 42 anos, fundou a Casa das Penhas Douradas – Burel Expedition Hotel (2006), que viria a ser o primeiro projeto do grupo Burel Mountain Originals, seguindo-se a Burel Factory (2011) e a Casa de São Lourenço – Burel Panorama (2018). Tanto no setor da hotelaria como no setor têxtil, o objetivo é o mesmo: dar vida ao passado sem perder o foco no presente e no futuro. “Nós não fazemos nada de novo. Pegamos no que existe e procuramos recuperar, reconstruir, restaurar e ir à origem e à história das coisas”, diz o ex-executivo ao SAPO Lifestyle.

A criação de cada um destes projetos foi a forma que o casal de empresários encontrou de valorizar o património, a riqueza da região e , ao mesmo tempo, proteger o destino Serra da Estrela. Aliás, este foi um dos principais motivos que os levou a adquirir a antiga Pousada de São Lourenço, que foi uma das primeiras em Portugal, e a convertê-la num design hotel. “Este é um destino muito bonito, tranquilo, calmo e começou a haver boatos de que podia ser uma boate, isto e aquilo. Começamos a ficar preocupados e decidimos logo: ‘Vamos comprá-la, proteger o destino e virá-la para a paisagem”, adianta Isabel Costa.
Apesar da inexperiência dos empreendedores na área de hotelaria e têxtil, este foi um salto no escuro que deu certo, como confirmam os prémios que têm recebido ao longo dos anos, entre os quais se destacam o Prémio Nacional de Turismo na categoria "Turismo Autêntico" (2020),o Monocle Design Award (2023) e o Prémio Carreira do Guia Boa Cama Boa Mesa (2024).
Casa das Penhas Douradas e Casa de São Lourenço: o equilíbrio entre uma casa na montanha e um hotel de cinco estrelas

A Casa das Penhas Douradas – Burel Expedition Hotel, inaugurada em 2006, quer ser um refúgio de montanha onde os hóspedes se sentem em casa. A Serra da Estrela - que se cimentou como um destino turístico que pode ser visitado todo o ano – levou à expansão deste complexo que, em 2010, passou de 9 para 15 quartos e duas suites. Neste hotel circular de quatro estrelas as paredes tradicionais dão lugar a divisórias e mobiliário em bétula feito à medida que, apesar da simplicidade, confere um charme rústico às acomodações. Isso, a juntar aos 250m de altitude da sua localização, faz-nos sentir como se estivéssemos, literalmente, a dormir dentro das nuvens.

Outro elemento que adiciona aconchego e conforto é o burel, presente em todo o hotel através dos estofos das cadeiras, puffs, tapetes e mantas feitos na Burel Factory, outro dos negócios e paixões do casal que, ao longo dos anos, tem tentado preservar e modernizar este tecido característico da Serra da Estrela feito com lã de ovelha bordaleira. “As pessoas sentem-se em casa. Temos clientes que vêm cá há anos”, refere a CEO e cofundadora do Grupo Burel Mountain Originals sobre a atmosfera descontraída que consegue atrair tanto famílias como caminheiros.
A suite principal, que durante muitos anos foi a residência de Isabel Costa e João Tomás, oferece uma zona de estar que inclui uma biblioteca onde os momentos de leitura podem ser intercalados com momentos de contemplação do bosque de pinheiros e a paisagem granítica circundante. Aliás, em todos os 15 quartos – onde existem opções comunicantes para famílias que privilegiam contacto o exterior – e nas duas suites vai encontrar livros de vários autores, em diversas línguas, que incentivam à leitura e que o podem acompanhar durante a estadia. As três salas de estar do hotel permitem que diferentes gerações possam entreter-se com jogos de tabuleiro, ver televisão ou viver momentos mais privados em família ou entre amigos.

Em 2018, seguiu-se a Casa de São Lourenço – Burel Panorama: o único hotel de cinco estrelas de montanha em Portugal, localizado a 1250m de altitude, que dispõe de 17 quartos e quatro suites de decoração minimalista, onde os tons neutros e materiais como o pinho conferem naturalidade e leveza ao ambiente. Isto tudo para não nos distrair daquele que é o grande protagonista: o terraço privativo envidraçado com vista para o Vale Glaciar do Zêzere e a vila de Manteigas.

Das 14 tipologias que oferece, as opções Panorama e Panorama Plus são ideais para quem pretende fazer uma escapadinha com os miúdos. De forma a honrar aquilo que é nacional e fazer jus ao conceito de design hotel, todas as áreas comuns e de dormir foram decoradas com peças de designers portugueses. Exemplo disso são o restaurante Fatiga e o quarto Maria Keil Panorama - que tem a varanda mais alta do hotel - onde é possível encontrar mesas de jantar, cadeiras, candeeiros, armários e camas desenhadas por aquela que é uma das artistas mais importantes do século XX. A par da sua tonalidade escura, que se impõe em qualquer espaço, estas peças destacam-se pela sua originalidade ao incorporarem símbolos que os pastores têm nos seus cajados, como é o caso da flor, da estrela ou do lobo.

Contrariamente às Casa das Penhas Douradas, neste edifício o burel ganha destaque na arquitetura decorativa revestindo vários espaços comuns, como é a parede da antiga entrada da pousada, embelezada pelo ponto favo, ou pela sala de fumadores onde existe um painel com o ponto primavera.
Visitas guiadas, passeios a pé e muitos momentos de relaxamento

Para quem visita a Casa de São Lourenço e a Casa das Penhas Douradas em contexto de escapadinha ou de mini-férias, a riqueza paisagística e beleza natural da Serra da Estrela que os hóspedes podem admirar do terraço das suas acomodações desafiam-nos a manterem-se ativos durante a estadia e a explorar os diferentes programas que as unidades oferecem.
“Podemos estar uma semana cá e todos os dias temos um passeio diferente nas imediações”, explica João Tomás, aludindo aos percursos pedestres gratuitos criados e organizados pelo hotel. Com a duração de 1h30m e marcação obrigatória, os roteiros são disponibilizados diariamente na mesa de cabeceira de todos os hóspedes juntamente com um pequeno snack para o caminho. “Aqui nas Penhas Douradas estamos no meio do granito, alguns até têm formas estranhas e esquisitas, onde conseguimos detetar uma série de animais e de pessoas no meio desses pedregulhos todos. A partir do momento em que entramos em São Lourenço entramos no reino do xisto. São os xistos que depois vão acompanhando toda aquela zona da serra.”
Se quiser algo mais desafiante e personalizado, existem visitas de jipe ou caminhadas por trilhos mais longos criados pelo Parque Natural da Serra Estrela que podem ser feitos com guia. Cada uma destas atividades ao ar livre, que também podem incluir uma pausa para piquenique repleto de petiscos pelo meio (25€ por pessoa), ganham um encanto muito particular de acordo com a época do ano. Apesar de o outono ser a estação que atrai mais visitantes, numa paisagem pintada de amarelo, dourado e vermelho, para Isabel Costa o mês de maio é, sem sombra de dúvidas, o melhor visitar a Serra da Estrela. As temperaturas começam a subir, as flores a desabrochar e os pastores a desfilar com os seus rebanhos de ovelhas.

No verão, as caminhadas ganham outro dinamismo com a possibilidade de conhecer de perto, através de passeios de kayak, as cerca de 20 lagoas que há para descobrir na região. “As temperaturas das lagoas são muito amenas ao contrário dos rios, que são frios”, afirma o empreendedor.
Se visitar a montanha mais alta de Portugal durante os meses mais frios e quiser aproveitar a neve no inverno, a Casa das Penhas Douradas – Burel Expedition Hotel inclui na sua programação uma caminhada com raquetes de neve que pretende proporcionar momentos divertidos em família.
Outra proposta interessante – e que também está incluída na estadia e carece de marcação obrigatória – é a visita à Burel Factory onde os hóspedes podem conhecer outra das vertentes de negócio do grupo: a parte têxtil que nasceu da reconstrução da Lanifícios Império, uma fábrica portuguesa especializada na produção de burel, de onde saem as suas propostas de moda e decoração.

Para quem prefere momentos de aconchego e relaxamento dentro de quatro paredes, as instalações de spa são uma boa alternativa. Se não resiste a experiências novas, não deve deixar de experimentar uma das massagens de assinatura que trazem o melhor da montanha até si. Lavanda, carqueja, urze e zimbre são os aromas que pode sentir nos óleos utilizados na Massagem de relaxamento com óleos de ervas da serra (60 minutos/75€ ou casal/170€) ou Massagem estrela da serra (40 minutos/85€ ou casal/160€) disponíveis em ambas as unidades hoteleiras e que, graças às suas propriedades hidratantes, calmantes e revitalizantes, o vão ajudar a sentir-se como novo.
A grande diferença entre os dois spas é que as instalações da Casa das Penhas Douradas (08h00 – 20h00) conseguem proporcionar uma atmosfera mais intimista e acolhedora, enquanto na Casa de São Lourenço (10h00 – 20h00) as salas de tratamento e relaxamento – exclusivas para adultos - privilegiarem o contacto direto com a natureza, trazendo luz natural e a vista para montanha até si.

Para um momento purificante que pode ser vivido em casal ou em família, tem o ofurô - ou banho nórdico (20€ por pessoa para hóspedes que não estejam em suites) - uma experiência que o convida a mergulhar numa banheira de pequenas dimensões onde a temperatura da água ronda os 38º graus e oferece vista para a Serra da Estrela. Disponível nos dois hotéis, este ritual milenar que junta wellness e convívio tem a duração de 30 minutos é finalizado com o ritual do chá.
Nubbin e Fatiga, duas propostas gastronómicas focadas na região

Uma das grandes novidades de 2025 são os restaurantes “Nubbin”, da Casa das Penhas Douradas – Burel Expedition Hotel, e o “Fatiga”, da Lourenço – Burel Panorama, que abriram portas no início do ano com um novo nome e uma oferta que faz jus aos produtos locais. Liderados pelo chef-executivo Manuel Figueira, estes dois espaços pretendem quebrar a ideia de que a comida de hotel é toda igual e trazer para a mesa diferentes conceitos gastronómicos. Apesar dos escassos quatro quilómetros que os separam, a verdade é que as cartas de ambos os hotéis não podiam ser mais diferentes.
“Lá em cima [Casa das Penhas Douradas] existe uma raiz mais criativa, internacional e asiática com sabores distintos. Aqui percebe-se que é mais enraizada nas nossas tradições, nos sabores típicos e na apresentação dos pratos, onde há pratos mais rústicos”, explica o chef, oriundo de Tondela, sobre os dois espaços que oferecem um menu de almoço diferente todos os dias, servido entre as 13h00 e as 15h00, e um menu fixo ao jantar, desfrutado entre as 19h00 e as 22h00.

Ao jantar, o Nubbin oferece dois menus de degustação - um vegetariano (50€) e outro com opções de carne e peixe (55€) - ou opções à carta onde poderá encontrar criações como Creme de Couve Flor, Gambas Selvagens, Legumes Asiáticos e Coentros (12€), Arroz Frito Ocidental com Legumes da Época e Ovo, Batata Doce Assada com Teriaky, Coentros Frescos, Caju e Malagueta (24€) ou Bife de Novilho Corado, Mil folhas de Batata, Maionese de Trufa, Cogumelos Frescos e Jus de Novilho (29€). Para os mais novos – que podem fazer a sua refeição em família pelas 19h00 – há opções mais simples como Robalinho Corado com Arroz de Legumes (12€) ou Bolonhesa de Novilho e Molho de Tomate (12€).

Na Casa de São Lourenço o ponto de partida são as receitas tradicionais que permitem trazer para a mesa os ingredientes e sabores da região. Caso dispense os menus de degustação, na carta principal não deve deixar de experimentar alguns dos petiscos que compõem a Fatiga: uma secção que presta tributo à merenda do alforge que acompanhava os pastores da Serra da Estrela. “A Fatiga é uma mesa bem composta, uma mesa beirã”, refere Manuel Figueira sobre as propostas para comer à mão que compõem este momento e que incentivam à partilha. “Nós fomos mais além do que era tradicional, que era o presunto, o queijo e pão, e adicionámos mais algumas coisas”, adianta aludindo ao croquete de vitela de Lafões, Rissol de Javali, Pastel de Bacalhau e a Marmelada.
A castanha, a batata, a feijoca e os cogumelos são ingredientes regionais que existem um pouco por todo o menu, onde também não faltam opções arriscadas. “Temos vindo a trabalhar cada vez mais a caça que é muito apreciada”, afirma o chef sobre criações como o Empadão de Javali Selvagem, Boletos e Castanhas com Salada de Citrinos (28€) e Arroz IGP Malandrinho de Caça Menor com Cogumelos Selvagens e Trufa (28€).

Para que nada falhe na cozinha, Manuel Figueira conta com uma equipa de 12 pessoas que se divide entre a Casa das Penhas Douradas – Burel Expedition Hotel e a Casa de São Lourenço – Burel Panorama para o ajudar preparar tanto as refeições principais como o pequeno lanche, incluído na estadia, que é servido diariamente em ambos os hotéis entre as 16h00 e as 18h00.
Casa de Jones: uma casa de campo que privilegia o turismo científico

Porque não há duas sem três, João Tomás e Isabel Costa já tem um novo projeto hoteleiro na calha que deverá nascer nas Penhas Douradas, que foi dos primeiros sítios onde se fez a cura da tuberculose em altitude, em 2026. Chama-se Casa de Jones e vai prestar homenagem às inúmeras figuras de renome que, ao longo das décadas, se apoiaram na geologia e na botânica para compreender a Serra da Estrela.
“É um turismo um bocadinho diferente, virado para o lado científico”, começa por explicar a empresária sobre este projeto cujas obras de recuperação, que vão arrancar este ano, pretendem transformar este imóvel, que em tempos funcionou como casa-abrigo do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), numa casa de campo. “Nós, ao recuperarmos esta casa, vamos também procurar recuperar esta tradição. É um projeto que temos com o Geopark que vai ajudar-nos na parte da animação e da interpretação ambientais”, complementa o também proprietário da Burel Factory.
Comparativamente com os seus projetos anteriores, esta unidade hoteleira destaca-se pelas suas dimensões reduzidas oferecendo seis amplos quartos, uma sala de jantar, duas salas de estar, um pequeno spa e dois ofurôs para os hóspedes relaxarem no exterior. Apesar de o projeto de interiores ainda não estar definido, este terá uma identidade muito própria onde não vai faltar o burel.

De forma a enriquecer a estadia de todos aqueles que procuram refúgio nesta região do país, a Casa de Jones vai permitir uma estadia capaz de despertar a curiosidade dos hóspedes. “Vai haver uma sala onde nós temos livros e meios só sobre a Serra da Estrela. O Geopark vai ter uma pessoa que acompanhará essas visitas à Serra e nós depois podemos densificar essas visitas de acordo com o interesse das pessoas”, comenta João Tomás.
Se na Casa das Penhas Douradas e na Casa da São Lourenço existia uma cozinha de autor e tradicional respetivamente, nesta casa de campo é esperado algo mais sofisticado e exclusivo. A inexistência de um restaurante e um menu permite que os clientes possam desfrutar de refeições personalizadas preparadas no momento pelo chef responsável. “É muito mais próximo, muito mais envolvente”, informa Isabel Costa. “Acho que vai ser algo muito para famílias e para grupos mas com serviço de quarto e de hotelaria.”
Porque a melhor forma de explorar a Serra da Estrela é a pé, os hóspedes vão poder explorar, sem medos, os vários percursos existentes nas redondezas. “São percursos bem marcados, bem sinalizados, percursos bonitos, fáceis e panorâmicos”, conclui.
O SAPO Lifestyle esteve na Serra da Estrela a convite do grupo Burel Mountain Originals.
Comentários