Sabemos que o primeiro contacto, o mais selvagem e essencial, ocorre naturalmente assim que nascemos. É neste momento simplesmente mágico, único, irrepetível e humano, em que o tempo pára e os choros se cruzam - o da mãe que acaba de parir, o do bebé que se sente completamente perdido num ambiente totalmente diferente, frio e vazio, e o do pai que de tudo fez para transmitir tranquilidade e segurança, mas que por momentos também cede à vulnerabilidade de um lugar que conhece agora - que todos ganhamos um dos primeiros imprints (impressões): a vida/o meu sistema abraça-me?
Se tudo correr bem, se existir espaço para a humanização deste momento, é aqui que acontece o primeiro abraço desta tribo que vai condicionar, marcar, estruturar e guiar o bebé que um dia será um adulto. O primeiro abraço, o primeiro olhar, o primeiro colo, todos estes momentos podem nutrir profundamente, podem criar espaço para que este ser que nasce tenha a habilidade de acolher o outro na sua vida.
Vou percebendo que nem sempre existe espaço, disponibilidade, abertura, consciência e maturidade para viver este momento com toda a dignidade que ele merece, infelizmente. Recuperar a informação ancestral é urgente, muito urgente mesmo, pois vivemos dias pouco evoluídos, desfasados do que realmente importa: ser, sentir, servir, nutrir, sorrir.
É agora que o convido a lembrar-se do seu último abraço:
- É recente? Tem menos de uma semana?
- Recorda-se do cheiro desse(s) abraço(s)?
- Quanto tempo ficou nesse abraço?
Poderá ter alguma dificuldade em responder às questões se for o tipo de pessoa que foge dos abraços, que os evita, que os repulsa, que não os reconhece.
A si, o meu convite à reflexão é diferente:
- Quando foi a primeira vez, de que tenha memória, que desejou um abraço e esse lhe foi negado?
- Em que momento, e tente lembrar-se do que vivia particularmente nessa fase, sentiu que o abraço concedia ao(s) outro(s) acesso direto ao seu coração fechado, e por tal era um risco que não queria correr?
- Quantas vezes, e conte por uma mão porque provavelmente conseguirá, viu os seus pais e avós abraçarem-se com carinho, amizade e amor?
Abraçar é terapêutico, reduz a nossa ansiedade, a nossa tristeza. Há no abraço um lugar de conforto, onde não é necessário verbalizar nada, apenas existe o sentir dos corações que se encontram, é uma viagem silenciosa e gentil.
Já Virginia Satir, psicoterapeuta norte-americana, reconhecida pela sua colaboração na área das constelações familiares e autora de inúmeros livros, dizia:
“We need 4 hugs a day for survival. We need 8 hugs a day for maintenance. We need 12 hugs a day for growth.” ("Precisamos de quatro abraços por dia para sobreviver. Precisamos de oito abraços por dia para manutenção. Precisamos de 12 abraços por dia para crescer" em tradução livre)
Não desperdice as oportunidades. Acredito que em 24 horas diárias exista espaço para se nutrir desta forma tão eficaz e gratuita. Faça uma boa gestão do seu tempo, priorize os abraços em família, junto dos seus amigos, dos seus colegas. E em jeito de bónus sorria a quem se cruzar no seu dia, cumprindo qualquer propósito, acredite que pode fazer a diferença!
Acolha assim o abraço principal: o seu a si próprio!
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