Todos sabemos que as bolas de berlim sabem bem é na praia, sobretudo se estiverem quentinhas e bem recheadas de creme. Contudo as autoridades higiénicas lembraram-se, logo no início do auge da época balnear, que comer cremes na praia representa um perigo imenso para o bem estar da Nação. Vai daí começaram a multar todos os vendedores de bolas, (essas pessoas de bem e de trabalho, que estoicamente galgam as praias sob um sol escaldante distribuindo o delicioso sabor das recheadas bolas) como se fossem malfeitores responsáveis por grande parte dos males que afetam a humanidade.
E é então que nós, comuns cidadãos, que apenas pretendemos esquecer, entre mergulhos no mar, toda a crise que nos afeta, nos deparamos com o ar apavorado dos vendedores de bolas ao fazer-lhes o singelo pedido: - São três bolas com creme se faz favor. - Eles olham para nós como se estivessemos a pedir-lhes que nos fornecessem cinco gramas de cocaína e então, com todo o cuidado, olham em redor e dizem em surdina: - Passo por aqui às quatro horas, mas peça apenas “das outras” e baixinho de preferência!
Por volta das quatro da tarde, todos estamos alerta para a chegada do “dealer” que, sorrateiro e a medo, nos “passa” as benditas bolas com creme como se um crime estivesse a ser cometido. Vejo o ar deliciado das crianças que, como verdadeiros “agarrados”, se deliciam com o proibido produto e não consigo evitar perguntar-me se não faria muito dinheiro a embalar creme de bolas de berlim em doses individuais, vendendo-as depois, à candoga, pelos nossos areais…
Acabo por decidir não me dedicar a uma carreira de traficante de creme, no entanto não me conformo com o facto de continuarmos a ter autoridades de tão inconvenientemente tacanhas.
Ana Amorim Dias
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