Tão ternurento! Contou-me detalhadamente como correra a sua tarde e noite. Fê-lo com tal pormenor que os pensamentos se me desprenderam dali e voaram momentaneamente não sei para onde.
- Então quer dizer que a festa foi altamente!- regressei.
- Mesmo, mãe! Adorei o dia.
- Olha lá, e miúdas? Não havia?
- Sim. Quatro.
- E?
- E quê?
- Nada. Estava aqui a pensar se já gostas de alguém...
- Qual quê, ainda é cedo, não?
- Olha desculpa lá, a primeira vez que me apaixonei tinha menos um ano que tu!
Ele ficou pensativo e eu embarquei em divagações:
- Oh páhh, Tomy, vai ser tão lindo ver-te a suspirar pelos cantos, feliz, nas nuvens, quando te apaixonares...
Olhei-o pelo canto do olho, ao meu lado no carro, e captei-lhe o semblante interrogativo.
- Como é que é, mãe, estar apaixonado?
Não fosse eu louca por estas conversas e ter-me-ia gelado o sangue! Como se explica eficientemente a um puto de treze anos o que é estar apaixonado? Optei pela abordagem mais bruta, sem florzinhas nem toques primaveris.
- Quando estiveres sabes logo e há outra coisa: se fores correspondido é maravilhoso mas, se não fores, experimentarás o inferno!
- Credo, mãe, isso não quero!
- A paixão não vem por se querer, palerma. É essa a magia. A paixão acontece sabe-se lá quando, porquê e por quem! Ela simplesmente chega e arrasa tudo o resto para segundo plano; os problemas deixam de existir... o resto do mundo deixa de existir! É sublime.
Por essa altura, com aqueles meus relatos da paixão, ele olhava-me completamente fascinado. Não sei se apavorado com a ideia de se apaixonar, ou desertinho pelo momento em que a sua vida ficará de pantanas.
Ana Amorim Dias
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