Há uns dias, no duche, comecei a pensar sobre que tipo de sogra serei. O tempo passa num instante e isso ficou comprovado pela nostalgia com que os meus filhos ficaram depois da partida de duas amiguinhas que passaram umas semanas cá na quinta.
A minha primeira conclusão foi que vou ser uma daquelas sogras espetaculares, que ninguém vê nem ouve; daquelas que são leves e não se metem em nada. Mas, ao avançar na divagação, não pude evitar imaginar o que farei se me calhar uma daquelas miudinhas irritantes e afetadas, que falam com a boquinha meio fechada e acham tudo uma seca. E se o Tomas ou o João se apaixonarem perdidamente por aqueles “pãezinhos sem sal”, com quem nada me identifico, que têm medo de tudo e não gostam de nada; daquelas que se aborrecem por a praia ter areia, o sol dar calor e o dia ter claridade? Se me calhar uma “mosquinha morta” serei uma sogra assim tão leve como pretendo ou deixarei que a minha irritação se note?
A verdade é que o João, com o seu espírito vivaço e jeito de Don Juan, provavelmente vai andar a esvoaçar de flor em flor sem se prender muito a nenhuma. Quem me preocupa mais é o meigo Tomás, que já antevejo capaz de uma só exaltada paixão, coroada por muito sofrimento de amor. Que farei eu se lhes partirem o coração? Devo avisá-los desde já que nunca devem amar mais do aquilo que são amados? E como os ensinaria a medir tais desvarios da alma?
No fundo a pergunta resume-se a isto: como se preparam os filhos para o amor? Como se pode explicar-lhes que amar é a apoteótica sublimação de toda a nossa existência mas que, por isso mesmo, é também um caminho mais perigoso e sofrido do que qualquer outro que se possa tomar? Como se ensina um filho a usar a única droga ancestral que tanto pode levá-los ao céu como fazê-los viver no inferno?
Não tenho respostas para estas perguntas e creio que jamais as terei, apenas sei que compreenderei bem o que quer que venham a sentir e lhes conseguirei dar um bom colo quando o circo dos seus sentimentos arder nas labaredas ardentes da paixão.
Quanto à sogra que vou ser… bem, não vale a pena preocupar-me muito com isso: daqui a breves anos já terei a opinião de quem se poderá pronunciar.
Ana Amorim Dias
Comentários