Estudo sobre a dicotomia ciúme/relação sexual avança com a teoria de que “quando o ciúme aumenta, a satisfação sexual diminui”, muito embora a mesma pesquisa evidencie que tal sentimento em níveis moderados pode estar associado a uma boa performance sexual.

Catarina Lucas, psicóloga clínica e autora do estudo, explica o fenómeno, afirmando que o ciúme pode ser encarado “como protetor da relação e demonstração de interesse pelo outro. É possível até, em alguns casos, verificar um aumento do desejo associado ao ciúme, motivado pela competitividade”. Porém, acrescenta que “os sujeitos que manifestam níveis de ciúme mais baixos são aqueles que se encontram mais insatisfeitos, o que coloca a hipótese da ausência de ciúme não ser tão positiva como muitas vezes se ouve no senso comum, pois poderá evidenciar a falta de interesse pelo outro e o desinvestimento na relação. Este aspeto pode ser pior do que ter um companheiro ciumento”.

Carla e Miguel, 36 e 33 anos, já sofreram na pele o incómodo do ciúme excessivo: “A Carla não acreditava em nada do que eu dizia e quando a apanhei a ver o meu telemóvel tive de dar um basta e colocar limites, sob pena de o nosso casamento de 5 anos terminar. A confiança é fundamental e eu até me considero uma pessoa ciumenta, mas a Carla tornou-se quase obsessiva”. Em sua defesa, a companheira esclarece: “Era algo incontrolável e ainda me sinto insegura com a vida do Miguel que é jornalista e está sempre a viajar e a conhecer pessoas novas. Ele diz que também é ciumento, mas eu não noto….”.

A verdade é que a pesquisa a 1169 participantes revela precisamente que as mulheres são mais ciumentas e que se encontram menos satisfeitas a nível sexual. “Tal pode dever-se a uma maior facilidade que as mulheres têm em demonstrar o ciúme percecionado. Para elas, o sentimento parece emergir como uma estratégia de manutenção e proteção da relação”, refere a psicóloga.

Contudo, os sujeitos casados e com relações mais duradouras são aqueles que possuem níveis de ciúme menos elevados e com menor satisfação sexual. “A ausência de ciúme pode revelar perda de interesse ou a ideia de “bem-adquirido” que gera o comodismo. Todavia, os anos de convivência geram uma diminuição na perceção de ciúme pela partilha e confiança que se estabelecem entre o casal. E quando dizemos “tendem a ser menos ciumentas” não implica necessariamente a ausência total de ciúme. Assim, é necessário estar atento à conjugação com outros fatores, que serão indicativos de uma estabilidade positiva ou da mera acomodação”.

O casal entrevistado fala precisamente sobre a necessidade de manter a relação sempre viva e acesa: “Eu mudei o meu comportamento, porque o Miguel mudou o dele. Nunca achei correto estar a vigiá-lo, não era bom para ele, nem para mim que também tenho vida própria. Mas a minha dificuldade era controlar o pensamento e a verdade é que a nossa vida sexual estava longe de ser saudável”, refere Carla. Miguel admite, acrescentando que “passei a ter mais atenção às necessidades da minha mulher. A relação tem de ser alimentada, senão morre e não quero que isso aconteça. Estou a investir a cem por cento no nosso casamento e sinto-me realmente bem nesta nova fase”.

São casos destes que justificam a importância de estudos desta natureza, embora sejam ainda muito escassos. Sendo pioneira, Helena Canário assume a importância da pesquisa: “o estudo científico do ciúme só se justifica se daí se retirarem conclusões que contribuam para a compreensão dos relacionamentos humanos e especificamente dos relacionamentos amorosos. Este é um estudo pioneiro em Portugal, quer no que concerne à temática, quer no que respeita ao número de participantes, o que permite a retirada de conclusões gerais”.

8 de junho de 2012