Natural do estado do Wyoming, Todd começou a escrever em 1999. Para trás ficou uma carreira de 15 anos como comissário de bordo. Um percurso que sucedeu a uma infância difícil e mal compreendida pelos colegas de escola. Durante anos, Todd sublimou a sua veia artística até que, certo dia, em 1999, libertou-se o autor que se escondia atrás da pessoa tímida. Todd Parr esteve no nosso país recentemente a promover os seus livros para a infância. Todd é autor e ilustrador de mais de 60 livros, traduzidos para 20 idiomas e com vendas a superar os milhões de exemplares. No seu país, Todd dedica tempo a causas filantrópicas, muitas ligadas à causa das crianças. Também sabe o que é ver uma obra censurada. O seu O Livro da Família transcende a família clássica, mostra aos pequenos leitores que uma família com dois pais ou duas mães não tem de ser a exceção. Presentemente, o autor vive na Califórnia com os seus pit bulls adotados. Todd adora cozinhar, o que também nos motivou a pergunta: o que mais gosta da cozinha portuguesa? Uma entrevista a pretexto da visita do autor ao nosso país. Em Portugal, Todd Parr é publicada pela editora Zero a Oito.
Tal como em muitos outros países, em Portugal também se discute o tema crianças e ecrãs. De que forma vê o Todd Parr esta questão? Preocupa-o?
Sou um grande fã de tecnologia, mas também sou um grande fã de livros, especialmente os infantis. Há algo de especial em sentarmo-nos com alguém de quem se gosta e apreciar um livro com essa pessoa. Tal como a minha avó fez comigo noite após noite. Pergunta-me se a quantidade crescente de ecrãs me preocupa? Não. Quanto mais acesso as crianças tiverem a plataformas que lhes transmitam histórias, melhor. Além disso, podem ‘transportar’ todos os livros dos seus autores favoritos quando viajam com a vantagem de não terem de os carregar.
Que ingredientes deve ter um livro para, neste mundo digital, continuar a captar a atenção das crianças?
Nos meus livros procuro, sempre, acrescentar-lhes humor e diversão e que tenham ilustrações especialmente brilhantes, que transcendam e ‘saltem’ das páginas e se aproximem dos leitores.
Está entre os mais prolíficos e vendidos autores de livros para crianças. Que responsabilidade lhe traz esta notoriedade?
A de nunca esquecer o meu público e a necessidade de lhes transmitir mensagens com significado, enquanto os faço rir.
De que forma pode a literatura infantil ajudar as crianças a compreenderem e aceitarem a diferença e a promoverem a inclusão?
Com os meus livros quero incutir um sentido de confiança nas crianças desde tenra idade e deixá-las perceber que devem acreditar em si mesmas. Que está tudo bem por serem quem são, que se devem amar a si mesmas e perceberem que são fortes. Em minha opinião, há que equipar as crianças com o máximo de ferramentas para que possam enfrentar o mundo exterior.
Quais foram os livros que mais contribuíram para a sua formação enquanto autor?
Green Eggs and Ham (Ovos Verdes e Presunto), de Dr. Seuss [pseudónimo do escritor norte-americano Theodor Seuss Geisel], Go Dog Go, de Philip Dey Eastman e Where the Wild Things Are (O Sítio das Coisas Selvagens), de Maurice Sendak.
Os livros que escreve e ilustra são aqueles que gostaria de ter na sua biblioteca quando era criança?
Fiquei muito feliz lendo e relendo Dr. Seuss e Maurice Sendak, mas julgo que as ideias que transmito nas páginas dos meus livros me teriam ajudado a sentir melhor comigo mesmo em criança.
O Todd Parr é um lutador. A sua vida profissional iniciou-se numa outra área. Quis mudar e venceu. Quer contar-nos um pouco esse seu percurso?
Sim, sou um lutador, tive de o ser. Tive uma infância muito difícil. Acho que tudo começou quando eu estava no segundo ciclo e tive de repetir de ano porque não sabia ler. Muitas crianças gozaram-me por esse facto. Essa experiência inspirou-me a escrita de It’s Okay to be Different (Não Faz Mal Ser Diferente). Também percebi que adorava desenhar. Certo dia vi anunciado um concurso na seção infantil do jornal de domingo. Tudo o que precisava de fazer era desenhar o Snoopy deitado em cima da sua casota de cão. Os meus pais não acreditaram que eu conseguisse desenhar à mão livre. Em consequência, rasguei o papel onde tinha feito o desenho.
Naquele tempo, ninguém percebeu que eu era disléxico. Recordo-me que queria abrir um restaurante TacoTime. Ao longo de um ano trabalhei numa loja de discos. No terceiro ciclo, só gostava da aula de arte. Mais tarde, fui comissário de bordo da United Airlines ao longo de 15 anos. Gostei daquele trabalho e da possibilidade de viajar e ver muitas coisas. Nos meus tempos livres, comecei novamente a pintar. Algumas de minhas obras de arte chegaram a restaurantes famosos em São Francisco. Em paralelo, estava a criar alguns designs especiais para produtos expostos numa loja de departamentos. Também desenhei para roupa de bebé. Nessa época, conheci os meus futuros agentes. Em conjunto, decidimos expor no Licensing Expo, na cidade de Nova Iorque. Nesse contexto um editor da Little, Brown and Company perguntou-se se não queria escrever livros infantis. E tudo começou.
O Livro da Família (The Family Book) é uma das obras ilustradas mais proibidas no seu país. O que sente um autor quando a sua liberdade de expressão é assim limitada?
Não é agradável, mas não me vou esconder por escrever sobre crianças que têm duas mães ou dois pais, num livro que foi banido. As crianças precisam ver os seus diferentes contextos retratados nos livros. Acredito que isso as torna mais fortes e confiantes. Não se pode, simplesmente, escrever um livro sobre famílias e dizer que certas famílias não podem estar nessa obra porque isso pode incomodar alguém. Acredito que os meus livros ajudaram muitas crianças, o que compensa todo o barulho, ódio e medo que envolveu a sua publicação. Nada disso é um impedimento.
O Todd Parr está envolvido em causas sociais. Por exemplo, ajuda empresas e organizações a promoveram a alfabetização. Quer contar esta sua atividade aos portugueses?
Estou envolvido em causas filantrópicas que apoiam a adoção de animais de estimação, o combate à fome das crianças, a sua saúde e a alfabetização. Também promovo encontros de leitura e arrecado fundos para a Casa Ronald McDonald. Participo no conselho de administração do Festival do Livro Infantil da Virgínia, assim como ajudei o Banco Alimentar de São Francisco-Marin, entre outros. Acredito que temos de cuidar de nós mesmos e ajudar o próximo em tudo o que pudermos.
Sei que é um apreciador de massa com queijo. Portugal é um país com uma excelente cozinha. Traz na sua lista algum prato que queira experimentar?
De facto, o meu prato favorito quando era miúdo era macarrão com queijo. É um prato muito americano. Adoro cozinhar e experimentar comida de todo o mundo. Esta é a minha segunda visita a Portugal e não me recordo de comer uma má refeição. Adoro a vossa cozinha, especialmente o Arroz de Marisco e o Queijo Serra da Estrela. E, claro, o vosso peixe.
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