A 12 de novembro de 2008, quando fez 37 anos, as filhas e a mulher de Dave Bruno ofereceram-lhe duas vagens de baunilha e umas escovas para o limpa-para-brisas do carro. Os presentes seriam estranhos para o comum dos mortais, mas não para Dave Bruno que, nesse dia, iniciava uma experiência de vida peculiar. Servir-se, durante um ano, de um máximo de 100 objetos pessoais. Uma forma de se libertar do materialismo excessivo dos dias que correm.
A ideia para a criação do livro «O Desafio das 100 Coisas», publicado em Portugal pela editora Pergaminho, tinha surgido mais de um ano antes. «Foi uma de várias reações ao sentimento perturbador que me assolava após viver durante anos uma vida recheada de tralha em vez de satisfação. Após ter alcançado uma versão considerável do sonho americano e continuar a ambicionar mais e mais», confessa.
Na altura, dedicou-se a definir os contornos da experiência, desde a quantidade de objetos às regras da sua seleção. «A regra número um determinava que o desafio era um sacrifício pessoal, não algo que pretendia impor aos outros, sobretudo à minha família», recorda. A regra número dois, que seriam bens inteiros e não partilhados. Por exemplo, a cama de casal não entraria na contagem.
Uma filosofia que está em voga
Em novembro de 2016, oito anos depois, a empreendedora Marian Salzman incluiu o livro de Dave Bruno na lista de tendências para 2017, apregoando o regresso ao desapego, ao despojo e à simplicidade que este preconiza. No livro que escreveu e que ainda hoje mantém a pertinência, o autor fala, sem pruridos, sobre o seu conjunto de roupa predileto para trabalhar «quando recebia cerca de 100.000 dólares por ano», cerca de 86.000 €, na consultora que pertencia ao pai.
Apesar de ter voltado costas ao consumismo desenfreado e ao luxo excessivo, revela que foi das ferramentas de marcenaria que mais lhe custou abdicar ou não fossem elas o símbolo da fantasia para sempre adiada de se tornar mestre artesão. E é assim que «uma experiência maluca de viver uma vida frugal», como a caracteriza, se transforma numa autêntica jornada de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.
«Tem que ver com libertar espaço das nossas vidas. Livrarmo-nos de coisas que nos assoberbam e distraem. E usar esse espaço para coisas boas nas nossas famílias, comunidades», justifica. Um desafio que, garante, «não é para qualquer um», pelo que aconselha quem quiser replicá-lo a colocar-se uma questão. «Sente-se, sinceramente, incomodado todos os dias pelo facto de possuir demasiada tralha?», interroga.
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