O estudo, pioneiro em Portugal e no estrangeiro, mostra que nos últimos 10 anos o discurso oficial nas universidades portuguesas se tem tornado mais igualitário e inclusivo, e há um maior reconhecimento público da necessidade de combater desigualdades (de género e não só) no meio académico. No entanto, este discurso oficial igualitário coexiste com uma cultura não-oficial marcadamente sexista. Em conversas de corredor, reuniões fechadas, em associações de estudantes e em muitas salas de aula, é possível observar diariamente formas mais ou menos explícitas de discriminação, ridicularização e menorização das mulheres e das pessoas lésbicas, gays, bissexuais e trans (LGBT), e da investigação científica que elas desenvolvem.
Estas manifestações de sexismo são extremamente preocupantes porque têm efeitos muito nocivos a vários níveis: limitam o conhecimento científico que é produzido, reduzem a qualidade da formação universitária, condicionam o sucesso e oportunidades académicos de muitas mulheres e pessoas LGBT, e afetam a sua saúde e auto-estima.
O estudo recorreu a entrevistas com 40 cientistas e estudantes, e a observação em mais de 50 eventos científicos nas ciências sociais e humanidades entre 2008 e 2009, e entre 2015 e 2016. A análise é pioneira nomeadamente porque se centrou não só nos discursos, documentos, números e políticas oficiais, mas também nas culturas de corredor, isto é nas interações informais, menos visíveis. Desta forma, foi possível revelar a existência de um intenso sexismo diário, mas oculto. Este sexismo é expresso muitas vezes através de humor, ou de uma “cultura de gozo”. Este humor é visto como uma prática isolada e inofensiva de alguns indivíduos, mas ele é, de facto, uma prática mais generalizada e extremamente nociva, com efeitos muito graves, como este estudo científico vem agora demonstrar.
A autora apresentará os resultados deste estudo no dia 6 de Julho, quinta-feira, às 18.00, no simpósio “Sexismo nas Universidades Portuguesas”, a decorrer no Centro de Cultura e Intervenção Feminista de Lisboa em Alcântara (mais informação em baixo). O simpósio contará também com intervenções de outras oradoras, incluindo Thais França (investigadora no ISCTE-IUL, tem estudado o sexismo e racismo dirigido a mulheres cientistas imigrantes em Portugal), representantes da Associação de Estudantes da FCSH-UNL que denunciaram no mês passado episódios chocantes de sexismo no Encontro Nacional de Dirigentes Associativos de 2017 em Viana do Castelo, Virgínia Ferreira (Professora na Universidade de Coimbra, Presidente da Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres, e especialista das relações sociais de sexo no mercado de trabalho) e Teresa Fragoso (Presidente da CIG - Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género).
Numa semana em que se celebram os muitos sucessos da ciência portuguesa no Encontro Ciência 2017, é importante debater também o sexismo que continua a estruturar a vida de cientistas e estudantes nas universidades portuguesas, e reconhecer que esse sexismo afeta a qualidade do conhecimento e formação científica que se produz em Portugal.
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