Embora haja quem as negue, as mudanças climáticas são reais. O aumento crescente e generalizado das temperaturas tem vindo a revolucionar a nossa vida, dando origem a mudanças muitas vezes impercetíveis. Em 2003, os jornalistas John Vidal e Paul Brown escreveram um artigo no jornal britânico The Guardian onde abordaram a questão. 15 anos depois, muitas das preocupações não poderiam ser mais atuais.
1. O peixe
A subida da temperatura da água do mar afastou os peixes que gostam de águas mais frias e atraiu os que preferem correntes marítimas mais quentes, uma situação que também condiciona a vida dos que se dedicam à pesca. Segundo a organização não-governamental World Wide Fund for Nature (WWF), o aumento de 1º C é o suficiente para afastar bacalhaus, solhas, hadoques e eglefins entre 225 a 650 quilómetros para norte.
"Têm havido avistamentos mais frequentes de espécies [de peixes de águas quentes na costa inglesa], como é o caso do tubarão-martelo e do peixe-porco. Temos assistido também a um aumento nas capturas de peixes do sul, mais raros [a norte], como a tainha-vermelha, o sargo e o choco", escrevem os jornalistas. Em consequência disso, os preços dos peixes que fogem para norte têm vindo a aumentar.
2. A agricultura
As temperaturas mais quentes das últimas décadas têm obrigado muitos agricultores a mudar de culturas. Nalgumas regiões da Europa, o milho e o girassol ganharam maior espaço. "Nos últimos 20 anos, o número de colheitas recolhidas com vestígios de secura aumentou de forma acentuada", asseguravam os jornalistas. Em muitas explorações avícolas, os picos de calor têm sido associados a uma maior mortalidade das aves.
3. Os edifícios
À medida que os terrenos vão secando, as alterações climáticas estão a afetar as fundações dos edifícios. Uma situação que muitas das pessoas que vivem em prédios nem sequer imagina. "O governo [britânico] está a considerar [aprovar] nova legislação, sobretudo para os prédios mais altos, para que possam resistir aos ventos mais fortes [que também se têm vindo a registar]", anunciavam John Vidal e Paul Brown.
4. As vindimas
Primaveras e verões que chegam tendencialmente mais cedo e com maior calor aceleram o desenvolvimento das uvas nas vinhas. Nos últimos anos, em vários locais da Europa, incluindo algumas regiões de Portugal, as vindimas passaram a ser feitas entre uma a duas semanas antes das datas em que tradicionalmente, noutros tempos, se pegava nas tesouras e nos cestos. As ameaças climatéricas também aumentaram.
5. A saúde
As alterações climáticas também estão a interferir com a saúde dos cidadãos. "A comunidade médica (...) foi avisada para contar com menos mortes relacionadas com o frio do inverno mas [em contrapartida] com mais mortes provocadas pelo calor e pelo cancro de pele", informavam os jornalistas britânicos. O número de alergias também tem vindo a aumentar de forma progressiva nos últimos anos.
6. As inundações
A subida do nível do mar, provocada pelo degelo dos pólos, é outra realidade indesmentível, como alertam inúmeros especialistas. "Uma década de chuvas repentinas, tempestades ferozes, inundações e explosões de nuvens prolongadas, todas consistentes com o aquecimento global, levaram o governo a aumentar os gastos com a defesa de inundações em centenas de milhões de libras", alertavam. Nos últimos 15 anos, o panorama não melhorou.
7. O consumo de energia
Temperaturas mais quentes no verão e invernos mais rigorosos acabam por nos fazer ligar mais os aquecedores e os aparelhos de ar condicionado. Também tem sido essa a sua realidade nos últimos anos? "As empresas de eletricidade e [as que desenvolvem soluções de] aquecimento solar afirmam que a procura disparou", escreviam John Vidal e Paul Brown em 2003. Em 2018, a realidade não difere muito.
8. Os insetos
Invernos com temperaturas mais quentes do que as que se registavam em séculos anteriores também têm tido impacto na sobrevivência de insetos como os pulgões. Uma situação que tem forçado muitos agricultores a ter de pulverizar as plantações mais cedo. Os jornalistas do The Guardian anunciavam ainda a chegada de "uma nova gama de insetos, vespas e aranhas" ao território britânico.
9. A seca
Não era um dos tópicos do artigo de John Vidal e Paul Brown mas já estava indiretamente presente na análise dos dois jornalistas. Um estudo do Helmholtz Centre for Environmental Research (UFZ), um centro de investigação ambiental alemão sediado em Leipzig, afirma que, em consequência das alterações climáticas, pode secar metade do sul europeu. O número de meses secos por ano também vai crescer significativamente.
10. Os incêndios
São outra das consequências das alterações climáticas, apesar de John Vidal e Paul Brown não lhe terem dado um lugar de relevo na sua análise. "O problema das alterações climáticas e da secura [ajudou a criar] condições convergentes para provocar fenómenos com os quais não tínhamos convivido antes", afirmou o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, em declarações à Rádio Renascença no final da última semana.
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