Trocar um estilo de vida sedentário por uma vida ativa é um ótimo princípio, mas para praticar atividade física de forma regular e usufruir dos seus benefícios, é muito importante cuidar do corpo. Como Podologista, cabe-me alertar para os cuidados a ter relativamente aos pés. 

A prática de exercício físico contribui para o bem-estar físico e psicológico, diminui o risco de diversas doenças, como a obesidade, a diabetes tipo 2 e as doenças cardiovasculares, ajudando a fortalecer os ossos, os músculos e as articulações. Contudo, não podemos cair no erro de desvalorizar os riscos de uma má prática desportiva e da ausência de um acompanhamento profissional, quer do ponto de vista preventivo, quer na presença de alterações, problemas e lesões. 

O Dia Mundial da Atividade Física é uma iniciativa da Organização Mundial de Saúde, que tem como principais objetivos combater os comportamentos sedentários, promovendo o exercício físico e o seu impacto positivo na saúde. No entanto, adjacentes à prática desportiva encontram-se alguns problemas podológicos, que com a adoção de medidas preventivas podem ser menos frequentes.

Em primeiro lugar, gostaria de falar sobre o pé de atleta, uma designação que se deve ao facto de este ser um problema comum em atletas, uma vez que os balneários e chuveiros reúnem as três condições favoráveis à proliferação dos fungos: baixa luminosidade, calor e humidade. A sua patologia mais frequente é a micose nos dedos e nos pés, provocando sintomas que incluem comichão, vermelhidão, fissuras, descamação da pele e mau cheiro. Além desta sintomatologia, a dor e a presença de bolhas de água ou pus são possíveis manifestações em casos mais graves. Utilizar chinelos nos vestuários e duches partilhados, fazer uma correta higiene diária, usar sapatilhas arejadas e que permitam uma boa ventilação, assim como secar bem os pés com a toalha, e em especial os espaços entre os dedos, são precauções a ter.

As calosidades podem também afetar os pés dos desportistas, em sequência, quer da fricção e pressão exercida durante o exercício físico, quer da utilização de um calçado apertado e inadequado à atividade praticada. Em resposta a essa “agressão”, desenvolve-se uma protuberância de tonalidade amarela, pela formação de uma camada espessa de células mortas. Para evitar as calosidades, é essencial uma hidratação diária, através da ingestão de uma quantidade suficiente de água e da aplicação de um creme ou loção hidratante, após o banho, uma vez que a pele estará limpa com os poros dilatados.

A prática de atividade física com sapatilhas apertadas potencia ainda a onicocriptose, reconhecida como “unha encravada”, uma vez que se verifica uma compressão dos dedos e uma maior pressão nesta região, fazendo com que a unha cresça dentro da pele circundante do dedo, perfurando-a. Escolher uma sapatilha adaptada à largura e morfologia do pé, de forma a conseguir mexer livremente os dedos, com uma margem de aproximadamente um centímetro entre o dedo grande e a ponta do sapato, bem como cortar as unhas em linha reta são ações preventivas.

Em resultado da inflamação da fáscia plantar, uma banda de tecido fibroso que liga o calcanhar aos dedos, a fasceíte plantar é um problema relativamente comum no universo desportivo, particularmente nos desportos que envolvam corrida, devido à elevada tensão e uso excessivo da fáscia plantar, responsável por absorver os choques no impacto do pé contra o solo. Para escapar a esta que é uma das causas mais comuns de dor na planta do pé e o motivo mais comum de dor no calcanhar, é crucial a realização de exercícios de aquecimento.

O aquecimento é também muito importante para prevenir a entorse do tornozelo, tal como os exercícios de alongamentos. Ocorrendo na sequência de uma queda, desequilíbrio ou salto que leva a uma rotação extrema do membro inferior e a uma sobrecarga dos ligamentos, a gravidade desta lesão depende do número de ligamentos afetados e se ocorreu, ou não, rutura dos mesmos.

A escolha das meias é igualmente importante para evitar eventuais problemas nos desportistas. Quanto ao material, as meias devem ser de fibras naturais, preferencialmente de algodão, que ajudam a absorver a humidade, diminuindo o risco de infeções. Para praticar atividade física sem bolhas, que são resultantes do atrito entre as sapatilhas, as meias e os pés, deve substituir-se as meias grossas e rijas por meias sem costuras e adequadas ao tamanho do pé.

Se as recomendações não forem suficientes para evitar estes problemas nos pés, em caso de dores frequentes e aos primeiros sinais de alarme, consulte um Podologista para uma análise, diagnóstico e tratamento adequado, capaz de precaver complicações subsequentes. Os atletas devem, pelo menos, de seis em seis meses recorrer a este profissional, de forma a prevenir e tratar alterações nos pés que podem colocar em causa a sua performance desportiva. Este especialista pode ainda aconselhar o paciente relativamente à escolha do calçado e avaliar a possibilidade de confeção de palmilhas personalizadas.

Um artigo de opinião de Francisco Oliveira Freitas, podologista responsável pelo Centro de Podologia de Famalicão.