É uma tendência que tem vindo a aumentar nos últimos anos. Em Portugal, ainda não é significativa mas, lá fora, as queixas, as reclamações e os protestos das associações de defesa dos animais são proporcionais à procura, crescente. A socialite norte-americana Paris Hilton é apenas uma das celebridades que costuma surgir em público com os seus animais de estimação adornados com joias, roupas e acessórios luxuosos.
Há, no entanto, quem não se contente apenas com complementos exóticos. Nos últimos anos, sobretudo nos EUA, no Brasil e na Rússia, aumentou consideravelmente o número de pessoas que sujeitaram as suas mascotes a tatuagens, aplicação de brincos, argolas no nariz e piercings e ainda a procedimentos cirúrgicos invasivos para melhorar a sua aparência. Um negócio que movimenta 60 milhões de euros por ano.
Há quem faça implantes de testículos em cães e gatos e quem lhes mande modificar o aspeto do nariz ou das orelhas. Os liftings aos olhos também surgem na lista de cirurgias estéticas mais procuradas. Um estudo da seguradora inglesa Petplan revelou que, só entre 2007 e 2010, a procura deste tipo de serviços cresceu 25%, gerando, na altura, negócios que rondavam os dois milhões de euros. A diferença é abismal.
Os russos que queriam o cão igual ao do filme
Na internet, não faltam, no entanto, fóruns que condenam este tipo de práticas. Apesar de serem controversas, muitos veterinários consideram algumas delas necessárias para a saúde e o bem-estar dos animais, sobretudo nos casos em que lhes previnem ou tratam problemas de saúde. Outros apontam, contudo, alternativas que devem ser privilegiadas para os proteger dos excessos de alguns donos.
A lista de procedimentos cirúrgicos mais chocante e surpreendente inclui a substituição de olhos de animais feridos em acidentes ou com problemas de lacrimejo ocular por olhos de vidro (terminator eye), a implantação de facetas dentárias em cães, o branqueamento dos pelos do focinho e rinoplastias e liftings em cães e cavalos. Um casal russo foi notícia por querer baixar as orelhas do seu jack russell em 2017.
Queria que ficasse parecido com o cão do filme «A máscara», protagonizado pelo ator Jim Carey. Existem mesmo online vários simuladores de cirurgia estética em animais. Um dos mais famosos é o Plastic Surgery Simulator, disponível em www.plastic-surgery-simulator.com e em aplicação móvel, que permitem visualizar previamente o resultado de algumas das transformações pretendidas.
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Os procedimentos estéticos mais requisitados
Apesar de não existirem dados oficiais, muitos veterinários internacionais asseguram que, a par dos gatos, os cães são os animais mais submetidos à cirurgia estética. Os buldogues franceses, os pugs e os shar peis são das raças mais intervencionadas. «Nem todos os procedimentos que fazemos são cosméticos», sublinha, contudo, o cirurgião norte-americano Jeff Werber. Estes são os mais pedidos:
- Remoção cirúrgica das unhas dos gatos
É uma das operações mais cruéis, apesar de ser a mais praticada em todo o mundo. Em vez de treinar os gatos para não arranharem os sofás ou para evitar que deixem marcas no soalho, muitos donos mandam amputar as garras dos animais. Nalguns casos, são retiradas as unhas, os nervos, os músculos e os tendões. Noutros são removidos todos os ossos. Este tipo de cirurgia é geralmente praticado apenas em gatos e implica anestesia geral.
O procedimento mais comum, que implica a remoção apenas da terceira garra da pata do animal, deve ser feito antes do gato atingir os seis meses, independentemente da raça. Para evitar esta cirurgia, há veterinários que recomendam a colocação de uma protecção plástica por baixo da unha, para evitar arranhadelas inconvenientes.
- Implantes de testículos em silicone
A castração de animais provoca-lhes problemas de autoestima, garantem donos mais ciosos. Para ultrapassar o problema, empresas como a Neuticles, a mais antiga do setor, desenvolveram testículos de silicone solidificado, que são fabricados para ser implantados em vários tipos de animais, incluindo bois, zebras e cavalos, apesar de serem mais aplicados em cães e gatos.
A moda não é nova. Só entre 1995 e 2011, a companhia vendeu testículos de silicone para mais de 250.000 animais em todo o mundo. «O cão lambe-os como se fossem verdadeiros e não lhes reage como se fossem um corpo estranho», assegura um dos donos que recorreu a esta prática, no fórum de um site especializado norte-americano.
- Corte da cauda
É uma prática com objetivos meramente estéticos que também é praticada em Portugal. Nalguns países, já foi proibida, mas noutros continua a ser autorizada. Deve ser feita entre os três e os cinco dias e não implica a administração de anestesia. Se não for realizada nessa altura, só o poderá quando o animal já for capaz de suportar a administração de substâncias anestéticas, uma vez que é mais dolorosa numa fase posterior.
As raças de cães rottweiler, dobermann, pinscher, fox terrier, corgi e poodle são as mais submetidas a este corte, que pode gerar complicações posteriores no caso da cicatriz não sarar convenientemente. A Associação Americana de Medicina Veterinária (AVMA) tem defendido o fim desta prática por questões meramente estéticas.
Veja na página seguinte: Lifting facial canino e encurtamento de orelhas
- Lifting facial canino
Muitos dos procedimentos estético-cirurgicos a que os cães são submetidos não se destinam apenas a melhorar a sua aparência. Muito comum em raças com o nariz grande, como os buldogues, os liftings faciais caninos e as rinoplastias destinam-se, sobretudo, a ajudar os animais a respirar. Muitas raças têm tantas camadas de pele no focinho que o excesso de tecido cutâneo pode gerar-lhes desconforto e até infeções. A zona do nariz, o espaço à volta dos olhos e os lábios são as áreas mais intervencionadas.
- Encurtamento de orelhas
Muitas raças de cães de orelhas caídas sofrem muito com o seu tamanho. O brasileiro Edgard Brito foi o primeiro cirurgião plástico a desenvolver com êxito um processo de encurtamento do órgão auditivo canino, injetando Restylane, um gel de ácido hialurónico que alisa a pele usado em humanos para reduzir o volume de rugas. Em raças como os boxers e os dobermann, o corte de orelhas e do rabo é praticado há séculos.
O recorte da orelha é feito apenas por questões estéticas em boxers, grand danois, dobermanm, pinschers, terriers e american pitbulls. Este procedimento deve ser feito entre as 10 e as 14 semanas e implica anestesia geral. As orelhas do animal são cortadas de modo a que, em vez de caírem para o lado, se mantenham sempre eretas.
- Redução mamária canina
Depois do nascimento de uma ninhada e do consequente processo de amamentação das crias, muitas cadelas ficam com a pele que lhes rodeia os seios e o ventre flácida. Para contrariar o problema, muitos donos recorrem a este procedimento cirúrgico para a reduzir e alisar.
Top 10 das cirurgias estéticas em animais
Esta é a lista compilada pelos especialistas do site Cosmetic Surgery Guru.com:
1. Remoção cirúrgica das unhas dos gatos
2. Implantes de testículos em silicone
3. Corte da cauda
4. Rinoplastia canina
5. Redução mamária canina
6. Corte de orelhas
7. Lifting facial canino
8. Colocação de próteses oculares
9. Cirurgias para remover objetos ingeridos pelos animais
10. Implante de facetas dentárias em cães
Texto: Luis Batista Gonçalves
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