Em declarações à agência Lusa, o presidente da CVRA, Francisco Mateus, indicou que os produtores do Alentejo estão “bastante preocupados” com a situação de seca que a região atravessa, pois caiu, desde novembro, “uma quantidade de chuva muito curta”.
“São menos de dois terços do que tivemos no ano passado”, estimou o responsável, salientando que as vinhas do Alentejo beneficiaram apenas de “um terço da água” que costumam obter em “situações normais”.
Francisco Mateus previu que, se continuar sem chover, a próxima campanha vitivinícola vai “correr mal”, visto que as plantas vão ter “menos força” e uma “formação de cachos pior”, com “menos cachos ou cachos com menos uvas”.
“Isto põe em causa o trabalho dos viticultores e, depois, mais para a frente, poderá pôr em causa a produção de vinho”, alertou, depositando, porém, as esperanças de maior pluviosidade nos meses de março e abril.
Segundo o presidente da CVRA, tal como a ausência de chuva, as temperaturas amenas que se registam para esta época do ano também não são benéficas para a vinha, já que as plantas, que agora estão em “dormência”, precisam de mais frio.
“Se vier água, as consequências podem ser minimizadas, mas, se não vier, podemos ter um ano francamente mau para a vinha e sabemos que normalmente um ano mau para a vinha tem reflexos nesse ano e no seguinte”, sublinhou.
O responsável adiantou que as zonas de Portalegre e de Vidigueira (Beja) registaram, entre novembro de 2021 e janeiro deste ano, um aumento da temperatura média de “cerca de um grau” em relação ao mesmo período do ano passado.
“Estamos a assistir a fenómenos em que chove menos vezes, mas, quando chove, chove de forma muito intensa e isso também acaba por, às vezes, estragar as culturas” e levar à ocorrência de “arrastamento do solo”, notou.
Considerando prematuro fazer agora uma previsão da próxima campanha, Francisco Mateus remeteu uma “estimativa sobre o número de cachos” ou se os cachos estão “mais ou menos carregados” para junho, mês em que ocorre a “floração da vinha”.
O presidente da CVRA observou que no setor vitivinícola alentejano já foram implementadas medidas para permitir maior poupança de água, no âmbito do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA).
A utilização das águas residuais para a rega, o uso eficiente da água com a quantidade que as plantas necessitam ou a colocação de coberto vegetal nas vinhas para se preservar a humidade dos solos e os proteger da erosão são alguns dos exemplos.
O PSVA, que já deu origem a uma certificação inédita em Portugal, o “selo” de Produção Sustentável, tem como objetivo melhorar as práticas utilizadas nas vinhas e adegas, produzindo uvas e vinho de qualidade e economicamente viáveis.
Criada em 1989, a CVRA é responsável pela proteção e defesa da Denominação de Origem Controlada (DOC) Alentejo e da Indicação Geográfica Alentejano, certificação e controlo da origem e qualidade, promoção e fomento da sustentabilidade.
O Alentejo é líder nacional em vinhos certificados, com cerca de 40% de valor total das vendas num universo de 14 regiões vitivinícolas em Portugal.
Com uma área de vinha de 22,9 mil de hectares, 30% da sua produção tem como destino a exportação para cinco destinos principais, designadamente Brasil, Angola, Estados Unidos da América, Polónia e China.
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