Os números são preocupantes. Mais de oito milhões de toneladas de plástico vão parar ao fundo dos oceanos todos os anos, representando 80% do lixo acumulado no mar. Em média, 300.000 toneladas dos 330 milhões destes materiais orgânicos poliméricos sintéticos de constituição macromolecular que são produzidos por ano em todo o mundo chegam ao mar Mediterrâneo anualmente. Entre 15% a 31% da poluição marinha que provocam provém dos microplásticos.

Cerca de 20% do peixe da costa portuguesa já ingere essas substâncias nocivas, alertam os especialistas. 450 anos é, em termos médios, o tempo que uma garrafa de plástico demora a decompor-se mas, apesar dos consecutivos e insistentes avisos dos ambientalistas, ainda são muitos os que, nos dias que correm, continuam a ignorar esta realidade. Do que está à espera para reduzir a quantidade de plástico que usa? Há gestos simples que dependem apenas de si!

Os números não enganam e, por isso mesmo, está na altura de prescindir desse material. Talvez esteja a pensar que será apenas necessário recorrer a plástico reciclável, mas pode e deve fazer muito mais no seu dia a dia. Siga os conselhos que William McCallum reuniu no livro "Viver sem plástico", publicado pela editora Objectiva, bem como as recomendações de Ana Milhazes, criadora do blogue Ana, Go Slowly e autora do livro digital gratuito "Guia Desperdício Zero".

Os cuidados a ter quando for às compras

Tenha sempre consigo um ou mais sacos para ir às compras. Os de pano, como os que a marca Mazurca fabrica à mão e comercializa, dobram-se e não pesam na sua carteira. O problema é que, quando vai às compras, o plástico está em todo o lado e há vários alimentos embalados e pré-confecionados... O primeiro passo para os evitar é comprar a granel. Nesse caso, opte por levar frascos de vidro, que pode reutilizar, para colocar cereais, leguminosas, massas e arroz.

Para a fruta e os vegetais, leve sacos de rede ou de organza, como os que também encontra na loja física e no site Maria Granel. Outra opção é usar os sacos de papel que algumas lojas já têm. Habitue-se ainda a comprar café a granel, em vez das cápsulas. Use plantas secas para fazer chá em vez das saquetas, que também contêm plástico. Mas há mais embalagens que deve evitar usar, como as dos pacotes de batatas fritas e as de bolachas, só para dar dois exemplos.

Os produtos reutilizáveis que deve privilegiar

Em vez de comprar garrafas de plástico, opte por usar garrafas reutilizáveis em aço inoxidável como as da Klean Kanteen ou as de vidro da Flaska. As palhas de plástico são outro utensílio que deve substituir e também aqui não faltam opções. Pode escolher entre as de aço inoxidável de marcas como a Pegada Verde, as de bambu da Sapato Verde, as de massa alimentar ou ainda as palhas comestíveis, biodegradáveis e personalizáveis, vendidas pela marca espanhola Sorbos.

Para evitar usar os talheres de plástico no quotidiano, pode ter sempre consigo um kit de bambu como os que a Círculo Bio comercializa e até os seus próprios pauzinhos, à venda na Yoyoso. Outro dos utensílios que deve ter sempre à mão para combater o desperdício de plástico que marca a sociedade em que vivemos é um copo de vidro ou de fibra de bambu, outro material aconselhado, assim como um pano para embrulhar comida de rua, em vez de usar guardanapos.

As soluções de limpeza que os ambientalistas recomendam

Use panos reutilizáveis em vez de toalhitas ou de esponjas e opte por detergentes ecológicos. Em vez de utilizar detergentes comuns para as limpezas do quotidiano, recorra a alguns dos produtos que costuma ter habitualmente em casa, como é o caso do vinagre, do limão e do bicarbonato de sódio, para reduzir o recurso a detergentes químicos. Em vez de ambientadores com aromas artificiais, pode utilizar cascas de citrinos, como pode ver nesta galeria de imagens.

Os hábitos de higiene pessoal a rever

Em vez de champôs líquidos, de embalagens de gel de duche, de desodorizantes e de pastas de dentes, que costumam ser embalados em recipientes de plástico, opte pelas suas formulações sólidas, como é o caso dos champôs sólidos à base de ervas perfumadas que a Castelbel comercializa, embalados em papel e cartão. E, da próxima vez que tiver de trocar de escova de dentes, opte por uma de bambu, que marcas como a Natura e a Círculo Bio já comercializam.

Sabia que o fio dentário também pode ser feito de produtos naturais como cardamomo, carvão e menta, como é o caso dos que a Mind The Trash, empresa criada pela arquiteta Catarina Matos, vende? Evite também os cosméticos com microesferas, como os esfoliantes, que contaminam as águas, como alertam os ambientalistas. Opte ainda por discos de algodão reutilizáveis para retirar a maquilhagem, por esponjas naturais para esfoliar e por cotonetes de bambu e algodão.

Quanto ao papel higiénico, procure marcas com embalagens em papel, como é o caso da Renova. Troque os pensos higiénicos comuns pelo copo menstrual ou pensos reutilizáveis, que também encontra em lojas digitais especializadas como a Sapato Verde. Faça o mesmo com as fraldas. Já há várias marcas que desenvolvem e/ou comercializam fraldas reutilizáveis. As de pano, usadas antes da massificação das descartáveis, são outra das soluções recomendadas.

A roupa que deve vestir e o calçado que deve calçar

Uma grande percentagem da roupa que compramos contém fibras sintéticas, como é o caso do poliéster e do nylon, que integram na sua composição microplásticos que vão parar ao mar, não só quando a deitamos fora, mas também quando a usamos e lavamos. Para minimizar este flagelo ambiental, o ideal é usar sacos para máquina de lavar, como os que são vendidos pela empresa alemã Guppyfriend, que retêm essas microfibras e não utilizam componentes nocivos.

"Tirando o fecho, esses sacos são produzidos num material que não é tratado nem tingido e também não contém aditivos", garante a companhia. E, quando precisar de uma nova máquina de lavar roupa, compre uma equipada com filtro para aquelas partículas. O ideal é habituar-se a comprar menos roupa, a arranjar a roupa velha sempre que possível e ainda a comprar peças de vestuário em segunda mão, além de optar por materiais naturais como a lã, o algodão e a seda.

Se tem dificuldade em resistir às tendências, privilegie empresas que apostam em propostas de moda sustentável, como é o caso da coleção Conscious da H&M ou até mesmo em marcas de roupa e de calçado vegan, como é o caso das portuguesas Rise Clan, Balluta, Zouri e Good Guys Don't Wear Leather e da espanhola Muroexe, disponível em Portugal na Degrau. A Nae, marca vegan, usa plástico reciclado, microfibras biodegradáveis, cortiça ou fibras de folha de ananás.