As atuais preocupações ambientais, económicas e até sociais pressionam os projetistas e os decisores, obrigando-os a encontrar soluções para os espaços mais sustentáveis integradoras de estratégias que definam as melhores soluções para cada local. Estes deverão ser capazes de assegurar uma maior perenidade dos materiais utilizados, quer sejam naturais ou inertes. Mas não apenas. Deverão também garantir ainda menores necessidades de manutenção entendidas.
Além da redução do consumo de água e de energia, é preciso garantir a redução da aplicação das quantidades de adubações, de fertilizações e de tratamentos fitossanitários, assim como a minimização da quantidade de resíduos produzidos. A redução dos consumos energéticos é um dos aspetos mais prementes e, nos jardins, este aspeto deve ser ponderado, quer no ato de construção quer ao longo da manutenção, quer seja de forma direta ou feito indiretamente.
Na manifestação de grandes movimentos de terras ou na utilização de materiais que incorporam energia no seu processo de transformação e/ou de reciclagem ou ainda no elevado número de cortes que se aplicam sobre os relvados, sobre as podas em árvores ou no transporte de resíduos para vazadouros, há toda uma série de fatores que antes eram, muitas vezes, menosprezados e até ignorados pelas entidades competentes e que agora importa valorizar convenientemente. A poupança de água e a preservação de solos de qualidade, dado serem recursos naturais escassos, são outros dos fatores fundamentais a ponderar no âmbito do projeto e/ou numa manutenção sustentável.
A qualidade ecológica é, cada vez mais, uma das permissas a ter em conta e a almejar nos conturbados e exigentes tempos que correm. É neste contexto que se devem desenvolver os programas para construção de espaços verdes associados ao edificado, como é o caso de coberturas verdes, de paredes verdes e de jardins interiores, bem como de jardins públicos ou privados, de parques urbanos e de parques metropolitanos e até mesmo de hortas e de matas.
Espaços onde, como defendem inúmeros especialistas, a preservação da água, dos solos e da flora autóctone, sempre na perspetiva de conservação de um banco de genes, se deve associar às questões do recreio, ativo ou passivo, ao lazer e à educação ambiental das populações. Desenhar espaços sustentáveis não inviabiliza o recreio das populações nem a qualidade estética da paisagem, muito pelo contrário. Diversifica os usos, e a qualidade visual e ecológica dos espaços.
Além disso, a criação desse tipo de espaços estimula as ligações com os diferentes recintos permeáveis. No que diz respeito à existência de espaços verdes construídos com preocupações ambientais, existem bons exemplos na Europa e, a título de exemplo, gostaria de referir o Parque Urbano de Avioso, situado na Maia, na Área Metropolitana do Porto, com uma área de cerca de 30 hectares, que é fruído por um público vasto e onde foram preservados os sistemas naturais presentes no local. As linhas de água e os solos foram preservados, praticamente não se efetuaram movimentos de terras, tal como sucedeu com a vegetação.
As regras de construção utilizadas garantiram a proteção da vegetação autóctone, assim como o controle das zonas a regar, que foram definidas em função dos recursos hídricos disponíveis à data. As atuais capacidades técnicas e financeiras de que dispomos para intervir no território tornam-nos ignorantes no modo de nos relacionarmos com a paisagem e com os sistemas que a constituem, exercendo uma ação excessivamente brutalista, por vezes, em muitas das situações.
Em muitos casos, tanto cá dentro como lá fora, em vários países, isso foi feito olhando para as características do território como condicionantes, em vez de as considerar como potencialidades. Por que se tem que alterar a topografia em vez de tirar partido do relevo? Por que não se podem minimizar os movimentos de terras e preservar os solos, as linhas de água, o coberto vegetal existente? Por que se definem e/ou desenham áreas de regadio extensas com elevados consumos de água para os quais muitas vezes não existe o recurso água? Por que é que não se definem os programas e/ou os projetos apenas depois de avaliadas as aptidões do território ou as capacidades dos recursos naturais existentes e as características específicas dos locais em questão?
Se estes aspetos fossem mais ponderados, teríamos arquiteturas da paisagem, urbana, rural e florestal ou, de acordo com o conceito do prestigiado arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, a paisagem global, mais sustentáveis. Outras das áreas sobre as quais se terá de refletir prendem-se com as resultantes das dinâmicas da evolução dos territórios urbanos, onde espaços anteriormente ocupados se tornam progressivamente degradados ou obsoletos.
Atingem essa condição perdendo as funções que desempenhavam no passado. Além desses, há aqueles que resultam agora, nos tempos atuais, em interstícios esquecidos na voracidade continua e inesgotável da construção. Ao se olhar para estes lugares numa perspetiva de sustentabilidade, encontramos um grande potencial e valor, uma vez que podem ser criados jardins de proximidade, muitas vezes surgindo de dinâmicas das coletividades locais.
Para além desses, podem ser originados espaços de regeneração natural e até mesmo hortas urbanas, através de projetos com um baixo nível de complexidade e de custos controlados, cujas soluções resultam substancialmente do aproveitamento das potencialidades dos espaços existentes. São, em todas as regiões da terra, vários os exemplos de parques ou de zonas verdes de proteção que nasceram a partir de vazios ou de espaços que foram ocupados pelo edificado.
Espaços que tiveram, ao longo do tempo, a capacidade de se regenerar, per si, através de processos naturais, constituindo hoje áreas de grande valor ambiental possíveis de integrar na estrutura ecológica municipal ou regional e manifestando elevada aptidão para o recreio. Hoje, com as atuais crises de crescimento das cidades, as grandes condicionantes financeiras, os problemas energéticos e de produção alimentar, o aquecimento global e a futura crise da água potável que a curto prazo se irá fazer sentir, tem-se necessariamente que desenhar parques, jardins, hortas e matas que reflitam novos paradigmas, onde a preservação dos recursos naturais e da biodiversidade sejam aspetos fundamentais e quando possível associados à produtividade.
Estes paradigmas imperativos, aos quais não poderemos fugir e teremos de dar resposta em tempo útil, terão igualmente que ser capazes de gerar diferentes tipologias de recreio e devem estimular o homem urbano dos tempos atuais, que se quer alimentar, que quer respirar, que quer brincar ou apenas descansar ou relaxar, que quer praticar desporto ou reaprender a viver com a natureza, a viver de forma mais sustentável nos locais onde vive, habita e trabalha.
Texto: Laura Roldão Costa (arquiteta paisagista e professora universitária)
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