“Se reduzirmos o consumo de carne também se ´libertam’ terras para outras culturas, o que aliviaria muito os ecossistemas e melhoraria a segurança alimentar em todo o mundo”, disse Martin Bruckner, professor associado da Universidade de Economia de Viena e um dos autores do estudo.
Citado pela agência de notícias Efe, Martin Bruckner salientou que essas “terras libertadas” poderiam capturar cerca de 100 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), o que ajudaria a limitar o aquecimento do planeta a 1,5 graus celsius em relação à época pré-industrial, uma das metas do Acordo de Paris (2015) sobre o clima e reafirmada na última cimeira da ONU sobre aquecimento global, em Glasgow, no final do ano passado.
O estudo, intitulado “Dietary change in high-income nations can lead to a double climate benefit” (A mudança da dieta nas nações ricas pode levar a um duplo benefício climático), analisa o impacto ambiental da chamada dieta para a saúde planetária, elaborada por cientistas, em 54 países de elevado rendimento.
A dieta baseia-se especialmente em vegetais e num menor consumo de produtos animais, açucares e gorduras saturadas.
Embora a produção de verduras e hortícolas também desempenhe um papel no aumento do aquecimento global, os investigadores propõem várias estratégias para a tornar menos prejudicial para o ambiente.
“A forma mais óbvia e simples de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa é reduzir as principais fontes, nomeadamente a criação de animais (particularmente gado bovino), a produção de arroz e a alteração do uso do solo”, disse Martin Bruckner.
De acordo com o estudo, se os países mais ricos reduzissem o consumo de carne, a terra de cultivo poderia voltar ao seu estado natural, sequestrando 100 mil milhões de toneladas de CO2, o equivalente a cerca de 14 anos de emissões totais da agricultura.
No entanto de acordo com Martin Bruckner, a eficácia das medidas, bem como os resultados da investigação, são limitados pelas atuais políticas agrícolas da União Europeia (UE).
“O pré-requisito para tal é que as áreas libertadas não sejam utilizadas para outros fins, como a produção de bens de exportação ou outras matérias-primas agrícolas, o que é bastante improvável”, lamentou.
A UE é o maior exportador mundial de carne de porco e de produtos de carne de porco. Só a Alemanha, a Espanha e a França são responsáveis por metade desta produção, observa o estudo.
Se estes países não reduzirem a produção e reconhecerem com “honestidade” a gravidade da situação, “o mundo será incapaz de limitar o aquecimento global a 1,5 graus”, advertiu o responsável.
E acrescentou: “Ou os países ocidentais reduzem o consumo de carne de forma controlada ou as alterações climáticas irão, mais cedo ou mais tarde, reduzir a produção global de alimentos e forçar o mundo inteiro a reduzir o seu consumo”.
A mudança nas dietas, inevitavelmente associada à mudança política, requer uma abordagem conjunta às políticas de reforma agrária e medidas climáticas, explica o estudo.
Segundo o documento, as políticas também devem considerar novas fontes de rendimento para os países exportadores de carne, como o Brasil ou a Argentina, que de acordo com Martin Bruckner “terão de encontrar outras fontes de rendimento para os seus produtores agrícolas, que nas últimas décadas cresceram rapidamente e destruíram grande parte dos ecossistemas, como a Amazónia ou o Cerrado”.
“Evitar uma catástrofe climática exigirá mudanças nos nossos estilos de vida e economias, mais mudanças do que comprar produtos locais e colocar painéis solares nos telhados dos edifícios”, disse.
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