Rita Godinho, de 27 anos, é uma jovem determinada que persegue os seus sonhos com o entusiasmo intacto da idade. Depois dos colares, das pulseiras e dos anéis, seguir-se-á a roupa, e a coleção já está toda na sua cabeça.

Acabou o curso de Comunicação Social há quanto tempo?
Licenciei-me em 2007, na Variante Digital e Interativa, na Universidade Católica. Estagiei no portal da revista Visão e acabei por ficar lá dois anos e meio a trabalhar. Depois optei por estar um ano como freelancer, trabalhei na produtora do Carlos Alberto Moniz durante poucos meses, até que surgiu o convite para ser coordenadora do portal Sapo Fama, cargo que exerci durante um ano, até janeiro, altura em que decidi seguir os meus sonhos.

O jornalismo não correspondeu às suas expectativas?
Desiludiu-me muito. De facto, não me identifico com a forma como o jornalismo está a ser praticado atualmente. Estes cinco anos foram importantes para crescer a nível profissional e pessoal, fica a experiência, mas é um capítulo que pretendo encerrar. Na minha vida não consigo estar em nada pela metade e há tantas coisas que gosto de fazer realmente que resolvi tentar a minha sorte nesta área.

Começou por criar peças de bijutaria para si?
Desde pequena que faço as minhas coisas e as pessoas perguntavam-me invariavelmente onde as tinha comprado. Agora que estou desempregada, resolvi que seria uma boa altura de começar a partilhar as peças que crio com todas as mulheres.

E assim começa a dar asas à sua veia criativa?
Desde os 16 anos que o faço, mas nessa altura dedicava-me mais a fazer brincos. Cheguei a participar em duas pequenas exposições e o balanço final foi muito positivo! Entretanto comecei a namorar, entrei para a faculdade, depois veio o trabalho e acabei por deixar este hobby um pouco de lado, mas o bichinho ficou… Desde pequena que dizia aos meus pais que queria ter uma marca minha, eles riam-se porque achavam que não passava de conversa fiada, mas agora que viram que é a sério apoiam-me incondicionalmente e valorizam o facto de estar a lutar pelo que quero.

O nome da marca já existia?
Surgiu em junho, numa animada troca de ideias com a minha mãe. Como adoro brincar com as palavras e com o seu duplo sentido, e já tinha decidido que o nome teria de estar ligado à beleza feminina, resolvi pegar na expressão “be you” e nas palavras “beautiful” e “butterfly”, por me transmitirem a ideia de uma bela mulher a voar, e nasceu a Be.Utifly. O slogan da marca: “Be U and let your Beauty fly”, surgiu poucos minutos depois.

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Pelo caminho ficou a dança que era outra das suas paixões?
Ainda vou dançando, mas agora só por distração. Tive pena de não dar continuidade à dança mais a sério e sinto imensas saudades de pisar um palco, mas uma lesão nas costas impediu-me de fazê-lo. Pratiquei aeróbica de representação dos 8 aos 23 anos, participei em algumas competições e como os treinos eram um pouco duros, acabei por sofrer várias lesões que ficaram para sempre, esta na coluna foi apenas uma delas.

Ainda tem aulas com regularidade?
Infelizmente já não, porque o tempo não dá para tudo. Agora danço salsa, kizomba e bachata, estilos muito menos agressivos para a coluna, mas já não faço aulas. Aprendi as bases há três anos e de vez em quando saio à noite para dançar e praticar no social com os meus amigos. Confesso que tenho pena de já não dançar tanto, mas a vida é mesmo assim, fecha-se um ciclo e começa-se outro.

O entusiasmo agora está todo neste projeto de acessórios e que rapidamente se estenderá à roupa...
Sem dúvida. A ideia inicial era mesmo começar só com roupa, mas depois resolvi voltar às origens e aproveitar a marca para vender os meus acessórios. E agora é isto que eu quero mesmo fazer. Quem sabe, dentro de pouco tempo, possa vir a ter a minha loja, de preferência na Baixa, um dos meus locais de eleição em Lisboa, que se chamará igualmente Be.Utifly...

E como surgem as ideias para as peças?
Felizmente tenho muitas ideias e inspiro-me nas coisas mais banais, um bom exemplo disso é o facto de aproveitar inúmeros materiais de escritório e de construção para fazer os meus colares. Sempre gostei, desde pequenina, de ir alterando uma ou outra peça de roupa… chegava a casa pegava numa tesoura e, sem a minha mãe ver, mudava alguma coisa só para ficar diferente.

Quem lhe ensinou a coser?
Foi a minha avó. Foi com ela que aprendi a coser e a bordar. A minha mãe, pelo contrário, não tem muito jeito, e por isso ficava (e ainda fica) admiradíssima comigo. De facto, desde pequena que não resisto a dar um toque pessoal às minhas coisas.

E a roupa que vai criar é glamorosa ou para o dia a dia?
Eu própria oscilo muito entre dois estilos: tanto me visto de uma forma descontraída, como gosto de andar mais elegante, depende do meu estado de espírito. Mas o meu objetivo é, acima de tudo, vender roupa com que me identifique e que seja acessível a todas as bolsas.

Onde é que as pessoas podem ver as suas peças?
Por enquanto, só mesmo na página da marca no Facebook, à qual podem aceder através do link www.facebook.com/be.utifly.pt

Segue alguma tendência de moda?
Pesquiso muito na internet, leio muitas revistas, mas confesso que não vou muito atrás das tendências. Prefiro guiar-me pelo meu gosto. A única coisa que tento seguir mais são as cores, no verão procurei fazer peças mais alegres, agora no inverno irei criar peças em tons mais sóbrios.

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Faz mesmo questão de fazer coisas diferentes?
Essa é a minha maior motivação, fazer peças únicas, diferentes, femininas e a preços acessíveis. Quero mimar as mulheres com peças exclusivas, pois sei que todas gostamos de ter algo que mais ninguém tem.

Dentro da bijutaria tem uma peça preferida?
Em tempos eram os brincos, mas atualmente tenho maior preferência por colares e anéis. E é muito bom ver que os meus estão a fazer sucesso. Faço peças para todos os gostos, umas mais irreverentes, outras mais simples. Eu, por exemplo, identifico-me com as menos elaboradas, mas reconheço que as mais excêntricas, talvez por serem diferentes, agradam a um maior número de pessoas.

Quanto custam as suas peças?
Os anéis custam cinco euros, as pulseiras entre oito e dez euros e os colares oscilam entre os 15 e os 18 euros.

Trabalha quantas horas por dia?
Sinceramente não sei. Às vezes estou 14 horas seguidas a trabalhar e não dou pelo tempo passar... Tenho o maior prazer no que estou a fazer e, pelo menos por enquanto, ainda não me preocupo muito com o tempo.

É um trabalho muito solitário...
Quando vou às lojas vejo e falo com as pessoas e isso é bom. Em casa é um trabalho solitário, sem dúvida, mas, enquanto jornalista também sempre trabalhei na parte da internet, por isso estou habituada a estar mais isolada do mundo real. Mas estou muito feliz por este projeto me proporcionar fazer várias coisas que gosto ao mesmo tempo: crio peças minhas, estou ligada à área da moda e comunico diariamente com todo o tipo de pessoas através da internet e não só.

O jornalismo está definitivamente arrumado?
O jornalismo sim. Mas não fecho as portas ao mundo da escrita e da comunicação. Adoro comunicar com as pessoas e adoro escrever. Tenho um livro escrito desde o fim da faculdade, que surgiu de um filme que fiz como projeto final de curso e que se chama “À Margem da Sociedade”. Tenho pena de não fazer alguma coisa com ele, mas, pode ser que um dia ainda venha a editá-lo...

É mais uma paixão...
Sem dúvida. Tenho cinco paixões: a minha família, a dança, a música, a escrita e os meus amigos.

Um hobby?
Ir à praia, ao ginásio, ao cinema, ler um bom livro e estar com os amigos. Uma boa conversa é estimulante.

Está otimista?
Sempre. Apesar da fase menos positiva que o país está a atravessar e de a marca ainda ser muito recente, as coisas já começam a correr bem, até já tive algumas encomendas para fora do país. Estou confiante de que o futuro que se avizinha será risonho para mim e para todos nós.

 

Texto: Palmira Correia