O regresso às aulas é uma altura do ano em que muitas famílias sentem dificuldades em gerir o seu orçamento familiar. Afinal, após o período das férias de verão, são vários os encargos a suportar com a educação dos filhos. E este aumento de despesas acaba por levar algumas famílias a ponderarem recorrer a um crédito.

No entanto, é preciso ter em conta que, ao pedir um crédito para o regresso às aulas, vai ter de pagar juros, impostos e comissões. E se já tem alguns financiamentos contratados, pode acabar por ficar com uma taxa de esforço muito elevada ou até correr o risco de ficar em incumprimento.

Assim, neste artigo, saiba alguns cuidados que deve ter ao contratar um crédito no regresso às aulas e algumas soluções para evitar esta opção.

Faça um orçamento e certifique-se que precisa mesmo de um crédito

Pedir um crédito para pagar os encargos com a educação dos seus filhos vai ter um impacto no seu orçamento familiar durante vários meses. Logo, antes de se precipitar a tomar uma decisão, siga primeiro estes passos.

  • Faça um levantamento do valor que precisa para cobrir as despesas de educação dos seus filhos.
  • Olhe para o seu orçamento familiar e veja se é possível direcionar uma parte das suas poupanças ou fazer um corte nos gastos não essenciais para cobrir estas despesas. Analise também se existem outras formas de reduzir os gastos com os seus encargos escolares para evitar pedir um crédito no regresso às aulas.
  • Caso nenhuma das soluções seja viável e tenha mesmo de recorrer a um crédito, tenha em conta que esta solução não deve ser um hábito. O ideal é que todos os anos direcione um valor fixo para uma poupança capaz de cobrir os encargos com o regresso às aulas, evitando assim a contratação de um novo crédito.

Calcule a sua taxa de esforço

Para ter a certeza de que um novo crédito não vai pesar em demasia no seu orçamento familiar, deve calcular antecipadamente a sua taxa de esforço, que reflete o peso das prestações de crédito no rendimento líquido do agregado familiar. Se esta for superior a 50%, o Banco de Portugal indica que as instituições financeiras não devem conceder um novo financiamento.

Para calcular a sua taxa de esforço, utilize a seguinte fórmula: Taxa de esforço = (Montante Total de prestações financeiras / rendimento mensal líquido do agregado familiar) x 100

Caso precise de ajuda com os cálculos, recorra ao simulador de taxa de esforço.

Opte por um crédito pessoal em vez de um cartão de crédito

Se precisa de um financiamento para suportar as despesas com o regresso às aulas dos seus filhos, recorrer a um cartão de crédito não é a solução mais vantajosa para si. Afinal, os cartões de crédito são financiamentos com taxas mais elevadas em comparação a qualquer tipo de crédito pessoal.

Como organizar as finanças pessoais no regresso das férias
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Nos créditos ao consumo, cada tipo de financiamento tem uma taxa máxima específica definida pelo Banco de Portugal trimestralmente. No 3.º trimestre de 2024, as TAEG máximas permitidas são:

  • 9,2% no crédito pessoal com finalidade Educação, Saúde, Energias Renováveis e Locação Financeira de Equipamentos;
  • 15,8% nos outros créditos pessoais (sem finalidade específica, lar, consolidado e outras finalidades);
  • 19,2% nos cartões de crédito, linhas de crédito, contas correntes bancárias e facilidades de descoberto.

Isto significa que, se o seu objetivo se enquadrar na finalidade de educação, mesmo que o banco aplique a TAEG máxima, existe uma diferença de 10 pontos percentuais em comparação à utilização de um cartão de crédito.

Esteja bem informado sobre as condições do seu crédito pessoal

Antes de contratar um crédito pessoal, deve estar a par das suas condições contratuais, como a maturidade, montante máximo financiado, comissões e impostos.

Prazo máximo

Em termos de maturidade, legalmente, o crédito ao consumo tem dois tetos máximos estabelecidos. Num crédito pessoal sem finalidade específica, o prazo não pode ultrapassar os sete anos. Caso este seja para fins de educação, o prazo pode ser estendido até um máximo de 10 anos.

Limites de financiamento

Já no que respeita ao montante de financiamento, existem mínimos e máximos estabelecidos. Em termos gerais, pode aceder a um crédito ao consumo a partir de 200 euros, sendo que o valor máximo não pode ultrapassar os 75.000 euros.

Contudo, o valor financiado vai estar condicionado aos seus rendimentos e ao seu endividamento. Por exemplo, se os seus rendimentos líquidos forem de 2.000 euros, os encargos com créditos podem totalizar no máximo 1.000 euros.

Comissões e impostos

Tenha em conta que existem outros custos associados além da sua prestação mensal. Se contratar um crédito pessoal vai ter de pagar uma comissão relacionada com a abertura do processo ou tratamento da documentação.

A somar a este valor, tem ainda de pagar o imposto de selo. Este imposto incide sobre comissões e juros e varia consoante o prazo do financiamento.

Compare, antecipe imprevistos e esteja atento para não cair em burlas

Caso esteja decidido a contratar um crédito pessoal para pagar os encargos com o regresso às aulas, saiba que existem alguns cuidados a ter, como:

  • Não aceite a primeira proposta que recebe. Peça propostas a várias entidades, leia as condições presentes na FINE e compare os valores do MTIC e da TAEG de cada proposta.
  • Avalie se consegue pagar as prestações deste novo financiamento caso surja um imprevisto. Se o seu orçamento já estiver muito apertado com o pagamento de vários créditos, pode acabar numa situação de sobreendividamento.
  • Não contraia mais nenhum financiamento até conseguir saldar os créditos que têm uma maturidade menor.
  • Caso o valor total das suas prestações com créditos esteja muito elevado, informe-se sobre a possibilidade de recorrer a um crédito consolidado, pois pode conseguir reduzir o valor das suas mensalidades até 60%.
  • Certifique-se de que a instituição de crédito que vai conceder-lhe o seu financiamento é legítima. Para saber se a entidade está autorizada a exercer este tipo de atividade, esta tem de fazer parte da lista de entidades aprovadas pelo Banco de Portugal.