Pedro Santos, especialista em investimentos, foi uma criança poupada e um jovem adulto gastador e despesista. Pedro soube mudar e desse exercício de alterar o rumo da sua vida nos dá conta no seu livro Aprender a Investir (edição Contraponto). Em poucos anos, o criador do projeto digital Ser Riquinho passou da prisão das dívidas para uma confortável posição de investidor. Pedro contrariou o mindset que nos diz “o dinheiro é a raiz de todos os males”; “quem é rico certamente chegou lá a enganar outras pessoas”. O autor também contrariou outra frase-feita: “Investir na bolsa é tão arriscado quanto jogar no casino”. Pedro Santos fez-se investidor. Estudou a matéria e hoje fala em “reformar-se” antecipadamente. À conversa com o especialista em investimentos, procuramos a resposta a questões como a de quebrar o aparente ciclo interminável de viver a cada mês para um ordenado mínimo. Como criar um fundo de maneio? Como iniciar um investimento? Como crescer financeiramente? Eis algumas das perguntas a que Pedro Santos nos responde.
O seu livro abre com uma frase marcante “uma criança poupada transformou-se num jovem consumista”. Quer partilhar connosco, brevemente, o porquê para esse caminho e as consequências a que levou?
O facto de ter tido um bisavô muito presente na minha infância, e que tinha a característica de ser extremamente poupado e regrado, teve uma grande influência na minha mentalidade e personalidade. Qualquer dinheiro que ia recebendo, tanto no Natal, aniversários ou mesadas guardava dentro de uma gaveta, mesmo sem ter nenhum objetivo para ele. Tinha apenas a noção de que poupar era algo positivo e que o devia fazer.
No entanto, quando entrei para a faculdade, os meus hábitos financeiros mudaram radicalmente. Em questão de poucas semanas, a vida académica fez-me passar de um rapaz tímido e que adorava poupar dinheiro, para alguém que era o primeiro a dizer “sim” a qualquer convívio e não se importava de gastar tudo aquilo que tinha.
Quando comecei a trabalhar e a receber um ordenado, é evidente que as consequências dessa mudança de mentalidade foram devastadoras. Parecia que o dinheiro queimava na minha carteira, e por isso não o podia deixar lá por muito tempo. Tinha de o gastar. Lembro-me até hoje do que fiz com o meu primeiro salário, no valor de 800€. Assim que caiu na conta, fui direitinho a uma loja comprar um iPhone. Tão depressa o dinheiro entrou, quanto saiu. Como ainda morava em casa dos meus pais e não tinha grandes despesas, achava que estava a tomar a melhor decisão. Além disso, fui reparando que toda a gente à minha volta tinha hábitos financeiros semelhantes aos meus, portanto, só podia estar correto. Passei a acreditar que poupar dinheiro era absolutamente inútil.
Há um momento em que o Pedro Santos percebe que tem de parar. O que o levou a isso e que estratégia delineou?
O meu choque de realidade aconteceu aos 25 anos, quando eu e a minha namorada da altura, atualmente a minha esposa, decidimos começar a morar juntos. Ela vivia num sótão minúsculo de uma moradia, e eu em casa dos meus pais. Inicialmente ainda fui morar com ela, mas como a casa era tão pequena, começou a tornar-se insustentável. Então, começámos à procura de uma casa um pouco mais espaçosa, que pudéssemos comprar ou arrendar. E aqui surgiu o primeiro dos problemas: como ambos vivíamos uma vida de “chapa-ganha, chapa-gasta”, não tínhamos praticamente poupanças nenhumas que pudéssemos usar para dar de entrada numa casa, além de que os nossos salários mal esticavam até ao fim do mês, e por isso, era muito difícil conseguirmos arrendar uma casa mais cara do que o sótão onde estávamos a viver. Foi nesse ponto que eu “dei um murro na mesa”, e decidi que a nossa vida, dali para a frente, tinha de mudar. Estávamos sem poupanças, com várias dívidas e péssimos hábitos financeiros. Comecei a dedicar os meus serões a estudar sobre finanças pessoais, comprei vários livros, fiz vários cursos online, vi muitos vídeos no YouTube, e quando senti que já tinha algum conhecimento, delineei um plano de ação: sem sermos demasiado radicais, tínhamos de cortar algumas despesas, liquidar as dívidas, criar um fundo de emergência, começar a poupar dinheiro todos os meses e investir essas mesmas poupanças.
Com disciplina, consistência e muita determinação, em pouco mais de dois anos a nossa vida mudou radicalmente. Aos 25 anos era o dinheiro que me controlava a mim e aos 27 era eu que controlava o dinheiro. E isto, sem radicalismos e sem deixar de ter uma vida social. Apenas por cortar os excessos e pôr em prática hábitos consistentes e disciplinados. Hoje, aos 31 anos, já alcancei praticamente metade do património investido que preciso ter para me reformar antecipadamente.
Escreve que os portugueses têm uma má relação com o dinheiro. Como se traduz essa má relação?
Desde crianças que nos são transmitidas várias crenças limitantes em relação ao dinheiro. Crenças populares que nos fazem, desde cedo, olhar para ele como se fosse um vilão. Crescemos a ouvir os nossos familiares e educadores a dizerem frases do tipo: “O dinheiro é a raiz de todos os males”; “Investir na bolsa é tão arriscado quanto jogar no casino”; “Quem é rico certamente chegou lá a enganar outras pessoas”; “Se nascemos pobres, então vamos morrer pobres”; “Dinheiro não traz felicidade”; “O dinheiro não vai comigo para o caixão, por isso há que gastá-lo todo enquanto posso”; entre outras expressões.
Devido a essas crenças que se foram construindo, a maioria das pessoas vive no chamado ciclo de “chapa-ganha, chapa-gasta”. Vivem para satisfazer exclusivamente os seus desejos presentes, sem precaver minimamente o futuro. Basta pensar em quantos amigos nossos, que têm um salário relativamente baixo, mas que fazem questão de ter o último modelo do iPhone, mesmo que pago a várias prestações com juros; ou que vão passar as férias de verão para um resort com tudo incluído em Punta Cana e ficam a pagar viagem por dois anos; ou que compram um carro de gama alta para impressionar o vizinho e são obrigados a direcionar boa parte dos rendimentos mensais só para pagar o empréstimo. É o terrível hábito de viver um ou mais degraus acima das possibilidades e do bom-senso. Isso faz com que não consigam criar poupanças, o que lhes vai impedir de alcançar algum objetivo financeiramente maior no futuro.
A quem nos lê e vive em dificuldades financeiras poderá parecer-lhe uma impossibilidade aquilo que o Pedro escreve: “Como em três anos acumulei 40% do património de que preciso para me reformar”. É uma meta alcançável por qualquer pessoa?
Admito que três anos é um período muito curto para a maioria das pessoas conseguir acumular tal nível de património. Eu estive disposto a abdicar de muito conforto presente, a trabalhar 16 horas por dia e a dizer que “não” a muitos convites. Por ter misturado o empreendedorismo com o investimento, consegui multiplicar muito mais rapidamente o meu património. Ainda assim, eu conheço vários casos de alunos meus que, começando do zero, em três anos de jornada de investimentos, já conseguiram acumular entre 5 a 10% do valor que precisam para se reformar antecipadamente. Tendo em conta que não usaram uma estratégia tão agressiva como a minha, são valores extraordinários.
É possível poupar mesmo quando se vive com o ordenado mínimo nacional?
Eu acredito que poupar dinheiro está mais relacionado com a gestão que cada pessoa faz ao seu orçamento, do que propriamente com o salário que recebe. É claro que, teoricamente, é mais fácil poupar dinheiro com um salário de 2.000€ do que com o ordenado mínimo nacional. Mas já conheci dezenas de casos de pessoas com excelentes ordenados, mas que chegavam ao fim do mês com 0€ na conta. Por isso, mesmo ganhando pouco, se se souber fazer um controlo eficiente dos gastos, é possível poupar, nem que seja 50€ por mês. Juntando à poupança extra que se pode fazer com os subsídios de férias e de Natal, no final do ano é possível amealhar mais de 700€. Se mesmo assim, o dinheiro não esticar ao ponto de sobrar alguma coisa por mês, pode-se tentar algumas estratégias de poupança, como negociar o pacote de televisão e internet; mudar para um ginásio mais barato, ou mesmo treinar em casa; levar comida de casa para o trabalho; renegociar o crédito habitação de forma a baixar o spread; etc.
O seu livro também é sobre liberdade (ajuda-nos a sair da “prisão invisível). No caso vertente liberdade financeira. Para isso o Pedro diz-nos que há que mudar o mindset. Que mudança é essa?
Para sairmos da prisão invisível em que o sistema nos coloca só precisamos de uma coisa: ter consciência de que estamos dentro dela e ter vontade de sair. Poucas são as pessoas que conseguem sair, pois o sistema está montado para que sejamos consumistas e nos obriguem a endividarmo-nos para mantermos o padrão de vida que criámos. Todos os dias, nas redes sociais, na televisão, na rádio ou nas montras das lojas, somos confrontados com uma série de estímulos e gatilhos mentais que nos fazem querer comprar coisas e gastar dinheiro. E essas técnicas funcionam tão bem connosco porque gastar dinheiro liberta-nos dopamina — o neurotransmissor relacionado à sensação de prazer e motivação. Muitas vezes é uma sensação de curtíssima duração, mas o nosso cérebro está programado para ir atrás de comportamentos e situações que libertem dopamina no nosso organismo.
Então, a mudança de mentalidade está relacionada com quebrar o padrão e remar contra a maré. Está em deixarmos de gastar o nosso dinheiro com base na busca incessante por dopamina, mas em vez disso, sermos ponderados, criarmos um equilíbrio entre gastar e poupar, e passarmos a cuidar do nosso “eu” do futuro, colocando o nosso dinheiro a trabalhar para nós.
No seu livro fala-nos de dois vilões que lutam contra o nosso dinheiro. Que vilões são estes?
Todos os dias o nosso dinheiro luta contra dois vilões que nem nos apercebemos que existem: a inflação e a insustentabilidade da Segurança Social.
O primeiro, a inflação, diz respeito a um aumento generalizado do preço dos bens e serviços. Quando isso acontece, caso não façamos nada em contrário, o nosso dinheiro perde poder de compra. E em regra geral, a inflação anual em Portugal situa-se à volta dos 2%. Isto significa que, ao deixarmos as nossas poupanças paradas num depósito a prazo de um banco, como a maioria das pessoas assim o faz, a render perto de 0%, estamos efetivamente a perder poder de compra. O saldo dessas poupanças até pode ir aumentando à medida que vamos fazendo reforços, mas esse dinheiro cada vez compra menos coisas. É o velho sentimento de que “está tudo mais caro”. A melhor arma que temos para vencer esse vilão é tirar o dinheiro dos depósitos a prazo, e investi-lo em ativos financeiros, de forma a ter uma rentabilidade anual superior à taxa de inflação.
O segundo vilão, a insustentabilidade da Segurança Social, só é sentido numa fase tardia da nossa vida. Na prática, o sistema público de pensões acaba por funcionar num esquema em pirâmide, já que quem paga aos reformados de hoje são os trabalhadores de hoje, ou seja, os que estão ativos. Para que este seja considerado equilibrado e sustentável, é recomendado que existam pelo menos três trabalhadores por cada pensionista. No entanto, atualmente esse rácio é de apenas 1,3. Devia haver três trabalhadores ativos por cada pensionista, mas só existe pouco mais do que um. Portanto, devido a essa insustentabilidade, é muito previsível que as futuras gerações percam benefícios e que o valor das reformas seja cada vez menor. Aliás, de acordo com um estudo da Comissão Europeia, em 2050, é expectável que o valor da pensão de reforma ronde os 40% do último salário. É uma perda de qualidade de vida enorme, causada por um sistema à beira da rutura, da qual depende a velhice de milhões de portugueses. A melhor forma para nos protegermos disso é criarmos a nossa própria reforma. É sermos nós os responsáveis por garantirmos uma reforma de qualidade e confortável. Para isso, ao longo da nossa vida ativa, devemos poupar e investir uma parte do nosso salário, para criar esse tal complemento à pensão da Segurança Social.
Também nos fala de hábitos financeiros saudáveis. Quer dar-nos alguns exemplos?
Não existe uma fórmula mágica para conseguir poupar uma boa quantia por mês, mas existem alguns hábitos financeiros, que se forem implementados, podem realmente fazer magia.
Um desses hábitos é pagarmos, todos os meses, uma fatura ao nosso “eu” do futuro. É termos a consciência de que, para termos um futuro financeiro mais confortável e próspero, precisamos de abdicar um pouco do nosso conforto presente. Então, assim que recebemos o ordenado, devemos colocar imediatamente de lado uma parte do valor. A maioria das pessoas segue o seguinte fluxo: ganhar, gastar e só poupar o que sobra depois de gastar. Aqui a ideia é invertermos a ordem: ganhar, poupar e só gastar o que sobra depois de poupar.
Outro hábito financeiro saudável que podemos seguir é criar um orçamento financeiro e cumpri-lo à risca. O objetivo com esse orçamento é que, como é óbvio, as despesas sejam menores do que os rendimentos e que a diferença entre eles seja a taxa de poupança. No meu caso e da minha mulher, desde que começámos a revolucionar as nossas finanças, que decidimos organizar o nosso orçamento da seguinte forma: 50% dos rendimentos mensais vão para gastos essenciais; 30% vai para o nosso “eu” do futuro, ou seja, a tal fatura que falei; 10% vai para realizar desejos; e por fim, 10% vai para gastos livres. Esta é a organização que funciona melhor para nós e que nos permite ter uma vida equilibrada. É óbvio que o orçamento familiar de cada pessoa não tem necessariamente de seguir esta distribuição, mas é importante que seja composto por estas quatro camadas e que a fatia do futuro seja de, pelo menos, 10%.
Outro hábito financeiro, e este foi um dos que fez mais diferença na minha vida, é acabar com as dívidas. É largar autênticos fardos que carregamos às costas. Eu tenho a sensação de que a maioria das pessoas nem sabe qual é a taxa de juro que está a pagar pelos seus créditos. Apenas vê o valor da prestação a sair da conta no final do mês e não tem ideia do quão absurdos são os juros que está a pagar. Outro dos grandes problemas é o facto de as dívidas representarem um peso muito alto no orçamento e limitarem a taxa de poupança que se pode ter. Então, a melhor atitude a tomar é criar um plano para ir amortizando as dívidas, de forma a liquidá-las o mais depressa possível.
Por fim, e este é um hábito que muitas pessoas acabam por desvalorizar, é criar um fundo de emergência. Ele é um montante equivalente entre seis e 12 meses das despesas mensais essenciais, e que deve estar reservado exclusivamente para uma eventualidade ou um imprevisto.
Estes quatro hábitos, na minha opinião, são cruciais para ter uma vida financeira equilibrada e confortável.
Nem todas as pessoas têm um espírito empreendedor ou aceitam riscos. Investir não implica ambas as coisas?
Em Portugal, as pessoas foram ensinadas a serem conservadoras, a não tolerarem o risco e a fazerem aquilo que lhes mandam fazer. O sistema de ensino está parametrizado dessa forma. Por isso, os empreendedores e investidores representam uma fatia muito pouco expressiva da população no nosso país. Eu concordo que ser empreendedor é só para alguns “loucos” como eu que querem mudar o mundo. Mas ser investidor deve ser a regra geral. Porque é que nos EUA, mais de metade da população investe em ações? Porque foram educadas para tal. Como os portugueses não conhecem o que existe para lá dos depósitos a prazo, acham que é tudo uma nuvem cinzenta de complexidade e risco. No entanto, à medida que se vai estudando sobre investimentos e ganhando literacia financeira, vai-se tendo mais tendência para arriscar. O risco vem de não se saber o que se está a fazer.
Também vigora a ideia de que investir implica uma profunda literacia financeira, uma forte base de conhecimentos económicos e de mercados. É um mito ou há formas de investir sem que se detenha estas mais-valias?
Até há uns anos, talvez essa afirmação fosse verdadeira. Atualmente, não é preciso ser nenhum génio da economia ou da matemática para conseguir ter bons resultados nos investimentos, nem perder muito tempo a fazer análises. Basta fazer aquilo que se chama de “básico bem feito”. Aplicando os princípios que ensino no livro e investindo, por exemplo, em ETFs, qualquer pessoa pode facilmente criar uma carteira diversificada e equilibrada, a troco de pouquíssimos custos, e perdendo 5 minutos por mês.
É óbvio que rentabilidades passadas não são garantia de rentabilidade futura, mas se olharmos para os últimos 100 anos, qualquer ETF composto pelas 500 maiores empresas norte-americanas, teria garantido um retorno médio de 10% ao ano, já descontando a inflação, o que é incrível.
Portanto, mesmo sabendo apenas os conceitos e os princípios básicos dos investimentos, já é meio caminho andado para ser capaz de criar um património considerável a longo prazo.
Que conselho daria o Pedro Santos a alguém que quer dar os primeiros passos no investimento?
Benjamin Franklin, um dos Pais Fundadores dos EUA, uma vez disse que: “o investimento em conhecimento é o que rende maiores juros”. E de experiência própria, não poderia estar mais de acordo. Então, o melhor conselho que posso dar a alguém que esteja a começar no mundo dos investimentos é, numa primeira fase, ler livros como o meu, de forma a obter o máximo de conhecimento possível sobre o funcionamento do mercado financeiro. Mas como disse na resposta anterior, não vai ser preciso ser um autêntico especialista para dar os primeiros passos. Por isso, quando sentir que já domina os princípios básicos, avance. O tempo é o nosso melhor aliado na construção de um património considerável, portanto, não adie em demasia, com receio de ainda não ser a altura certa, pois esse momento nunca vai acontecer.
O que se entende por um portefólio de sucesso quando falamos de investimentos?
Pela minha experiência, um portefólio de investimentos, para ser bem-sucedido a longo prazo, deve seguir alguns princípios: ser diversificado, com um alto grau de descorrelação e protegido contra crises.
A diversificação é o nosso melhor escudo protetor face ao risco. Quando investimos numa única ação, por exemplo, estamos completamente dependentes do seu desempenho. Por outro lado, quando investimos em várias ações, caso uma caia bastante, estão lá todas as outras para amparar essa queda e fazer com que o portfólio não seja tão prejudicado.
Em relação à descorrelação, ela significa que, em média, os ativos do portfólio têm um grau baixo de correlação entre si. Vamos imaginar que investimos em ações do Bank of America e no JP Morgan Chase, os dois maiores bancos americanos. As ações de ambos têm um grau de correlação muito grande, pois fazem parte do mesmo setor, ou seja, quando uma valoriza 100%, a outra valoriza, certamente, mais de 80%. Por outro lado, quando investimos numa ação do setor de saúde e noutra do setor financeiro, o grau de correlação entre ambas é muito mais baixo.
Sobre o terceiro princípio, a proteção contra crises, ela consiste em tornar o portfólio numa autêntica arca de Noé, protegido contra as tempestades e turbulências do mercado. Matematicamente falando, é mais fácil perder dinheiro do que ganhar dinheiro. Supondo que temos 1.000€ investidos e sofremos uma queda de 50%, o que acontece é que o património cai para os 500€. Para recuperar a perda e voltarmos ao 1.000€, não podemos ter uma valorização de apenas 50%, igual à queda, senão ficávamo-nos pelos 750€. Precisamos sim de ter um ganho de 100%. Portanto, se construirmos um portfólio cuja alocação esteja preparada para nos fazer perder o menos possível em tempos de crise, conseguimos passar por essas alturas com muito mais tranquilidade.
São três pilares simples que, quando bem geridos, fazem toda a diferença.
Qual é para si o ensinamento mais importante que recebeu quando se fala de investimento?
Saber esperar. Através dos ensinamentos de grandes investidores, como Warren Buffett ou Ray Dalio, aprendi que, a forma mais fácil e segura de ganhar dinheiro nos investimentos, é torná-los o mais aborrecidos possível. O mercado financeiro é uma espécie de máquina que recompensa os pacientes e castiga os apressados. A nossa expectativa não deve ser investir hoje algum dinheiro, e amanhã termos o dobro. A tese de um verdadeiro investimento não é essa. Isso é especulação.
Quando compramos uma ação de uma empresa, por exemplo, só vamos ver o nosso investimento a crescer à medida que os resultados da empresa também forem crescendo. E esse não é um processo que acontece de um dia para o outro. Por isso, não vale de todo a pena passar os dias a abrir a corretora e a ver se já estamos a ganhar ou a perder dinheiro. Temos de ser pacientes, pois o longo prazo é o melhor amigo do nosso dinheiro.
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