Fez o décimo segundo ano do liceu em Lisboa e preparava-se para continuar a estudar, mas, entretanto, conheceu o pai dos filhos, e casou-se cedo.

Alice Mateus, de 56 anos, tem alma de empresária porque não há negócio onde se meta que não seja um enorme sucesso.

Apaixonada pelos filhos, que são o seu maior orgulho, sente-se feliz por ter conseguido educá-los sozinha nos melhores colégios de Lisboa.

Casou-se muito jovem?

Conheci o pai dos meus filhos quando saí do liceu. Ele estava a fazer o curso de engenharia, e eu decidi começar a trabalhar no escritório do pai de uma amiga minha. Tinha 19 anos. Os meus pais não queriam de maneira nenhuma, mas acabei por levar a minha avante, e um ano depois casei-me.

Os filhos nascem quando o seu marido já tinha terminado o curso?

Como comecei logo a sentir o apelo da maternidade - acho que nasci para ser mãe - o primeiro filho ainda nasceu durante o curso. É o João que hoje tem 33 anos. Vinte meses mais tarde nasceu o segundo filho, o Miguel, e, cerca de dois anos e meio depois, veio a Joana. Em cinco anos tive três filhos.

E quando surge a sua veia empresarial?

Acho que nasceu comigo. O meu pai não era rico, mas vivia bem e às vezes emprestava dinheiro aos amigos. Eu assistia a isso e a história mais engraçada passou-se quando eu tinha apenas seis anos: um amigo do meu pai queria comprar os terrenos da Quinta Grande, em Alfragide, mas não tinha dinheiro e foi pedir 200 contos emprestados ao meu pai.

E emprestou-lhe?

Esse amigo propôs ao meu pai o seguinte negócio: emprestava-lhe o dinheiro ele construía os prédios, e depois dividiam os lucros. E a resposta do meu pai foi imediatamente esta: “Oh homem para que é que eu quero esses montes!?... Leve lá o dinheiro e pague-me quando puder!” O que é facto é que esses montes renderam milhões e milhões e o meu pai limitou-se a receber os 200 contos que emprestou.

E meteu a colherada no negócio do seu pai?

Perguntei muito indignada ao meu pai se ele não cobrava juros!? E ele respondeu muito seguro de si: “Claro que não, sou um homem honesto, filha!” Foi aí que os meus pais começaram a perceber que eu era um bocadinho diferente deles.

Quando o seu marido terminou o curso de engenharia foi trabalhar para onde?

Foi convidado para ir para Companhia Nacional de Petroquímica que estava a arrancar nessa altura. Foi colocado em Lisboa mas entretanto aconteceu-nos uma grande desgraça familiar, morreu a minha única irmã com 22 anos, e o meu marido pediu transferência para Sines para nos afastar a todos de Lisboa.

Também trabalhou enquanto viveu na costa alentejana?

Foi a primeira coisa que fiz assim que lá cheguei: concorri e fui diretora financeira da empresa durante bastante tempo. Tínhamos dois bons ordenados e dois bons subsídios de deslocação e ganhámos lá muito dinheiro. Quando cheguei e Lisboa, comprei a minha primeira casa e decorei-a com uma das melhores decoradoras da época, tinha dois carros novos e a conta recheada no banco.

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É nessa altura que cria a sua primeira empresa?

Exatamente, e esse dinheiro que ganhámos em Sines foi uma grande ajuda. Como o meu ex-marido era engenheiro mecânico, criámos, em sociedade um com o outro, uma empresa de manutenção industrial que faturou muito dinheiro.

O que fazia essa empresa?

Reparávamos os maiores complexos industriais do país. O meu ex-marido era o diretor técnico e eu a diretora financeira. Chegámos a ter mais de 50 empregados. Nesta altura fiz um curso da AESE – Direção de Empresas, para não licenciados, no Hotel Ritz, e foi uma grande mais-valia porque me deu grandes conhecimentos, na área em que eu já trabalhava na minha empresa.

Essa empresa acabou?

Nem eu nem o meu ex-marido soubemos lidar com tanto sucesso. Ganhámos muito dinheiro mas a nossa relação em casa estava a deteriorar-se. Era casa trabalho, trabalho casa, mas eu não abdicava de às quatro horas deixar tudo o que estava a fazer para ir buscar os meus filhos ao Liceu Francês e levá-los às várias atividades extra-curriculares. O meu ex-marido embirrava com isso até que chegámos à conclusão que o melhor era cada um seguir o seu caminho.

E abre a sua própria empresa?

Montei a IMEXOL, uma empresa de importação-exportação e trouxe para Portugal os sanitários Gala e as torneiras YES, ou seja, consegui essas representações. Comprei um armazém e uma camioneta e comecei a trabalhar com tanto empenho que, seis meses depois, já vendia para o país todo.

O que a fez desistir desta empresa?

Jamais desistiria dessa empresa, até porque nessa altura já estava separada e precisava do dinheiro para criar os meus filhos. Mas um dia recebo um convite de dois amigos para almoçar e dizem-me que querem comprar a minha empresa. Perguntaram-me quanto é que eu quero por ela e eu mandei um número para o ar completamente absurdo, mas, no dia seguinte, já estavam a ligar-me para fazer a escritura.

Qual foi o negócio seguinte?

Meti-me no negócio da roupa. Um amigo estava a montar as lojas Pied Poule e desafiou-me a fazer um franchising. Como sou vaidosa e gosto muito de moda não pensei duas vezes. Pouco tempo depois já tinha comprado duas lojas e já estava a vender roupa para executivas. Adorei este negócio mas não tinha grande jeito porque comprava demais e ao meu gosto. Continuo a ganhar dinheiro com a roupa mas agora com o aluguer das lojas.

Até que se virou para o imobiliário?

O marido da minha melhor amiga é mediador imobiliário e desafiou-me a entrar neste negócio. Já lá vão mais de dez anos. Só interrompi a atividade quando tive um grande acidente no Brasil que me deixou metade do corpo queimado.

Quanto tempo demorou a sua recuperação?

Comecei por receber os primeiros socorros lá e quando cheguei a Lisboa, estive dois meses hospitalizada. Depois, estive dois anos em casa a recuperar.

Já recomeçou a atividade profissional em pleno?

Sim. Há pouco mais de um ano voltei a trabalhar, desta vez com a ajuda da minha nora, que também trabalha na área da imobiliária. E, como diz o meu filho, já recuperei o meu “speed” natural.

A crise não está a afetar o seu negócio?

Está. Mas consegui dar muito bem a volta: como já não se vendem casas como se vendiam, virei-me para o mercado do arrendamento, que é um mercado em franca expansão, e foi a melhor coisa que podia ter feito. Neste momento, para além da área Imobiliária, tenho dois novos projetos em preparação.

Já tem netos?

Tenho dois netos e vou ter o terceiro. O Afonso tem seis anos e é filho da Joana, o Martim tem cinco anos e é filho do João, e o Rodrigo vai nascer em Dezembro e é filho do Miguel. Estas crianças vieram dar uma grande alegria a esta maravilhosa família que eu construí. Estou muito feliz e os meus netos foram os grandes responsáveis pela minha difícil recuperação. Sou uma mulher realizada a nível familiar e empresarial…. Deus tem estado comigo!

Texto: Palmira Correia