A 14 de abril de 2002, Ana
Silva recebeu a pior notícia
da sua vida. Tiago, o filho
único de 22 anos, faleceu num
acidente de carro. «Nesse
dia caiu o meu castelo», desabafa hoje esta mulher.

«Senti-me mal e fui para o
hospital. Tive uma consulta
com um psicólogo que me
preparou para ir buscar o
corpo e fazer o funeral», recorda.

O contato com a nova realidade foi tudo menos fácil, até porque queria preservar ao máximo a memória do filho. «Ser
mãe novamente era algo que
estava fora de questão até
então, mas depois decidimos
ter outro filho. Queríamos
uma menina», relembra.

«Tornei a ser mãe e tento ser feliz»

«Engravidei passado três meses. A 18
de abril de 2003 nasceu a minha filha
Simone. Eu tinha 42 anos e o meu
marido 55. Sou uma pessoa alegre,
que gosta de conviver e tem muitas
amigas e acho que isso ajudou-me a
superar esta perda», reconhece.

«Mudámos de casa
para ultrapassar as recordações e isso
fez-nos bem. Todos os dias penso no
meu filho. Ele era muito alegre, tinha
muitos amigos e gosto de falar nele.
Continuo a encarar a vida da mesma
forma. Dei a volta por cima e tento ser
feliz», explica Ana Silva.

O que diz o especialista

Carlos Céu e Silva, psicólogo da Associação
A Nossa Âncora comenta o caso descrito.
«Ana Maria, através do seu pragmatismo,
encontrou uma forma de viver a ausência do
filho, com a realização de acontecimentos
importantes».

«Preservou a sua identidade e
não se deixou aniquilar, mantendo a alegria e
a forma como vê a vida. Com a compreensão
que existe entre o casal, Ana Maria sente-se
sólida. Aprendeu a viver o presente, sente que
tem passado e sabe que quer mais futuro», salienta ainda.

O quarto do filho

Pais em luto precisam de tempo para lidarem com o vazio do quarto. De acordo com Carlos Céu e Silva, «a porta que deixou de bater, a música que se
calou, a roupa desarrumada, o perfume que desapareceu. O quarto
é o lado visível do filho que já não está em casa».

»Este passa a ser um lugar
de memória. E as memórias são difíceis de apagar. O quarto
deverá manter-se inalterado algum
tempo. Depois são os próprios
pais, que sentem a necessidade
de mudar algo ou
de começarem
a ocupá-lo», realça.

Explicar a morte

Quando existe outro filho, os pais devem
contar «de forma clara e não omitindo verdades
que possam doer, bem como falar
de forma emocionada, sem reprimir os sentimentos.
E permitir que o irmão faça as
perguntas que quiser. A ajuda de um profissional
deve surgir, não para a comunicação,
mas sim se a situação de luto se mantiver
e estiver a causar transtornos na vida escolar
ou familiar do irmão», aconselha.

Fazer o luto

«O funeral confronta a pessoa com a
inevitabilidade
da morte. Traz a noção
real da despedida que em termos
físicos é definitiva. Não podendo os
pais estar preparados para aceitar a
morte de um filho, o funeral decorre,
por vezes, de uma forma alheada e
distante», refere Carlos Céu e Silva. «Regra geral, após o funeral
o acompanhamento psicológico é
importante para os pais poderem falar,
de forma espontânea
e livre, da sua
nova situação», defende ainda o psicólogo.

Contactos úteis

Associação A Nossa Âncora - Apoio a pais em luto
Telefone: 219 105 755
Internet: www.anossaancora.pt

Associação Apelo - Associação de Apoio à Pessoa em Luto
Telefone: 234 347 427
Internet: www.apelo.web.pt

Texto: Vanda Oliveira com Carlos Céu e Silva (psicólogo)