Provavelmente reflexo de um tempo em que o imediato e soluções rápidas são privilegiadas, existe muitas vezes a crença de que aprender a ser assertivo passa apenas pela aquisição de um conjunto de novas estratégias de comunicação, observadas e treinadas através dos tão famosos roleplays.

Sem dúvida que este conhecimento e treino são bastante necessários quando se fala em assertividade. Muitas dificuldades que as pessoas apresentam a este nível devem-se ao facto de nunca terem tido oportunidade de aprender quais os seus direitos assertivos e como reivindicá-los nas suas relações.

Por direitos assertivos pressupõe-se o direito de:

(a) ser respeitado e tratado com igualdade;

(b) manter os próprios valores;

(c) expressar sentimentos e opiniões;

(d) dizer não sem sentir culpa adjacente;

(e) pedir ajuda e escolher se quero prestar ajuda a alguém;

(f) sentir bem comigo próprio sem sentir necessidade de justificar;

(g) mudar de opinião;

(h) pensar antes de agir ou tomar uma decisão;

(i) dizer “não estou a perceber” e pedir que me esclareçam ou ajudem;

(j) cometer erros sem me sentir culpado;

(l) fixar os meus próprios objetivos e lutar para que as minhas conquistas sejam realizadas (desde que respeite os direitos dos outros).

Além disso, de acordo com Paul Wacthel, professor, psicanalista e psicoterapeuta, as nossas ações sustentam a nossa estrutura e assim, qualquer manutenção ou mudança nesta. Por criarem reações nos outros, as nossas atitudes estarão sempre a criar espaço para confirmarmos ou não a nossa maneira de pensar e percecionar, as expectativas que desenvolvemos em relação ao que podemos fazer e esperar dos outros.

Por exemplo, se eu não sou permanentemente capaz de dizer não aos pedidos que me fazem (incluindo os irrazoáveis ou os que podem não ser benéficos para mim e/ou para os meus), é provável que os outros vão continuar a pedir sistematicamente algo de mim, a reagir em conformidade com essa disponibilidade que mostro. Face a esta mesma resposta posso estar a confirmar a crença que os outros abusam de mim ou que só me procuram se eu estiver sempre lá. Da mesma maneira, se sou um pouco desconfiado face ao comportamento e intenções dos outros e simultaneamente tenho uma atitude hostil então, a reação de defesa da outra pessoa, seja por confrontação ou evitamento, pode reforçar as minhas suspeitas de que o outro poderá fazer-me mal.

No entanto, se novos comportamentos forem aprendidos sem se compreender o que sustentava os antigos, pode correr-se o risco de estes serem experimentados de forma mais teatralizada, pouco espontânea, e apenas por um curto espaço de tempo. Ou seja, por mais que conheçamos os nossos direitos assertivos, é preciso perceber o que nos está a impedir de os apropriar como verdadeiramente nossos.

Assim, é também fundamental um trabalho cognitivo e emocional que permita compreender as crenças (exemplo, se não estiver sempre disponível então vão deixar de me convidar), as emoções (exemplo, vergonha, medo) e as necessidades psicológicas (exemplo, preciso de reconhecimento dos outros para me sentir bem) que nos conduzem a ter atitudes menos assertivas. O que nos impede para além do não saber como?

Abaixo ficam resumidamente enumerados alguns dos fatores que podem impedir a implementação persistente de novos comportamentos e que são precisos ter em mente na sua aprendizagem:

  1. Pouca compreensão sobre as crenças, necessidades e emoções que conduzem às atitudes menos adequadas;
  2. Capacidade diminuída para regular as emoções (exemplo, medos, vergonha) que podem estar por trás de atitudes menos adequadas;
  3. Reações por parte dos outros face ao crescimento e à mudança podem não ser logo a esperadas - habituamo-nos a desempenhar papéis complementares aos dos outros (exemplo, se um é o cuidador, o outro é o que precisa de ser cuidado; se um é o que faz rir, o outro é o que se ri; se um é o aventureiro, o outro é o que teme as coisas). Desta forma, novos comportamentos que não correspondam aos papéis já estabelecidos podem ser pouco notados ou mal recebidos numa primeira instância.
  4. As necessidades do outro – os outros podem genuinamente desejar a nossa mudança, contudo também podem ter dificuldade em dar uma resposta diferente do habitual por terem também um conjunto de necessidades que procuram satisfazer;
  5. Reações do próprio face aos novos comportamentos que tenta aplicar – pode não saber lidar com a novidade, sentindo vergonha ou humilhação por sentir que ainda não é tão capaz (exemplo, “medo de ter caído no ridículo”), ou não saber lidar com a nova reação dos outros quando se experimenta um novo comportamento;
  6. Não conhecer os seus direitos assertivos;
  7. Défices de competências sociais – comportamentos de afirmação, direcionados a expressar efetivamente o que se sente e quer podem nunca ter sido aprendidos; muitos ficaram apenas nas tentativas desajeitadas de os fazer;

Sofia Sousa de Macedo - Psicóloga clínica

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