A época de ano anovo é, por excelência, um momento simbólico para pensar em objetivos e projetá-los para o ano que inicia. Podem também ser as chamadas “resoluções de ano novo”, que levam as pessoas a criar 12 metas a alcançar durante os diversos meses. É a maior segunda-feira do ano, no sentido em que nunca se começa nada sem ser à segunda. No entanto, temos esta época tão motivacional e propícia aos objetivos pessoais, que se estes acabam por não ser cumpridos nem alcançados, podem levar à frustração e desmotivação, algo que seria o oposto do desejado e expectável no que diz respeito ao sucesso sentido pelo alcançar de metas.

Não deveria ser mais fácil? Deveria, claro. Se são objetivos nossos, seria fácil estruturá-los e que funcionassem para o nosso desenvolvimento e sucesso. O que falha então?

Os principais problemas ao traçar objetivos

A obrigatoriedade de ter objetivos e de os criar para um propósito temporal específico, não definido por nós, é o primeiro problema. De alguma forma, os objetivos devem ser construções orgânicas, que nos surgem pelo nosso caminho e desenvolvimento enquanto pessoas ou face a áreas de vida específicas, que servem para atingir metas desejadas e pré-programadas. Em suma, que estamos motivados e focados neles. A obrigatoriedade, seja de que objetivo for, representa algo parecido ao fogo de artifício – um momento de excitação inicial que termina rápido, sem resultado a não ser o que é. No caso do fogo de artificio, “ser o que é” é o seu objetivo e propósito. No nosso caso, um objetivo é o início de algo.

O segundo problema será o seu enquadramento e sintonia com o nosso funcionamento psicológico. Criar um objetivo “porque sim” não significa que este seja necessário, importante ou, sequer, útil para nós. Esta sintonia significa que objetivos, teoricamente, semelhantes entre pessoas, serão muito diferentes pelo caminho a percorrer, pelo enquadramento emocional e no que significa para cada um. Mas há pensamentos a ter que podem ajudar a evitar estes problemas.

Onde estou?

Esta deve ser a primeira etapa do pensamento sobre si próprio. “Onde estou” simboliza o momento em que vive, o local que habita dentro de si. Como se sente, o que precisa, o que necessita. Estas são algumas das questões que nos devem ajudar a articular o pensamento e dirigi-lo para os objetivos.

Se os objetivos traçados não partirem, também eles, do momento em que se encontra, não terão forma de continuar e, por isso, de terem sucesso. Por exemplo, se o objetivo de alguém é conduzir um camião, primeiro tem de ter a carta de condução correspondente, o que o levará a ter objetivos prévios ao primeiro. Caso contrário, ficará frustrado e parado pela falta de sintonia com o momento em que está. Ninguém pode saber para onde vai sem saber onde se encontra.

Para onde quero ir?

Isto representa a segunda parte deste pensamento. Há objetivos que surgem de forma orgânica – fazem sentido – e objetivos obrigatórios, sociais ou por pressão. Estes segundos, não respeitam o próprio pois não têm por base o seu caminho. Os primeiros são o resultado da sintonia interna e representam as próprias necessidades psicológicas, pelo que terão melhor efeito no nosso bem-estar.

Objectivos para o bem-estar

O bem-estar é um conjunto de sentimentos de equilíbrio psicológico, emocional e funcional, que nos permite sentirmo-nos bem connosco próprios, com os outros e com o mundo. Os objetivos devem ser extensões desse bem-estar e ser formas de o potenciar e regular. Se me respeitar, aos meus valores e necessidades psicológicas, serão mais fáceis de criar e estruturar os objetivos a que me proponho. Eles farão sentido, serão fonte de motivação e irão acrescentar a mim, seja em que área da vida for.

Não há mal algum em ter objetivos. Pelo contrário, são ótimas fontes de ação, de pensamento sobre nós e de continuarmos o caminho que escolhemos. Devemos, no entanto, fazê-lo por fazer sentido e não porque sim. Quando tiver um objetivo desses, não espere pelo ano novo ou por uma segunda-feira: vá em frente!

Tiago A. G. Fonseca - Psicólogo Clínico