Muito se tem falado e escrito ultimamente sobre a grafologia, o aumento da divulgação deste tema responde simultaneamente a um interesse e curiosidade do público, como à necessidade de desmistificar esta disciplina.
A maioria das crónicas, não tratam dos fundamentos físicos, fisiológicos e/ou psico-lógicos da matéria, além disso, muitas demostram uma tendência a rotular/classificar o autor duma escrita, tão somente por um pequeno trecho, o que do ponto de vista técnico representa algum risco. Levanta-se assim uma questão importante, no sentido em que os resultados provenientes da análise da escrita ou grafia do autor, vão conduzir o grafólogo a certas afirmações descritivas da sua personalidade. Cremos então, que deveriam existir normas que regulassem a dimensão ética ao nível da prática e da forma como o especialista partilha as informações. Porque, sem dúvida, todos nós, somos supostamente curiosos de melhor nos conhecermos, mas muito poucos, estão prontos a aceitar certas revelações, que podem induzir no limite e em certos casos, a danos ao nível do equilíbrio psico-afectivo. Referimo-nos pois à veracidade e validade, e ao impacto das afirmações, consequentemente, da grafognosia, ou seja, do conhecimento da pessoa através do estudo da sua grafia.
Mas quais são os postulados que permitem certas alegações? Qual é a validade da grafologia? As primeiras obras conhecidas apareceram no século XVII, em Itália escritas por Camillo Baldi, declarando que a forma de escrever uma missiva, traduz o caracter do autor.
Sucederam-se através dos séculos trabalhos e tratados sob varias orientações e diversas pesquisas que levaram a diversas conclusões, tanto em França, com J.H.Michon e J. Crépieux-Jamin, na Alemanha, com Ludwig Klages e com um seguidor na Suiça, Max Pulver.
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Em Espanha Augusto Vels e outros, bem como muitos outros no Reino Unido, quer numa perspectiva filosófica, quer psicológica, e mais recentemente no domínio da neurofisiologia. Todos preocupados em elaborar as primícias supostamente cientificas. Depois de ter sido submetido aos critérios de validade, fiabilidade e outros, apoiando-se sobre o princípio de causa e efeito e a uma metodologia de classificação e quantificação, os resultados permitiram esta-belecer e reconhecer o carácter científico desta disciplina.
Actualmente, as esferas de utilização da grafologia são diversificadas pelas seguintes áreas; educação, selecção profissional, criminologia, na psicologia aplicada e psicopatologia.
Quanto aos fundamentos físicos, o acto de escrever decorre de um conjunto de acções e reacções psicomotores, envolvendo músculos, posturas adequadas e destreza. Ao nível do movimento, a formação e estruturação da escrita ou caligrafia executa-se com formas redondas, rectilíneas, e semi redondas, e simultaneamente o movimento de translacção, que significa a deslocação da esquerda para a direita, para o que se refere aos modelos ocidentais, e ao invés, para as culturas árabes. De facto, o acto de escrever obedece conjuntamente a duas forças antagónicas, exigindo uma coordenação anatómica do braço, da mão, do pulso e dos dedos, o que caracteriza a motricidade fina. Paralelamente, ao nível neurológico, são activados circuitos neuronais específicos que se sofisticaram desde a aprendizagem até a mestria da prática.
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Numa perspectiva fisiológica, hoje em dia, comprova- se a influência e interdependência das funções e estados orgânicos, tal como a pressão cardiovascular e outras disfunções, que podem ser detectadas na escrita.
O desenvolvimento e aquisição da habilidade da escrita permite entender que, antes de obter esta capacidade, que se torna um acto reflexo, aparecem certas angústias ou apreensões que vão desaparecendo à medida da apropriação do saber fazer. Entretanto, é indispensável praticar, ajustar e corrigir a escrita para ser inteligível e aceitável, na mesma medida em que o é para evoluir no percurso escolar e social.
Aqui salientam-se os fundamentos psicológicos da grafologia.
Estes últimos aspectos explicam a dimensão psicológica desta actividade. Podemos abordá-la de um ponto de vista cognitivo e afectivo.
Ao nível cognitivo, a necessidade de se cingir aos modelos institucionais ou escolares, compostos de sinais convencionais constitu-indo a cali-grafia utilizada e aceite, obriga uma vontade e a capacidade consciente de execução, o que exige um processo racional e reflexivo, e activa as áreas cerebrais correspondentes.
A assimilação, memorização e a realização da escrita, tiveram na infância um impacto estruturante ao nível cerebral, mais precisamente no neocórtex. Processo que também suscita reacções emocionais, e sobretudo, desenvolve ajustamentos afectivos internos e externos, o que é inerente ao sistema límbico.
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Por esta ordem de ideias, reconhecemos as incidências ao nível mental, ‘’comporta-mental’’ e ‘’senti-mental’’. O que já explica e justifica a possibilidade de identificar as reacções emocionais, as atitudes, a mentalidade, os comportamentos, a maneira de comunicar, de viver a sexualidade, os interesses, as aptidões e outros parâmetros que caracterizam a personalidade da pessoa que escreve. Além da parte cognitiva, já percebemos que a dimensão afectiva influencia de forma significativa um fenómeno psicológico impor-tante, na medida em que o grau de aceitação interna e/ou externa da forma de escrita, revela uma relação afectiva com a nossa própria grafia e a dos outros. Obviamente, o acto de escrever revela uma interacção do autor com a sua grafia; uma reciprocidade. O que explica, que a nossa escrita muda, evolui, modifica-se e pode apresentar variações ao dia ou mesmo às circunstâncias. Quem não experimentou já o facto de mudar a sua forma de escrita em busca de mais satisfação? O que constitui uma interacção puramente afectiva. Daí, a preferência consciente e mais frequentemente inconsciente na maneira de efectuar e aceitar as formas das letras, da dimensão das letras, de ordenar a página, a pressão, a inclinação e outras variáveis, o que transparece um processo de projecção da personalidade do autor.
Em termo técnicos, fala-se de componentes, indícios, dominância, sintomas, síndromas e muitos outras denominações permitindo no plano analítico, uma discrição diferenciada, e no plano descritivo, um identificação do carácter e personalidade do autor. Em resumo, o estudo da escrita que constitui a disciplina GRAFOLOGIA, merece uma aproximação cuidadosa no plano operacional, mas também conhecimentos na área da psicologia da personalidade A análise da escrita possibilita uma descrição dos comportamentos, das predisposições emocionais, do grau de sinceridade e honestidade da pessoa, do tipo de relacionamento, e muitas outras informações que a caracterizam.
Artigo de Dr. Luis Philippe Jorge (psicólogo e grafólogo)
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