Tendencialmente, é nesta época que agradecemos o que de bom nos vai acontecendo junto das pessoas que mais amamos mas, também, é o tempo onde percebemos, de forma mais presente, que outras já não nos acompanham e o quanto nos fazem falta. Por isto, o Natal assume-se como uma data com forte componente emocional que deve ser tida em conta com atenção.
Nesta época existem estas duas vertentes a conviver de mãos dadas à medida que a quadra natalícia avança e passa pelas suas diversas fases.
Numa vertente mais positiva, o Natal é o ponto alto da união das pessoas, das famílias, quando os acontecimentos parecem menos importantes e as relações são o centro de tudo. Estar com as pessoas de quem gostamos é um bálsamo importante para a vida diária, pois traz-nos a alegria de sermos bem acompanhados e apoiados. O simbolismo mais emocional do dar e do receber prendas é também ele importante, pois são demonstrações do quanto nos lembramos de alguém, ou o seu inverso. Toda a partilha da refeição, das histórias, dos momentos à lareira, do revisitar os locais onde não íamos há vários meses, as chamadas para as pessoas que estão mais afastadas e que, neste dia, ficam mais perto, são tudo acções que realizamos e que devem ser valorizadas pelo seu enquadramento, bem como potenciadas para que ocorram mais vezes ao longo do ano.
Noutra vertente, uma mais negativa, tendemos a fazer pontos de situação internos em datas cruciais na nossa vida e a perceber, assim, o que nos falta, quase num resumo negativo das nossas emoções. É normal, nesta quadra, sentir-se mais falta dos entes queridos que faleceram durante o ano ou que estão longe, não podendo estar presentes. São lembradas as zangas familiares ou com amigos, as mágoas do que foi acontecendo ao longo do ano, o quão duro foi passar por tudo isto. A carga negativa é mais forte em termos emocionais do que as cargas positivas, daí ser mais difícil ultrapassar algum acontecimento negativo do que nos recordarmos de algo positivo.
Esta dupla actividade emocional, natural para qualquer dia do ano, ganha um maior impacto nesta quadra e obriga a uma maior gestão emocional de cada um de nós.
A melhor regulação emocional é o ponto de equilíbrio do ser humano para lidar com o seu dia-a-dia, absorvendo e processando o que lhe acontece, criando respostas adaptativas que lhe forneçam tranquilidade, desenvolvimento, sucesso e realização pessoal. É, também, esta regulação emocional que nos permite relacionar com os outros, estar em relação e saber usufruir das mesmas para crescer e nos tornarmos melhores a cada momento. Por outro lado, sem uma boa regulação emocional, as respostas que tendemos a dar aos desafios do dia-a-dia não serão as mais indicadas para nós, levando a conflitos internos ou externos e à sensação de desamparo, tristeza e insucesso.
O pensamento recorrente sobre como será esta quadra irá potenciar qualquer emoção que dela possa surgir, sendo que focaremos mais no negativo do que no positivo. Este deve ser o primeiro ponto onde pode e deve trabalhar em si. Claro que as situações menos agradáveis devem ser trabalhadas e resolvidas, mas certamente existirá uma melhor altura para o fazer do que focar os seus esforços nesta quadra para a potenciar.
Depois, o que faz durante cada dia do ano é essencial para a regulação das suas emoções de forma equilibrada e, assim, chegar ao Natal na forma tranquila que tanto deseja. Planear o evento, convidar as pessoas que gosta, reforçando essas relações ao longo do ano, criando momentos de prazer para si e para os que o rodeiam, são pontos-chave para ter relações interpessoais saudáveis, tão importantes a nível emocional.
É importante pensar em si, em como este evento é, também, sobre si e não, apenas, para os outros. Foque no que gosta e no que os outros irão gostar e correrá, certamente, bem. O Natal é um dia fantástico para muita coisa mas, deve ser encarado como um dia do ano com a possibilidade de ser especial. A sua expectativa do mesmo, positiva ou negativa, irá acrescentar-lhe o restante do significado. Quanto maior a sua regulação emocional, melhor as suas expectativas o deixarão usufruir do seu Natal.
Tiago A. G. Fonseca - Psicólogo clínico
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