À primeira vista, o título até pode parecer pejorativo. O que significa pensar demais? Será que é mau as mulheres pensarem?Porquê? Será que a Saber Viver se tornou uma revista machista? Calma... Não é nada disso! "Mulheres que pensam demais" é o nome de um livro, escrito por Susan Nolen-Hoeksema, uma psicóloga da Universidade de Yale, nos EUA, que resolveu reunir, num só volume, estratégias concretas para mulheres.

A obra, publicada em Portugal pela editora Estrela Polar, apresenta dicas e recomendações que as mulheres se libertem dos pensamentos negativos, obsessivos e excessivos e aproveitem tudo aquilo que a vida tem, de bom, para lhes oferecer. Segundo a autora, as mulheres são dotadas da capacidade de "matutar sobre tudo e sobre nada". Este tudo e este nada abrange a carreira, a família, a saúde, a autoimagem, as emoções.

De acordo com as conclusões resultantes de dezenas de estudos conduzidos por Susan Nolen-Hoeksema ao longo de quase 30 anos, pensar demais "torna a vida mais difícil". "O stresse que enfrentamos parece maior. Temos menos probabilidade de encontrar boas soluções para os nossos problemas e a nossa reação a esse stresse será, provavelmente, mais duradoura e intensa", assegura a especialista norte-americana.

Por outro lado, o pensamento excessivo prejudica as relações com os outros, impede-nos de perceber o que podemos fazer para melhorá-las e pode contribuir para o desenvolvimento de ansiedade, de depressão ou ainda de alcoolismo, garante. O passado, o presente e o futuro são percecionados de forma negativa e bloqueia a capacidade de encontrarmos soluções para os problemas, enfraquecendo a nossa autoconfiança.

O imperativo de pensar menos

Para nos libertarmos das malhas do pensamento excessivo, há que tomar medidas. Muitas obrigam a mudanças. "Na minha pesquisa, descobri que dar às pessoas distracções positivas que as afastem do pensamento excessivo durante apenas oito minutos tem uma eficácia notável na melhoria do seu estado de espírito e na quebra dos seus ciclos de pensamento repetitivo", explica também autora de "A vantagem de ser mulher".

Estas distrações podem ser a prática de exercício físico, novos hobbies, brincar com os filhos ou fazer voluntariado. Atenção, pois comer compulsivamente não é considerado como uma distracção, assim como afogar as mágoas em bebidas alcoólicas! Outra estratégia para travar os pensamentos negativos é interrompê-los, obrigando-se a fazer outra coisa. Há um exercício de raciocínio que pode fazer facilmente.

Imagine que, mal se deita, uma catadupa de preocupações invade a sua cama, adquirindo vida própria, desdobrando-se em mil situações e impedindo-a de adormecer. Em vez de ficar deitada, dominada pela angústia, levante-se, vá beber água, caminhe pela casa ou leia um bocadinho. Só quando tiver a cabeça vazia é que deve regressar ao quarto. Ir a correr para o telemóvel ou para o tablet não é uma possibilidade a considerar.

Os conselhos que deve seguir

Se não consegue evitar preocupar-se com determinados assuntos, reserve, diariamente, um tempo próprio para pensar sobre eles. Essa thinking hour não deve ser, no entanto, agendada para os minutos que antecedem a ida para a cama ou, muito menos, quando se vai deitar. Opte por escolher um período em que esteja, habitualmente, sozinha e tranquila. Decorrido o tempo de antena que deu aos problemas, pare.

Outro conselho para parar de remoer é partilhar os pensamentos excessivos com pessoas nas quais confie, que poderão ajudá-la a ver o lado positivo da questão e a vislumbrar soluções. No entanto, Susan Nolen-Hoeksema previne que "falar com outras pessoas sobre o nosso pensamento excessivo também se pode virar contra nós". A escolha dos destinatários dos seus desabafos afigura-se, assim, fundamental.

Os amigos podem limitar-se a inflamar as chamas das nossas preocupações sentando-se connosco e trocando emoções, sem nos ajudar a alcançar uma melhor perspetiva sobre os nossos problemas. "A chave é aprender a reconhecer quando estamos a pensar demais com os amigos e pedir-lhes directamente para nos ajudarem a sair dos nossos pensamentos circulares e avaliar mais eficazmente as nossas preocupações e possíveis soluções", diz.

Realidade ou exagero?

Muitos especialistas são unânimes. Pegar num papel e numa caneta pode ser terapêutico. Escrever os nossos pensamentos pode ser um bom método para exorcizá-los e, de certo modo, controlá-los. Outra vantagem de passar para o papel tudo o que nos incomoda é que, quando olhamos para o que escrevemos, podemos consciencializar o quão ridículas, afinal, são as nossas preocupações. Mas só em certos casos, claro.

Proporciona-nos, também, um certo distanciamento, permitindo-nos fazer a distinção entre o irracional e aquilo que podemos, de facto, resolver. Uma outra técnica para lidar com o negativismo é tentar evocar momentos felizes, ouvir canções que nos façam sentir bem, olhar para fotografias de pessoas de quem gostamos muito, utilizar o nosso sentido de humor e procurar encontrar, sempre, o lado positivo das coisas.

Texto: Teresa d'Ornellas e Luis Batista Gonçalves (edição digital)