O estudo do desenvolvimento dos adultos da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos da América (EUA), é, talvez, o estudo com maior longevidade sobre felicidade. A vida de 724 homens está a ser acompanhada desde 1938. Cerca de 60% dos 724 homens ainda estão vivos, sendo que a maioria está já na casa dos 90 anos. O primeiro grupo que entrou neste estudo era constituído por finalistas da universidade.
Todos os elementos finalizaram a faculdade durante a II Guerra Mundial e a maior parte acabou mesmo por participar na guerra. O segundo grupo era constituído por rapazes que provinham de algumas das famílias mais problemáticas e desfavorecidas de Boston dos anos da década de 1930. Vivam em barracas e não tinham sequer, saneamento básico. Quando entraram no estudo, os adolescentes foram entrevistados, assim como os seus familiares.
Foram-lhes também realizados exames médicos. Esses adolescentes tornaram-se adultos e viveram vidas muito diversas. Uns tornaram-se operários fabris, outros advogados, pedreiros e até médicos. Um deles acabou mesmo por ser presidente dos EUA. Outros tornaram-se alcoólicos. Alguns revelaram-se esquizofrénicos. Uns subiram a escada social desde baixo até ao topo. Outros fizeram o caminho inverso.
A solidão é tóxica e mata
Os participantes continuam a ser entrevistados anualmente nas suas casas. São observados e sujeitos a exames médicos, nomeadamente análises ao sangue observação dos seus cérebros através de diversas técnicas de imagiologia. Os seus filhos são entrevistados e as conversas com os seus cônjuges sobre as suas maiores preocupações, gravadas. As conclusões deste estudo, com 75 anos, são claras e não estão relacionadas com riqueza e fama nem com produtividade.
As pessoas com mais ligações com a família, com amigos e com a comunidade são muito mais felizes, fisicamente mais saudáveis e vivem mais tempo. A solidão é tóxica e mata. As pessoas mais isoladas são menos felizes. A sua saúde deteriora-se rapidamente na meia idade. O seu funcionamento cerebral decai mais cedo e a esperança média de vida é mais baixa. Isto numa altura em que mais de 20% da população mundial afirma que se sente só.
E podemos sentir-nos sós numa multidão ou mesmo num casamento. Não basta o número de amigos ou a longevidade das relações. O fator decisivo é a qualidade das relações. Viver no meio de conflitos é extraordinariamente prejudicial para a saúde. Os casamentos altamente conflituosos, por exemplo, em que não há afeição, revelam-se demolidores para a saúde, e em termos de impacto, são piores que passar por um divórcio.
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A insatisfação com a vida envelhece mais do que as doenças
Quando os investigadores analisaram os registos dos participantes quando estavam na casa dos 50 anos, concluíram que não foram os níveis de colesterol que determinavam como iriam envelhecer. O elemento diferenciador foi o nível de satisfação que sentiam nas suas relações. As pessoas que se sentiam mais satisfeitas com as suas relações aos 50 anos foram as mais felizes aos 80 anos.
Relações estreitas protegem-nos das complicações do envelhecimento. Os homens mais felizes afirmaram, aos 80 anos, que nos dias em que tinham mais dores físicas mantinham a boa disposição. As pessoas com relações mais infelizes amplificavam a dor física com o sofrimento emocional. A última conclusão do estudo revelou que relações saudáveis para além de protegerem o corpo, protegem também o cérebro.
As pessoas que sentem que podem contar com o parceiro em alturas de necessidade, mantêm a memória ativa durante mais tempo. As pessoas que experienciam a situação inversa experimentam precocemente o declínio da memória e de outras funções cognitivas. As boas relações não têm que ser sempre fáceis.
Alguns dos octogenários felizes e saudáveis, reportaram discussões frequentes, mas pelo facto de sentirem que podem contar com o parceiro e vice-versa, não as fixavam na memória. Relações boas, íntimas e correspondidas, são fantásticas para a saúde e para o bem-estar. Mas por que razão são tão difíceis de obter e tão fáceis de ignorar? Porque somos humanos!
As receitas rápidas que procuramos
Procuramos receitas rápidas e comprimidos para nos tornarmos e mantermos felizes instantaneamente. E isso não existe… O trabalho para manter relações positivas dura a vida toda. As pessoas, neste estudo de 75 anos, que viveram felizes na reforma, foram as que procuraram ativamente substituir os colegas de trabalho por outras pessoas, com quem pudessem conviver nesta nova fase das suas vidas.
Como muitos de nós, também estes homens, quando chegaram à idade adulta, acreditavam que a fama, a riqueza e as realizações de vulto eram tudo o que necessitavam para serem felizes. Ao longo dos 75 anos, este estudo demonstrou vezes sem conta, que as pessoas que se saíram melhor foram as que se apoiaram e investiram seriamente nas relações, quer seja com o cônjuge, com os filhos, com a família alargada, com os amigos ou mesmo com a comunidade.
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O que pode fazer para ser mais feliz
Quer ser mais feliz? O que pode fazer? As possibilidades são ilimitadas e começam com o tempo que disponibiliza para investir nas pessoas. Pode planear mais tempo para estar com a família e com os amigos, surpreender alguém e reanimar uma relação adormecida, ouvir mais as outras pessoas, partilhar um hobby ou mesmo ajudar um amigo num projeto importante para ele. Pode ser um jantar diferente, um passeio à beira-mar ou até mesmo um revival num sábado à noite.
Pode entrar em contacto com um familiar com quem não fala há muito tempo. Conflitos familiares têm um efeito destruidor na pessoa que guarda rancor. Quando é que o deve fazer? Hoje! Amanhã pode ser tarde demais, acredite… Mark Twain afirmou uma vez que «não há tempo… Tão breve é a vida para discussões, desculpas, amarguras, prestação de contas. Só há tempo para amar... E, mesmo para isto, é só um instante». À sua felicidade!
Texto: Marco Meireles (expert, speaker e coach nas áreas da liderança, do sucesso e da felicidade, autor do livro «Esqueça Tudo o Que Sabe», publicado pela Chiado Editora)
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