Quando eu tinha seis, sete anos, naquela fase em que todas as crianças têm pesadelos, lembro-me de procurar conforto no colo do meu avô materno.
No cantinho da chaminé alentejana, daquelas em que cabemos lá dentro, o meu avô pedia-me então que lhe contasse qual tinha sido o pesadelo que me ensombrara os sonhos infantis. Recordo ainda hoje a forma como o meu avô começava esta nossa conversa.
Repetidamente, pesadelo após pesadelo, dizia-me «Então vamos lá ver, agora com os olhos do sol, o que os olhos da lua te mostraram». E eu contava o sonho mau, à luz do dia, e sentia-me a menina mais forte e sem medo à face do planeta. Sem o saber (ou talvez sabendo), o meu avô estava a ensinar-me a poderosa lição de aprender a relativizar.
A lição de aprender a ver as coisas que nos acontecem com uma nova perspetiva. Com uma nova luz. De perceber o que de positivo podemos obter, mesmo das situações mais difíceis. O que conseguimos aprender com os momentos menos bons. A tentar identificar que forças podemos ter que ainda não conhecemos? Que forças nunca tivemos necessidade de usar mas existem em nós?
Forças prontas a serem usadas, a fazerem a diferença na nossa vida, prontas a mudarem a nossa capacidade de dar a volta por cima. Relativizar ajuda-nos ainda a questionar os problemas. Será que são assim tão grandes? Será que são tão graves como os estamos a ver? Ou estarão a ser efabulados, como os pesadelos? Relativizar é pois uma atitude essencial para sobrevivermos com coragem, confiança e estima por nós mesmas a este novo ano, ao qual muitos chamam o ano de todas as provações.
Para que este processo de resgate de nós mesmas funcione, é imprescindível agir. Agir em relação a si mesma, em relação à sua vida. Fazer algo por si, todos os dias. Simplificando os processos. Afastando os pensamentos paralisantes da nossa ação. Anulando as ideias de medo que apenas trazem mais medo à nossa vida. Nós, no fundo, sabemos do que necessitamos e o que devemos fazer para o colocar em prática.
Então, o que nos falta? Na maioria das vezes, autodisciplina. Sem ela será impossível atingirmos objectivos, por muito bem definidos que eles possam estar. Porque a autodisciplina é também geradora de energia de mudança, fazendo nascer em nós a vontade de conseguir, mesmo quando já não imaginávamos que pudesse existir em nós a vontade de seguir em frente.
Para conseguirmos obter esta nova atitude é ainda essencial deixarmos de esperar que os outros façam alguma coisa por nós, que nos possam completar os algos todos que julgamos não ter. Deixar de esperar que alguém nos diga o que gostamos de ouvir, quando afinal somos nós que não o conseguimos dizer a nós mesmas.
Acredito profundamente que 2012 será um ano de resgate da nossa capacidade de relativizar.
Um ano para descobrirmos uma infinidade de novas abordagens para problemas antigos. Um ano para crescermos e renovarmos a nossa autoestima, a nossa confiança em nós mesmas. Para resgatarmos a coragem com que nascemos. Um ano para conseguirmos dar o que temos de melhor e com isso motivar os outros a fazerem o mesmo.
Como referiu Mahatma Gandhi, «seja a mudança que mais deseja ver no mundo».
Texto: Teresa Marta (consultora de bem-estar)
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