Viajar, correr, pedalar, ir ao cinema, tratar da imagem... Quem disse que a reforma é uma fase de resignação?

Quando alguém perde o cônjuge, um amigo próximo ou até mesmo o animal de estimação, pode ser fácil perder a sua própria perspectiva da vida. Também a reforma, por muitos ambicionada, é para alguns sinónimo de isolamento e reclusão.

Os filhos seguiram o seu caminho e, frequentemente, estão muito envolvidos com as suas próprias vidas e problemas diários. É, por isso, essencial retomar a vida social e aproveitá-la ao máximo.

Uma postura positiva, como a que vai ver a seguir, é a prova de que a vida continua depois dos 60. E pode até ser melhor!

Maria Helena Melo, 76 anos
«Solidão? Essa palavra não consta do meu dicionário»

A boa disposição, garra e vivacidade não espelham os anos por que já passou. As tristezas já foram algumas, mas na conversa Maria Helena Melo transforma-as em meras recordações. Não há lugar para queixas. Aqui, afirma, «a solidão não existe».

Com uma parte da vida dedicada a ajudar profissionalmente o seu primeiro marido, médico, Helena sentiu-se sempre útil aos outros e feliz com essa atitude: «Gosto de contactar com o próximo, de ser útil, mas também gosto que sejam delicados comigo».

Conversadora nata, fala com grande entusiasmo dos momentos de voluntariado que sempre exerceu: «Ainda hoje visito pessoas que ficam em casa sozinhas, algumas mais novas que eu», conta. Casada pela segunda vez, não fica um dia em casa.

«Mesmo que esteja com muitas dores, não gosto de parar». Nem de parar nem de planos e muito menos de regras. Sempre acompanhada pelo marido, gosta de conduzir, de passear à beira-mar, de ir à praia e de almoçar fora.

Não dispensam a companhia dos amigos, com os quais costumam viajar. Uma das suas últimas aventuras? «Fui de comboio para Madrid, passar o fim-de-semana, porque queria muito ver o museu do Dali», conta.

As viagens são de resto uma das suas predilecções. «O meu país de eleição é Itália, é lindo! Mas, também gostei muito de ir a Nova Iorque. Fiquei fascinada», desabafa.

«Eu gosto da vida, sabe?», diz, sorridente, a meio da conversa. Gosta da vida e de tudo o que ela lhe proporciona. Gosta das quatro estações, do tempo passado, mas também do momento presente, gosta de conhecer e de aprender, gosta de ajudar e de receber em troca.

Veja na página seguinte: Resolver os problemas a... pedalar!

Mário Cardoso, 64 anos
«Já resolvi problemas a pedalar e a correr»

Mário Cardoso equipa-se a rigor e dá as primeiras pedaladas do dia.

Assim são percorridos, todas as manhãs, 30 quilómetros de bem-estar, uma rotina que estipulou, quando se reformou, há cerca de dois anos.

Anteriormente ligado à indústria farmacêutica, Mário Cardoso está agora a usufruir dos seus dias e afirma que a sua vida mudou muito, neste último ano. Depois do passeio matinal de bicicleta, partilhado com «amigos do Estádio Nacional», há ainda tempo para ler, ir ao cinema, passear na praia e, duas vezes por semana, ir à natação.

Ainda relembra a altura em que não fazia exercício e o quanto lhe custou recomeçar: «Depois de quase 20 anos parado, foi muito difícil. Um dia enchi-me de coragem, comprei um fato de treino e recomecei a correr. Tive o bom senso de não parar e, aos poucos, entrei no ritmo certo». Desse momento recorda também outra vitória: «Fumei dos 18 aos 40 anos e, com o exercício, não sentia necessidade de fumar. Um dia parei, até hoje».

Das doenças que começam a aparecer, a hipertensão e a artrose na anca são as que mais o preocupam. Mas nada o faz parar. Na alimentação tem cuidado e uma preferência pelo peixe, mas reconhece, «às vezes, faço disparates».

Vaidoso, tem cuidados diários com a pele e garante que os resultados estão à vista. O litro e meio de água que bebe por dia, afirma, é também uma boa receita para o rosto jovem e a vontade de viver.

Os conselhos de quem faz tudo para saber viver

  • Conheça bem os seus limites. Consulte um médico antes de iniciar qualquer actividade física.

  • Se se sente só e gostava de voltar a aprender e de se envolver em actividades criativas, inscreva-se numa universidade sénior. Para mais informações contacte 962 691 791, 968 210 218 ou 243 593 206 ou vá a www.rutis.org.

  • A beleza não tem idade. Já pode encontrar à venda cosméticos concebidos especificamente para peles maduras, ou seja para mulheres que já ultrapassaram a barreira dos 50 anos... mas que continuam a gostar de si.

     

    Texto: Raquel Pires
    Fotos: Artur (com produção de Mónica Maia)