Não se vê mas pode estar em qualquer lado.

Quando entra em contacto com o organismo afeta uma das nossas funções vitais, a respiração.

Falamos do vírus sincicial respiratório (VSR), a principal causa de infeção respiratória nos primeiros anos de vida.

«Este é o principal agente da bronquiolite, uma das infeções do aparelho respiratório mais frequentes nos primeiros dois anos de idade. Provoca dificuldade respiratória e, em alguns casos, poderá causar, a longo prazo, pieira recorrente e asma», refere a médica pediatra Almerinda Pereira, presidente da secção de Neonatologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP).

Quem corre maior risco?

O VSR afeta recém-nascidos, crianças e adultos. Mas são os bebés prematuros com idade inferior a seis meses o maior grupo de risco. Com um sistema imunitário ainda imaturo, estes bebés não têm os anticorpos necessários para se defenderem de possíveis infeções, correndo, por isso, um risco mais elevado de desenvolver doenças infeciosas. Os bebés com doença pulmonar crónica e com cardiopatia congénita também estão mais suscetíveis a contrair o VSR por terem a sua função respiratória debilitada.

Qual o período de alerta?

Em Portugal, a infeção por VSR surge, geralmente, entre o outono e a primavera, num período que se estende de outubro a abril (o pico de maior prevalência é nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro). Isto significa que os bebés prematuros que nascerem durante o verão correm um risco acentuado, já que, no início do período de maior risco de contágio, ainda não completaram os seis meses de vida.

Como identificar os sinais?

Inicialmente, a infeção por VSR manifesta-se por sinais que podem ser confundidos com os sintomas de uma simples constipação. Febre baixa, corrimento nasal e infeção no ouvido são os mais frequentes. Mas, à medida que o vírus se vai propagando pelo aparelho respiratório, podem surgir sintomas mais graves. Geralmente, num período que varia entre três a cinco dias após a infeção, o bebé infetado revela uma tosse persistente, dificuldade respiratória e pieira, e a respiração altera-se, tornando-se difícil, rápida e ruidosa.

Como prevenir o contágio?

O contágio pode ser fácil e rápido, já que o vírus se pode propagar nas mais diversas situações do dia a dia, através de espirros, tosse ou a partir do contacto com superfícies contaminadas, se o bebé colocar, de seguida, os dedos na boca, no nariz ou nos olhos.

Os cuidados de prevenção são, por isso, «fundamentais», alerta a pediatra, lembrando que «são os bebés prematuros com menos de seis meses, no início da época de infeção, que estão em maior risco de contrair o vírus».

Um escudo protetor

Seguir as medidas preventivas de higiene e ambientais é um passo importante para prevenir o contágio, mas para aquele que é o maior grupo de risco (os bebés prematuros com menos de seis meses), só estes cuidados podem não chegar. Uma vacina capaz de proteger as crianças contra o vírus seria o próximo grande passo na prevenção ou mesmo erradicação do vírus. Mas, segundo Almerinda Pereira, «a vacina não vai estar disponível a curto prazo porque ainda não foi encontrada uma fórmula eficaz no combate ao vírus».

Enquanto isso não acontece, existe um tratamento profilático, comparticipado pelo Serviço Nacional de Saúde, que confere imunização ao vírus. Recomendado exclusivamente para os bebés prematuros, a terapêutica – anticorpo monoclonal (palivizumab) – proporciona os anticorpos semelhantes àqueles que os bebés de gestação completa recebem da mãe e que protegem o organismo dos agentes infeciosos.

A pediatra Almerinda Pereira recomenda o tratamento aos bebés prematuros, principalmente abaixo das 32 semanas de idade gestacional ao nascimento. Segundo dados divulgados pela SPP, a aplicação desta terapêutica diminui em quase seis por cento a taxa de hospitalização de crianças infetadas pelo vírus, ainda que, depois do internamento, não exclua a necessidade de ventilação mecânica nem consiga reduzir a taxa de mortalidade.

Quando proteger?

A terapêutica deve ser iniciada no mês de
outubro. O anticorpo monoclonal é administrado nos bebés por via
intramuscular e inclui cinco doses que devem ser efetuadas mensalmente,
durante os meses de maior prevalência da infeção por VSR.

É importante
que o tratamento seja mantido «até ao fim do período epidémico, de forma
a garantir a imunização até março», frisa a pediatra, um cuidado que muitos pais nem sempre têm. Esta terapêutica
não interfere no calendário das vacinas.

6 cuidados que protegem o seu filho

1. Antes de contactar com a criança, deve lavar bem as mãos com água e sabão. Se tiver outros filhos, alerte-os para também lavarem as mãos quando chegam do infantário ou da escola, antes de contactarem com o irmão.

2. Os brinquedos, as chuchas e outros objetos devem ser lavados com frequência e não devem ser partilhados.

3. Evite o contacto do recémnascido com familiares e amigos constipados. Se estiver constipada, deve colocar uma máscara que cubra a boca e o nariz na hora de amamentar ou de cuidar do bebé. As mãos devem ser cuidadosamente lavadas depois da colocação da máscara ou depois de se assoar.

4. Evite lugares com grande concentração de pessoas (transportes públicos, supermercados, hospitais, por exemplo).

5. Evite a exposição do bebé a ambientes de fumo.

6. Privilegie o aleitamento materno. Através do leite materno, a mãe fornece ao recém-nascido anticorpos que o protegem de possíveis infeções.

Texto: Sofia Cardoso com Almerinda Pereira (pediatra neonatologista e presidente da secção de Neonatologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria)