O vírus da imunodeficiência humana (VIH) é a causa da síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA), que acontece quando aparecem sintomas ou doenças associadas a esta infeção.

Esta doença transmite-se pelo contacto com sangue ou fluidos genitais de pessoas já infetadas, durante as relações sexuais ou partilha de material com sangue.

Na gravidez, no parto ou na amamentação também é possível que uma mulher infetada transmita a doença ao filho. As mulheres representam um terço dos novos diagnósticos de infeção pelo VIH na Europa. Calcula-se que, a nível mundial, cerca de 50% das pessoas infetadas pelo VIH são mulheres, e esta doença é a quinta causa de morte das mulheres entre os 19 a 39 anos de idade.

A maior parte das mulheres infetam-se por relações sexuais com homens seropositivos para o VIH. Durante uma relação sexual não protegida, o risco de infeção da mulher é cerca de duas vezes e meia superior ao do homem. Este risco aumentado deve-se a factores biológicos (ejaculação em contacto direto com a mucosa vaginal e cervical, maior área de superfície nos órgãos sexuais femininos) e estruturais (normas socioculturais, violência de género, não controlo da mulher sobre a utilização do preservativo).

O uso correto do preservativo evita o contágio da infeção pelo VIH e de outras infeções de transmissão sexual, como sífilis ou gonorreia. A infeção pelo VIH diagnostica-se mediante uma análise ao sangue, que em Portugal é realizada a todas as mulheres grávidas e em consultas de aconselhamento pré-concecional. Todas as pessoas podem fazer o teste, que está especialmente recomendado no estudo ou diagnóstico de algumas doenças, como a tuberculose ou neoplasias. 

Entre os fatores associados à não realização do rastreio da infeção VIH nas mulheres destacam-se o receio do estigma associado ao resultado positivo, as dificuldades de acesso ao local onde se efetuam os testes e a não perceção de estar em risco para esta doença. Muitas mulheres descobrem que são portadoras do VIH quando apresentam infeções oportunistas.

O diagnóstico precoce da infeção pelo VIH é fundamental, pois o início atempado do tratamento permite minimizar a evolução da doença com qualidade de vida. Também é importante para a prevenção da transmissão da infeção aos parceiros sexuais. Embora as manifestações clínicas da infeção pelo VIH sejam semelhantes em ambos sexos, há algumas particularidades nas mulheres, que são diferentes em cada etapa da vida.

Isto é importante para a seleção de tratamento anti-retrovírico individualizado a cada doente, considerando a possibilidade de engravidar nas mulheres em idade fértil ou evolução para osteoporose na menopausa. A contraceção e a gravidez são situações específicas a considerar nas mulheres em idade fértil. Devem ser avaliadas as interações entre a terapêutica anti-retrovírica e os métodos contracetivos a utilizar.

O risco de transmissão vertical da doença (transmissão de mãe para filho na gravidez ou parto) sem nenhum tratamento é de cerca de 30%. Este risco diminui para menos de 1% sob tratamento antirretrovírico, que deve ser iniciado idealmente antes de engravidar ou no segundo trimestre da gravidez, dependendo do estado clínico e imunológico da mãe. Atualmente já não está indicada a cesariana eletiva quando a carga vírica no sangue é baixa, pelo que o parto vaginal é o mais comum. 

As comorbilidades associadas ao envelhecimento são mais comuns e precoces nas pessoas infetadas pelo VIH, que apresentam uma prevalência elevada de lipodistrofia, alterações neurocognitivas e alguns tipos de cancro. Nas mulheres, há também um risco aumentado de osteoporose e menopausa precoce.

Atualmente, não há cura para a infeção pelo VIH, que é uma doença crónica, na qual a adesão ao tratamento, quando necessário, é fundamental para manter o controlo do vírus e do sistema imunológico. Nas situações de não adesão correta à terapêutica podem aparecer resistências aos medicamentos anti-retrovíricos, dificultando as possibilidades de tratamento eficaz no futuro. Não se verificaram diferenças por sexo na eficácia da terapêutica anti-retrovírica.

Em relação aos efeitos secundários, embora globalmente não existam diferenças, há alguns efeitos adversos, como as náuseas, que são mais frequentes no sexo feminino. Apesar de toda a informação disponível nos últimos anos, a infeção pelo VIH continua a ter uma conotação negativa em algumas áreas da sociedade, e o receio do estigma pode estar presente nas diferentes etapas da vida, fazendo desta doença não só um problema de saúde. Os dados disponíveis mostram taxas mais elevadas de depressão e ansiedade nas mulheres infetadas em comparação com os doentes do sexo masculino. 

No momento do diagnóstico e nas diferentes etapas da vida, podem acontecer situações que levem ao isolamento das doentes, seja pela dificuldade em partilhar com os familiares e amigos próximos o diagnóstico pelo receio de que estas pessoas não percebam ou não aceitem a doença, bem como pela dificuldade que possam ter em entender as dúvidas e sentimentos da mulher infetada pelo VIH.

Tradicionalmente, as mulheres são mães, cuidadoras, esposas, amigas e trabalhadoras, papeis que têm que manter enquanto vivem com a doença, necessitando, para além do acompanhamento pelos profissionais de saúde, de apoio emocional. 

Estão a ser desenvolvidos em Portugal grupos de apoio para estas doentes, baseados no apoio de pares, para tentar minimizar com a partilha de experiências entre mulheres em situações semelhantes o impacto que a infeção pelo VIH possa ter nos relacionamentos íntimos, família e no local de trabalho. A integração num grupo de apoio pode ajudar a compreender melhor a infeção pelo VIH e a importância da adesão ao tratamento, com um resultado positivo na evolução da doença a longo prazo de cada doente.

Texto: Carmela Pinheiro (médica do serviço de virologia do Centro Hospitalar de São João no Porto e especialista da plataforma Tal Como Tu