A perspetiva de uma operação pode roubar-nos a tranquilidade e
fazer-nos sentir impotentes. No entanto, também está nas nossas mãos contribuir para que a cirurgia e a recuperação corram da melhor forma possível.
As pesquisas demonstram que as mulheres que se preparam física e emocionalmente têm menos complicações e dores, recuperando mais rapidamente. Aprenda a fazê-lo da forma mais correta.
Alimentação
Adote uma dieta equilibrada nutritiva, em especial, rica em proteínas. Opte por frango, marisco e laticínios magros. Quanto mais cedo iniciar a dieta, melhor. Quem tem excesso de peso deve reduzi-lo, pelo que pode ser pertinente aconselhar-se com um dietista.
Este tipo de regime alimentar ajuda a fortalecer o organismo, reforçando o sistema imunitário, e as proteínas desempenham um papel crucial no processo de recuperação. Eliminar o peso a mais é importante para reduzir os riscos associados à anestesia e perigo de infeção pós-cirúrgica.
Exercício físico
Se não faz exercício regularmente, introduza-o gradualmente na sua rotina diária algumas semanas antes da cirurgia. 15 minutos de marcha diariamente fazem toda a diferença. A atividade física ajuda a armazenar energia e permite que o corpo esteja o mais em forma possível antes da cirurgia. Para além disso, e dependendo da cirurgia, o exercício físico pode ser um elemento-chave no processo de recuperação.
Medicação
Aconselhe-se com o seu médico, informando-o sobre todos os medicamentos que toma regularmente. A possibilidade de interromper a sua toma vai depender dos tipos de fármaco e da cirurgia em causa. Alguns medicamentos utilizados por doentes cardíacos podem interferir no processo de coagulação do sangue, mas a toma não deve ser interrompida sem se adotarem outras medidas sob conselho médico. Fármacos como anticoagulantes e medicamentos à base de produtos naturais podem interagir com a anestesia e provocar complicações.
Medicamentos à base de ácido acetilsalicílico, como a aspirina, e antiinflamatórios não esteroides não devem ser tomados a partir da semana anterior à cirurgia, já que aumentam o risco de hemorragia. Em alguns casos, deve-se interromper a toma de contracetivos orais e iniciar outro método anticoncecional, 30 dias antes da cirurgia, embora esta opção não seja consensual. A toma de diuréticos ou de outros medicamentos para emagrecer deve ser interrompida um mês antes da cirurgia, pois podem ter efeitos colaterais adversos.
Suplementos nutricionais
Aconselhe-se com o seu médico, sobre se deve ou não interromper a
toma.
Questione-o se, por outro lado, existem determinados suplementos
nutricionais a que deve recorrer antes da cirurgia.
A toma de
suplementos nutricionais que contenham alho, vitamina E, ginseng ou
ginko biloba é desaconselhada nos sete dias que antecedem a cirurgia,
pois podem promover hemorragias ou interferir com a anestesia.
O médico
pode recomendar a ingestão de suplementos nutricionais específicos (como
vitaminas A e C e zinco) cerca de uma semana antes da cirurgia,
prolongando a sua toma durante o período pós-operatório.
Fumar
Deixe de fumar pelo menos 15 dias antes da cirurgia e continue sem
fumar até terem decorrido seis semanas após a operação. Um estudo
recente refere que quem deixa de fumar dois meses antes de uma cirurgia
tem menos complicações, recupera mais rapidamente e sai mais cedo do
hospital. Aconselhe-se em relação a um método de cessação tabágica que
se adeque à sua personalidade e estilo de vida.
Fumar reduz a
quantidade de oxigénio libertado para os tecidos que é fundamental para o
processo de cicatrização. O fumo também contribui para problemas no
coração e pulmões, entre outros órgãos. Se deixar de fumar, a anestesia
será mais fácil e a probabilidade de ter complicações será menor.
Jejum
Não ingira sólidos ou líquidos nas oito a doze horas que antecedem a
cirurgia. Se tiver alimentos ou fluidos no estômago durante a cirurgia
pode vomitar. A combinação da anestesia, que paralisa o corpo com a
intubação, faz com que seja possível inalar o vómito, o que pode
provocar complicações graves como pneumonia ou dificuldades
respiratórias que comprometem a recuperação.
Bebidas alcoólicas
Reduza ou evite consumir bebidas alcoólicas pelo menos uma semana
antes da cirurgia. Em excesso, o álcool pode provocar hemorragias, danos
no fígado e ter efeitos imprevisíveis na anestesia.
Siga as estratégias do psicólogo clínico Vítor Rodrigues e avance para a cirurgia sem medo:
- Informe-se
«Acerca das vantagens e inconvenientes da cirurgia, dos efeitos possíveis da anestesia, do tratamento subsequente, dos efeitos a curto, médio e longo prazo da cirurgia e demais tratamentos», explica o especialista.
- Enfrente o medo
«Se tememos a dor, importa aprender a lidar com ela, se necessário com o auxílio de profissionais», refere Vítor Rodrigues.
- Aprenda técnicas de relaxamento
«Quase todas as pessoas que vão passar por uma cirurgia e a temem acabam por referir o medo da dor física. No momento de a sentirem, tendem a contrair a musculatura, o que aumenta a dor. O relaxamento ajuda muito porque permite aprender a relaxar mesmo perante a dor, diminuindo-a e isso tem revelado enorme utilidade, mesmo com pacientes oncológicos. Este comportamento ajuda a criar distância face à dor física e a conseguir que as emoções não se liguem automaticamente à mesma. Além disso, ajuda o paciente a perceber, e sentir, que não está impotente face à situação», esclarece o psicólogo clínico.
- Comece a praticá-la 30 dias antes
«Deve aprender a relaxar todo o corpo mas a fazê-lo perante alguma medida de dor, para treino. Um dos modos de induzir essa dor pode consistir, por exemplo, em apertar o braço durante alguns minutos (poucos) com um aparelho clássico para medir a tensão arterial», acrescenta.
- Recorra à hipnose
«Esta (ou a auto-hipnose) pode ajudar muito se se prevê uma cirurgia de maior impacto físico e psicológico. Potencia o relaxamento, diminui a resposta de dor e a ansiedade e ajuda à recuperação fisiológica de dois modos, diminuindo o stress e aumentando as defesas fisiológicas, o sentimento de poder pessoal e a recuperação em geral», propõe o especialista.
- Crie uma rede de apoio
«Contribui muito para diminuir o stress e parte dele resulta de a pessoa sentir que está impedida, por se encontrar momentaneamente fora de combate, de realizar as tarefas a que está habituada. Sentir que outros se encarregam delas e que também estão presentes para ajudá-la e dar-lhe afeto é muito importante», finaliza.
Texto: Teresa D' Ornellas com Vítor Rodrigues (psicólogo clínico) e Vítor Veloso (oncologista/cirurgião)
Comentários