O primeiro passo foi dado na década de 80 por Hararld zur Hausen quando concluiu que o Vírus do Papiloma Humano (HPV) estava na origem do cancro do colo do útero, uma doença que afecta cerca de 500 mil mulheres por ano em todo o mundo.

Ao compreender a natureza da infecção do HPV, o investigador alemão tornou possível o desenvolvimento de vacinas profiláticas contra um vírus sexualmente transmissível, responsável por cerca de 70 por cento dos casos de cancro do colo do útero. Uma descoberta que impulsionou a criação de uma vacina por investigadores da Universidade de Rochester, em Nova Iorque, da Georgetown University, em Washington, D.C. e da Queensland University, na Austrália.

Em 2006, seria então aprovada a primeira vacina preventiva contra o HPV, nos Estados Unidos da  América e Canadá, seguindo-se a Austrália e a Europa. Em Portugal, foi comercializada a vacina quadrivalente Gardasil, em Dezembro de 2006, que dois anos depois seria integrada no Plano Nacional de Vacinação. Actualmente, já faz parte da rotina de vacinação de todas as mulheres jovens em mais de 80 países.

Trata-se de uma vacina que protege contra quatro tipos de HPV, o 16 e o 18, considerados genotipos de alto risco que podem conduzir ao cancro cervical e o 6 e 11 que causam cerca de 90 por cento das verrugas genitais.

Indicada para todas as adolescentes e mulheres dos nove aos 26 anos e rapazes dos  nove aos 15 anos, esta vacina garante «uma eficácia de quase 100 por cento na prevenção de lesões genitais pré-cancerosas, cancro do colo do útero e condiloma acuminado», descreve a Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG).

Quem deve tomar a vacina

A vacina deve ser administrada às raparigas entre os nove e os 13 anos. O PNV prevê a sua aplicação aos 13 anos, idade em que ainda não iniciaram a actividade sexual e não estiveram expostas ao vírus HPV. No entanto, a vacina é ainda eficaz até aos 26 anos mesmo em mulheres já activas sexualmente. De acordo com a Sociedade Portuguesa de Oncologia, o pico de exposição aos HPV ocorre entre os 16 e 21 anos.

Dados recentes mostram que a vacina contra o cancro do colo do útero é igualmente benéfica para as mulheres mais velhas. Os últimos ensaios clínicos realizados demonstraram que a eficácia da vacina é de 90 por cento até aos 45 anos. A SPG explica que «o risco de infecção é significativo até aos 50 anos, pelo que as mulheres sexualmente activas com mais de 26 anos têm benefícios com a vacinação», contudo  esses benefícios «devem ser ponderados numa perspectiva individual».

A aplicação da vacina

 A vacina é administrada em três doses e, até ao momento, os estudos realizados não indicam a necessidade de realizar um reforço. É recomendado que o intervalo mínimo entre a primeira e a segunda dose seja de quatro semanas, entre a segunda e a terceira de 12 semanas e entre a primeira e a terceira dose seja de 24 semanas.

Esta vacina pode ser administrada em simultâneo com a vacina da Hepatite B, mas em local diferente, bem como com a vacina de reforço combinada contra a Difteria, Tétano, Tosse Convulsa com ou sem Poliomielite inactivada.

O rastreio, através de uma citologia, deve ser mantido mesmo em mulheres vacinadas, pois 30 por cento dos casos de cancro do colo do útero e dez por cento das verrugas genitais são provocados por outros vírus HPV que a vacina não protege. Além disso, «muitas mulheres podem estar já infectadas quando vacinadas», acrescenta a Sociedade Portuguesa de Oncologia. Em Portugal, as mulheres entre os 25 e 65 anos devem realizar uma citologia de três em três anos ou a cada cinco anos.

Casos contra-indicados

Esta vacina não deve ser administrada nos seguintes casos:

- Se tiver hipersensibilidade à substância activa ou a qualquer um dos excipientes.

- Se estiver grávida.

- Se tiver alguma doença auto-imune aguda activa, como lúpus eritematoso sistémico, artrite reumatóide ou esclerose múltipla.

- Se tiver uma doença aguda grave com febre aquando a administração da vacina.

- No caso dos doentes imunodeprimidos, a vacina não está contra-indicada. No entanto, a eficácia da vacina não está comprovada.

A vacina pode também ser aplicada em mulheres que amamentam, assegura a SPG.

As reacções secundárias

Podem surgir apenas reacções ligeiras no local de aplicação da vacina. As perturbações mais comuns são dor ligeira e eritema. No caso das adolescentes, pode ocorrer desmaio depois da administração da vacina.

 Texto: Sofia Cardoso