1. Deve fazer-se a vacinação HPV a partir de que idade?

A vacina contra o HPV pode e deve ser iniciada na transição da infância para a adolescência – aos 10-15 anos de idade. A mais-valia da vacinação precoce numa vacina fortemente imunogénica que continua a mostrar alta taxa de protecção contra as doenças que previne, tais como o cancro do colo uterino e outros do aparelho genital inferior ao fim de cerca de 20 anos decorridos sobre os primeiros estudos de eficácia, é o facto de actuar numa população naive, ou seja, uma população que ainda não iniciou o primeiro contacto sexual. 

Convém não esquecer que a idade média do início da vida sexual na Europa se situa à volta dos 14-15 anos.

2. Há algum limite máximo de idade em que se pode fazer a vacinação?

Não. Apesar de a maior parte dos estudos de eficácia terem como limite a idade de 45 anos, não há atualmente razão para impor limite máximo de idade de administração da vacina nonavalente. 

Finalmente, esta ideia tem a ver com a diminuição da capacidade de resposta do sistema imunitário quando se administra uma vacina; com o avançar da idade, parece haver uma diminuição desta capacidade (o que poderia ter que ver com a diminuição da eficácia da vacina).

3. As mulheres até aos 45 anos que não foram ainda vacinadas devem fazer esta vacina? 

Sim. Também aquelas que fizeram a vacina anterior – quadrivalente – podem ter benefícios na administração da nonavalente. Embora esta opinião deva ser individualizada e de acordo com a paciente que temos à frente.

4. Quais as mais-valias de vacinação contra o HPV em mulheres de idade adulta?

Sabe-se que cerca de 85% das mulheres adultas e sexualmente ativas não vacinadas vão em algum momento da sua vida entrar em contacto e manifestar uma infeção pelo HPV. Por isso, a vacinação na idade adulta representa uma mais-valia significativa na proteção da doença pré-maligna e em cancros do colo do útero, vagina, vulva, anais e da região orofaríngea.

5. Para que grupos populacionais está indicada a vacina?

A vacina nonavalente contra o HPV – 9 tipos de HPV – faz parte do Plano Nacional de Vacinação (PNV) e está indicada e é gratuita para todas as crianças – entre os 10 e os 15 anos, sejam raparigas ou rapazes. Claro que há “grupos populacionais” que podem estar mais em risco de desenvolver uma doença associada ao HPV do que outros na vida adulta.

Teresa Fraga, especialista em Ginecologia e Obstetrícia
Teresa Fraga, especialista em Ginecologia e Obstetrícia Teresa Fraga, médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia

6. Quais são os benefícios da vacinação dos rapazes? 

Para o indivíduo - prevenção dos condilomas (verrugas genitais), cancros anais, orofaringe, pénis e doenças precursoras (premalignas) dos mesmos locais;

Para a parceira(os) – prevenção da contaminação infeção;

Para a sociedade – diminuição dos gastos com o diagnóstico e tratamento de todas estas patologias.

7. A vacinação neste grupo tem alguma influência nas metas de eliminação do cancro do colo do útero da mulheres ? 

A proteção de grupo é importante neste tipo de doenças com transmissão sexual. A meta proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é a redução do número de casos de cancro do colo do útero para níveis abaixo dos 4/100.000 mulheres ano – sendo este número considerado como o limiar abaixo do qual a doença deixa de ser um problema de saúde pública, para um cancro que se pode prevenir.

8. O que é que causa o cancro do colo do útero e quais os seus principais sintomas ?

A causa primeira e obrigatória para o desenvolvimento de um cancro do colo do útero é uma infeção por HPV – habitualmente um HPV de 7 dos 15 tipos potencialmente oncogénicos – os que estão na vacina nonavalente – 16, 18 , 31, 33 , 45 , 52  e 58. Os outros cofactores que contribuem para a progressão desta doença são a não realização de rastreio (teste de HPV) e a existência de doenças que diminuam a capacidade de defesa do organismo. 

O cancro do colo do útero é assintomático até fases muito avançadas. Quando dá sintomas podem ser perdas de sangue, corrimento com cheiro, dores pélvicas e perdas de sangue nas relações sexuais.

9. Qual é a melhor forma de prevenir esta doença?

Prevenção do cancro do colo do útero é feita de duas maneiras:

A prevenção primária baseia-se na prevenção da contaminação com HPV de alto risco oncogénico, através da vacinação com a vacina contra o HPV Gardasil 9 e também numa mudança dos comportamentos que podem interferir com a imunidade: prevenção do tabagismo, a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, uso de preservativo. 

 A prevenção secundária diz respeito ao rastreio desta doença, atualmente baseado no teste de pesquisa de HPV seriada e mantendo os intervalos estabelecidos. 

Este teste, se negativo, vai querer dizer que a probabilidade de ter alguma doença significativa do colo é praticamente nula. Se positivo, leva a que se tenha de fazer alguma coisa para diagnosticar ou despistar uma lesão do colo do útero ou da vagina, pode por exemplo fazer uma colposcopia ou repetir o teste ou fazer uma citologia ou teste de Papanicolau (este era o antigo teste primário para o rastreio do cancro colo do útero). A indicação do próximo passo deve ser feita pelo especialista, que trata desta área de patologia: o Ginecologista. 

10. A vacina contra o HPV pode travar totalmente o aparecimento do cancro do colo do útero? 

Não na totalidade. Ficarão sempre casos residuais provocados por HPV não contidos na vacina (ainda há uns 3 ou 4 de risco oncogénico), mas muitos casos serão prevenidos. Se a vacina for administrada ao mesmo tempo que se implementa um rastreio eficaz e abrangente da doença, o número de casos de cancro do colo do útero será muito reduzido.