As células estaminais são células-mãe que dão origem a outros tecidos e órgãos do corpo. «O cordão umbilical tem dois tipos de células estaminais. As que estão contidas no sangue do cordão umbilical (hematopoiéticas) e as que existem no próprio cordão (mesenquimatosas). Na polpa dentária, as células estaminais são mesenquimatosas e não têm a componente hematopoiética, aplicável em doenças sanguíneas, como linfomas, anemias e leucemias», refere Helga Leite.

«A sua grande mais-valia reside no facto de serem muito eficientes em doenças do foro neurológico, dada a sua origem no tubo neural, a estrutura que origina o sistema nervoso central. Além disso, também funcionam como coadjuvantes em tratamentos com enxertos, em transplantes, porque ajudam a diminuir muito a rejeição do organismo», descreve a médica dentista, com quem conversámos sobre esta técnica, recentemente disponibilizada em Portugal.

O que comprovam os estudos sobre a aplicação de células estaminais da polpa dentária no tratamento de doenças?

Existem estudos clínicos em pessoas com produção de córnea não humana em casos de cegueira e também de regeneração de osso. Já é possível, por exemplo, reproduzir em laboratório o volume exato de osso em falta de um maxilar e colocá-lo, depois, como se tratasse de uma peça de puzzle.Há também estudos clínicos a decorrer sobre o uso de células estaminais em crianças que nascem sem o palato.

O tratamento tradicional é doloroso e prolongado. As intervenções envolvem a remoção de osso da bacia. Neste momento, há crianças de oito anos, em São Paulo, que estão a ser tratadas com células estaminais da sua polpa dentária, com vista à reprodução de osso na sua boca, evitando assim a cirurgia de remoção de osso da bacia.

Qual é a taxa de sucesso dos tratamentos?

Uma vez que os estudos clínicos estão em curso, ainda não existe esse dado, mas o sucesso dependerá do prognóstico. Se a doença já está instalada, o sucesso não será tão grande, pelo que o ideal é fazer a terapêutica o mais cedo possível, iniciando-se rapidamente após o diagnóstico.

O sucesso depende também das doses que são administradas (o tratamento é injetável), da localização onde são administradas (quanto mais perto da lesão, melhor) e também da terapêutica que é instituída pela equipa e da periodicidade das dosagens, que pode ter limitações se não tivermos a quantidade de células suficiente. Os benefícios podem reverter diretamente para a criança ou para três gerações anteriores ou posteriores.

Como é feito o processo de criopreservação?

É realizada uma radiografia para avaliar o estado e viabilidade do dente. Qualquer médico dentista está apto a fazer a extração para recolha, desde que tenha uma formação dada pela Future Health Biobank, o banco privado de criopreservação que disponibiliza, em exclusivo, este serviço em Portugal.

O dente é extraído e introduzido num kit do laboratório. O kit é, depois, enviado para Inglaterra, juntamente com uma amostra de sangue do dador, para aferir se, na altura da recolha, tinha uma doença genética, por exemplo.

Veja na página seguintes: Em que idades é a criopreservação deve ser feita?

Em que idades é que deve ser feito?

No caso dos dentes de leite, entre os 5 e os 12 anos. No caso dos dentes do siso, não há idade limite, desde que estejam em perfeitas condições. Os dentes não podem ter cáries, nem estar estragados.

Quanto custa?

Custa cerca de 1.500 euros. O valor inclui a recolha do dente, transportes de avião, o processamento, a criopreservação e armazenamento por 25 anos. O armazenamento é pago caso as células sejam criopreservadas com sucesso. O valor não inclui a consulta de extração nem os custos de recolha e análise de sangue.

Quanto tempo podem essas células ser criopreservadas?

A primeira célula estaminal recolhida e que está criopreservada em perfeito estado, encontra-se num banco e criopreservação em Nova Iorque há 25 anos, mas crê-se, que poderão ser conservadas por mais tempo.

Texo: Helena Estevens com Helga Leite (médica dentista especialista em odontopediatria e ortodontia)