As células estaminais são consideradas células mestras do sangue e do sistema imunitário, «sendo suficientemente indiferenciadas para se poderem desenvolver em diferentes tipos de células de tecidos do nosso organismo», indica Vânia Reis, responsável pelo Departamento Científico da Future Health, em Portugal.

Possuidoras de propriedades únicas que permitem ao organismo «reparar, regenerar e substituir células danificadas, assim como os respectivos órgãos, são como um sistema de reparação do corpo, substituindo continuamente outras células».

O sangue do cordão umbilical contém uma concentração de células estaminais significativamente maior do que a medula óssea, «sendo uma boa fonte de células para transplante», explica Vânia Reis. A criopreservação das células estaminais não permite prevenir doenças mas, sim, intervir no processo e evolução das mesmas.

Células do sangue e células do tecido do cordão umbilical

Os dois tipos de células estaminais são importantes para o tratamento de patologias. «Ao contrário das células estaminais hematopoiéticas (do sangue), que só podem ser utilizadas uma única vez, as mesenquimais (do tecido) podem ser multiplicadas em laboratório, possibilitando mais do que uma utilização.

Estas células são já utilizadas naquela que é uma das mais entusiasmantes, e potencialmente mais abrangentes áreas do tratamento com células estaminais– a medicina regenerativa», indica Vânia Reis.

«Enquanto as células estaminais do sangue umbilical estão a ser cada vez mais utilizadas para o tratamento de doenças do sangue, do sistema imunitário e alguns tipos de cancro, como a leucemia, as células estaminais mesenquimais são “peritas” em reparação e regeneração», salienta Vânia Reis.

Num futuro próximo, haverá a possibilidade destas células regenerarem tecidos, solucionarem algumas situações traumáticas ou curarem doenças.

Novas potencialidades

Existem já alguns laboratórios em Portugal a oferecer o processamento e preservação das células estaminais do tecido do cordão umbilical. A Future Health e a Cytothera são dois bons exemplos.

A decisão de recorrer a este serviço é fundamental, segundo Vânia Reis, para «não só segurar a saúde do seu filho como também de um irmão ou familiar. O sangue e o tecido umbilical são 100% compatíveis com o bebé e existem grandes probabilidades de compatibilidade com o resto da família», diz-nos.

Registam-se regularmente desenvolvimentos importantes na pesquisa de novos tratamentos, «anunciando o potencial das células estaminais no tratamento de uma variedade de doenças, incluindo a esclerose múltipla, a diabetes tipo I, o cancro testicular, o cancro do fígado e a possibilidade de regenerar o coração após enfarte do miocárdio», indica Vânia Reis.

Para além disso, as células mesenquimais vêm multiplicar o espectro de aplicações. «Sem tirar o devido valor das células hematopoiéticas, pois as patologias são graves e acontecem sobretudo no início da infância, as células do cordão umbilical abrangem novas possibilidades de extrema importância», indica Hélder Cruz, director-geral da ECBio e investigador dos Laboratórios Cytothera.

Com a matriz do cordão, conseguem-se criopreservar entre 5 a 20 milhões de células.

Como se processa a recolha?

Os futuros pais devem contactar o laboratório que escolheram para a criopreservação com alguma antecedência. Por norma, um a dois meses antes da data prevista do nascimento do bebé de forma a adquirirem o kit de recolha.

«Na altura do parto deverão entregar o mesmo aos profissionais de saúde. A recolha das células estaminais do sangue do cordão umbilical, bem como a recolha de tecido do cordão umbilical, são efectuadas imediatamente após o parto pelos profissionais de saúde e colocados em recipientes estéreis», explica Vânia Reis.

Trata-se de um processo rápido, não invasivo e totalmente indolor, quer para a mãe, quer para o bebé. «O kit é então entregue pelos profissionais de saúde ao pai do bebé que entra em contacto com a transportadora de modo a agendar o seu transporte especializado para o laboratório.»

Para criopreservar as células mesenquimais, deve retirar-se, no mínimo, 20 centímetros de cordão umbilical e colocar-se num tubo.«O procedimento é muito simples. No entanto, se alguém retirar o cordão umbilical ou se ele cair ao chão, pode correr-se o risco de contaminação», admite Hélder Cruz. Existem algumas variáveis que influenciam o adequado processo de criopreservação que não podem ser controlados.

As células devem ter qualidade e quantidade suficientes para serem guardadas mais tarde. «Ainda assim, em todos estes anos, nunca tivemos uma amostra perdida», adianta o investigador.

O kit de recolha custa entre 115 € e 130 € e o restante processo cerca de 1100 € e 1600 €.

Texto: Cláudia Pinto com Vânia Reis (responsável pelo departamento científico da Future Health) e  Hélder Cruz (director geral da ECBio e investigador da Cytothera)