É sinónimo de mudança e, naturalmente, fonte de muitos medos. Afinal, o que se transforma no universo feminino com a chegada da menopausa?

Esta foi a pergunta-chave que norteou a investigação para este artigo. Porque muito antes dos primeiros sinais, há estratégias que pode adoptar para entrar de forma triunfal nesta nova etapa da vida.

A aceitação é o primeiro passo para uma entrada tranquila nesta fase. O outro é a preparação. Para a ajudarmos, explicamos-lhe o que vai acontecer no seu organismo e como deve adaptar o seu estilo de vida para minimizar os efeitos da menopausa. Confira as respostas a todas as suas dúvidas, com a ajuda do ginecologista Mário Sousa, presidente da Sociedade Portuguesa de Menopausa..

1. O que é a menopausa?

Cientificamente, é o fim da menstruação da mulher. «O diagnóstico é clínico e feito um ano após a última menstruação, porque a mulher pode estar três a quatro meses sem menstruar e depois voltar a ter o período», explica Mário Sousa. Assim, dizer que uma mulher «está a entrar na menopausa» significa que deixará de ser menstruada. Para 75% das mulheres, isso significa também que têm um conjunto de outros sintomas que surgem com o fim da menstruação.

2. Quando surge?

Entre os 45 e 55 anos. É a chamada menopausa fisiológica. No entanto, «se for uma menopausa precoce acontece antes dos 40 anos. E, se a mulher retirar o útero e os ovários, acontece a chamada menopausa cirúrgica que, na maior parte dos casos, também conduz aos sintomas da menopausa», esclarece Mário Sousa, que alerta para o facto de as mulheres fumadoras poderem ter a menopausa mais cedo cerca de dois anos. Factores como a exposição a radiações, doenças ginecológicas ou alterações genéticas podem também ter influência.

3. Porque é que ocorre?

A menopausa traduz o declínio da quantidade e qualidade dos óvulos produzidos pelos ovários e o desaparecimento da ovulação, devido a várias alterações hormonais, como detalha Mário Sousa: «Desde a menarca [primeira menstruação] até à menopausa, o ovário produz estrogénios e progesterona. Quando deixa de produzir estas hormonas, ocorre um processo de degradação progressiva. Os receptores de estrogénios deixam de receber naturalmente o estrogénio, dando lugar a muitas alterações. É a chamada síndrome de carência de estrogénio».

4. A menopausa surge de um dia para o outro?

Não, dá-se de forma progressiva, existindo um nome científico para o período que a antecede: o climatério ou perimenopausa. Esta fase é caracterizada pela irregularidade do ciclo e fluxo menstrual, que pode ser acompanhada por outros sintomas. Segundo Mário Sousa, «em mulheres normais, chegam a passar-se cinco anos entre o surgimento dos primeiros ocorrência da última menstruação sinais e a ocorrência da última menstruação». Na altura em que surgem os primeiros sinais deverá consultar o seu ginecologista: «Se tiver sintomas, a mulher tem indicação para fazer terapia de substituição hormonal, mas é preciso saber se não tem contra-indicações, pelo que deve ser avaliada», recomenda o especialista.

5. Que sinais a anunciam?

Afrontamentos, suores, sensibilidade ao calor e dor de cabeça são alguns dos mais comuns na perimenopausa. «Há também alterações psicossomáticas, como irritabilidade, comportamentos ansiosos e depressivos, alterações do sono, secura vaginal e consequências da falta de colagénio, como pele mais seca e com rugas, unhas quebradiças e cabelos mais frágeis», enumera Mário Sousa. Mais tarde, a grande maioria das mulheres é afectada pela atrofia uro-genital: «Devido à falta de estrogénios, a vagina fica mais seca e com menos elasticidade, o que se pode traduzir em infecções urinárias de repetição e dor ou sangramento nas relações sexuais», explica.

6. O que é a terapia de substituição hormonal?

Consiste na reposição das hormonas em falta no organismo feminino, como explica Mário Sousa: «A terapêutica vai normalizar o teor de estrogénios no organismo, retardando a sintomatologia e o processo de envelhecimento».

A outra vantagem está na prevenção da osteoporose e na protecção do cancro do cólon. Na maioria dos casos, o tratamento passa pela toma de estrogénio e progesterona. Esta última hormona protege a mulher do risco de cancro do endométrio, o revestimento interno do útero, cujo crescimento é impulsionado pelo estrogénio quando tomado de forma isolada. Por este motivo, as mulheres que removeram previamente o útero tomam apenas estrogénios.

Uma vez que a menopausa não é uma doença, a decisão de realizar a terapia de substituição hormonal é tomada pela mulher, aconselhada pelo médico, que indicará a dosagem e composição do tratamento. «Quanto mais precoce for o início do tratamento, mais benefícios e menos riscos tem associados», defende Mário Sousa.

7. Quais os riscos desta terapia?

Cancro da mama e tromboses ou outros problemas vasculares são os principais. Contudo, segundo Mário Sousa, estes só se tornam significativos após 10 anos de tratamento: «O benefício é superior ao risco nos primeiros 5 a 10 anos, com dosagem mínima, desde que alivie eficazmente os sintomas».

A alternativa a esta terapêutica pode passar pelo recurso a hormonas bioidênticas (com origem em plantas) ou, em alguns casos, antidepressivos. Mas a principal alternativa são os fitoestrogénios (produtos naturais com derivados de soja ou outros produtos, como trigo roxo), embora «a resposta varie muito caso a caso e a eficácia seja de apenas 50% e em sintomas leves a moderados», afirma. Segundo o especialista, «é recomendável que todas as mulheres sintomáticas entre os 50 e 59 anos e que não têm contra-indicações façam terapêutica hormonal de substituição».

Veja as respostas do especialista às suas dúvidas mais íntimas aqui.

Fique também a conhecer o estilo de vida que deve seguir para uma menopausa saudável e tranquila aqui.

Texto: Rita Miguel com Mário Sousa (ginecologista, presidente da Sociedade Portuguesa de Menopausa)