Há uns anos, perguntámos a Helen Fisher, antropóloga e um dos maiores nomes a nível mundial no campo da investigação do comportamento humano, se o amor se resumia a uma mistura e reacções de substâncias químicas, hormonais.

Esta foi a sua resposta: «Sim e não. (…) O amor e tudo o resto que fazemos é químico, mas cria toda uma atmosfera de experiências poderosas e apaixonantes». Pois assim é.

As nossas reacções físicas e emocionais estão muito longe de ser fruto das circunstâncias. Há todo um universo biológico surpreendente e poderosíssimo por detrás delas, em que particularmente as hormonas assumem especial destaque. Quer ver porquê?

Adrenalina

Perante uma situação de ameaça, temos duas hipóteses: ou lutamos ou fugimos (a tradução da expressão inglesa «fight or flight»). O curioso é que seja qual for a nossa opção, o organismo irá sempre necessitar que seja mobilizada uma maior quantidade de oxigénio e açúcar. Ora é exactamente aqui que entra a adrenalina.

Esta hormona, segregada pela glândula supra-renal, é capaz de accionar reacções como o aumento da pressão arterial, palpitações, tremores ou suores, actuando ao nível do aparelho cardiovascular, pulmonar e do índice de açúcar no sangue.

Prepara-nos, portanto, para sermos capazes de enfrentar o perigo. O seu papel é também importante face a variações de temperatura, quando somos assaltadas pela dor, a nossa pressão arterial diminui, emocionamo-nos ou sentimos medo.

Assim a adrenalina, cuja versão sintética existe desde o início do século vinte, tem como principal tarefa «dar ordem de marcha» às reservas de energia, estando ainda envolvida na libertação da noradrenalina (um neurotransmissor relacionado com o raciocínio e as emoções) e de outra hormona, a ACHT, por seu turno implicada na segregação de cortisona.

Cortisol

Não é por acaso que lhe chamam a «hormona do stress»: sempre que somos confrontados com situações de tensão, o nosso organismo, em resposta, dispara os níveis desta substância.

Geralmente, o índice de cortisol – envolvido no metabolismo da glucose, na regulação da pressão arterial, na libertação de insulina e na função imunitária – atinge um pico entre as seis e as oito da manhã, sendo que o seu ponto «morto» se regista por volta da meia-noite.

Caso os seus efeitos sejam excessivamente prolongados o saldo não será nada positivo: as capacidades cognitivas são afectadas, a tensão arterial aumenta, a função imunitária diminui, a densidade óssea é lesada assim como o tecido muscular, aumentando a gordura na região abdominal.

As investigações demonstram que existe, por exemplo, uma maior probabilidade de uma mulher abortar nas primeiras semanas de gravidez caso tenha níveis de cortisol elevados, assim como se sabe que quem é vítima frequente do stress e que, portanto, tende a libertar mais cortisol, tem maior propensão para comer mais e pior.

Insulina

É esta hormona, produzida pelas células beta dos Ilhéus de Langerhans do pâncreas, que comanda o pleno equilíbrio do nosso metabolismo. Graças a ela, a glucose (açúcar) do sangue consegue penetrar nas células, que só assim são capazes de produzir energia. Quando o nosso organismo não consegue produzir insulina ou a sua acção é ineficaz, surge a diabetes, uma patologia que se caracteriza pelo aumento dos níveis de açúcar no sangue e que, caso não seja tratada, pode ser fatal.

A secreção de insulina é estimulada através da visão e cheiro dos alimentos; graças a hormonas situadas no intestino delgado e face ao aumento do nível de açúcar no sangue. Esta hormona tem ainda a particularidade de ter sido a primeira a ser sintetizada pela engenharia genética. Também já foi aprovada nos Estados Unidos e na Europa a primeira versão de insulina inalável, concebida a pensar nos diabéticos insulinodependentes, indivíduos cujo organismo não é capaz de produzir esta hormona.

Oxitocina

É uma peça-chave na maternidade, já que é responsável pelas contracções do útero e das glândulas mamárias, processo essencial para a amamentação.

Libertada durante a excitação sexual e o orgasmo, no homem e na mulher, a oxitocina é conhecida por contribuir para a criação de vínculos afectivos entre mãe e filho, familiares e amigos. Sabe-se também que os níveis de oxitocina estão elevados sempre que nos apaixonamos e que esta hormona contribui para que tenhamos maior nível de confiança e vontade de interagir socialmente.

Um estudo realizado com casais – com base na aplicação de um spray nasal à base de oxitocina – constatou que esta ajudava os indivíduos a exprimirem as suas emoções com maior à vontade. Os cientistas vão agora investigar se existe alguma relação entre esta hormona e o desejo incontrolável de comermos doces.

Prolactina

Pois é esta hormona que, ao estimular a produção de leite, permite que a mulher amamente. Durante a gravidez, os seus níveis aumentam entre dez a vinte vezes, mas no caso das mães que não amamentam, estes voltam ao normal logo a seguir ao parto.

Para além da gestação, o stress físico e emocional e mesmo a actividade sexual podem aumentar a produção de prolactina, cujos níveis geralmente atingem um pico enquanto dormimos e pouco depois de acordarmos. O seu excesso pode afectar negativamente o desempenho das hormonas responsáveis pelo funcionamento dos ovários e testículos, ocasionando, por exemplo, alterações do ciclo menstrual.

Estrogénios

São responsáveis pelas características femininas, juventude da pele, pelo tom de voz feminino e até pelas gorduras que, caracteristicamente, se localizam nas mulheres na região das ancas.

Mas não só: os estrogénios (que são produzidos pelos ovários e incluem o estradiol, a estrona e o estriol) estão envolvidos no ciclo menstrual, no crescimento dos órgãos sexuais, interferindo directamente ao nível do desenvolvimento do músculo e mucosa uterinos, da mucosa vaginal e dos seios.

Esta hormona estimula a maturação dos órgãos reprodutivos e do endométrio, desenvolvendo as condições essenciais para poder ocorrer uma gravidez. São estas hormonas que «moldam» o nosso comportamento maternal, actuando ainda a nível cardíaco, ósseo e cerebral.

Na menopausa, com a redução dos níveis de estrogénio, o organismo da mulher sofre várias mudanças: diminuição de cálcio nos ossos, afrontamentos, secura vaginal, alteração do desejo sexual, diminuição da elasticidade cutânea, irritabilidade, depressão, entre outros efeitos a que a ciência já é capaz de dar resposta, através do recurso a tratamentos hormonais.

Progesterona

É esta hormona sexual feminina, produzida pelos ovários, que prepara o útero para a gravidez. Na verdade, é a progesterona que vai criar o «ambiente» ideal para a implantação de um óvulo fecundado no útero. Quando a gravidez não acontece e surge a menstruação é sinal que os níveis de progesterona desceram.

Esta hormona está também envolvida no processo de relaxamento dos músculos do útero, impedindo o surgimento de contracções. Sabe-se também que tem um efeito ansiolítico.

Com a aproximação e entrada na menopausa, regista-se um declínio dos níveis de progesterona. Entre os sintomas que denunciam que esta hormona está em «baixa» encontram-se as enxaquecas antes da menstruação, a irregularidade do período e a ansiedade.

Testosterona

Célebre por ser o motor do desejo sexual, no sexo masculino é produzida pelos testículos, no caso das mulheres é segregada pelos ovários e glândulas supra-renais. Esta hormona, cuja produção se inicia nos homens ainda antes do nascimento e é basicamente retomada na puberdade, é essencial para o desenvolvimento das características masculinas (como a pilosidade, o tom de voz, os músculos), dos ossos, órgãos genitais e para produção de espermatozóides.

Produzida em menos quantidade na mulher, a testosterona também promove o desenvolvimento da massa muscular e desempenha um papel relevante ao nível da libido, condicionando a sua sensibilidade nas zonas erógenas, a frequência de fantasias sexuais e até dos orgasmos.

Nos homens, com o envelhecimento, verifica-se uma diminuição dos seus níveis, o que provoca alterações na silhueta masculina, perda de pêlos, irritabilidade, diminuição da capacidade de concentração assim como do desejo sexual. Existem actualmente tratamentos para a deficiência de testosterona para o sexo masculino (injecções ou gel), sendo também utilizados fármacos compostos à base de testosterona, em dosagens mais baixas, no caso das mulheres com falta de desejo sexual.

Texto: Nazaré Tocha