Durante uma expedição à ilha de Kitava, no arquipélago de Papua Nova Guiné, Staffan Lindeberg e a sua equipa, do Departamento de Medicina da Universidade de Lund (Suécia), descobriram uma das últimas populações na Terra com hábitos alimentares semelhantes aos do homo sapiens.

Aquilo que mais o chamou à atenção «foi o facto de as doenças cardiovasculares, as mais comuns nos países ocidentais, serem praticamente inexistentes nesta população», refere. «Cientificamente, é difícil explicar esta situação, mas suspeito que a dieta seguida por esta população seja a principal causa», conclui.

A dieta do paleolítico

Os alimentos que fornecem a maioria da energia nas culturas ocidentais não são consumidos pela população de Kitava, «assim como não estavam disponíveis ao longo da evolução humana. Refiro-me aos cereais, lacticínios, gordura refinada, açúcar e também ao sal. Durante a evolução humana a alimentação era baseadaem vegetais, tubérculos, fruta, nozes, carne e peixe», refere o investigador.

Para adaptar esta dieta aos dias de hoje basta, como sugere o médico, optar por «comprar carne, vegetais, fruta, nozes, ovos... comida verdadeira, em vez de alimentos processados e embalados».

Restrição calórica

Uma das principais descobertas científicas sobre o impacto da alimentação na saúde e longevidade está associada aos estudos sobre a restrição calórica, realizados em humanos e noutros animais.

Estes têm vindo a mostrar que «uma dieta de restrição calórica (uma redução de aproximadamente 20 a 25 por cento) parece prevenir algumas das mais comuns doenças ocidentais particularmente a diabetes, obesidade abdominal e problemas de saúde daí derivados», refere o investigador.

Cereal killer

Para restringir o valor calórico da dieta, a primeira coisa a eliminar da alimentação diária é a chamada junk food (doces, refrigerantes), seguida dos cereais. «Estes fornecem muita energia e poucos nutrientes, comparados com os vegetais, a fruta e a carne», justifica Staffan Lindeberg acrescentando que «geralmente não há efeitos visíveis ao mudar de cereais refinados para integrais, mas se preferir a fruta em vez do pão terá um maior efeito».

O que valem os suplementos

Os estudos científicos sugerem que as deficiências nutricionais não são a principal causa das doenças ocidentais. Na opinião de Staffan Lindeberg, «existe muita especulação acerca dos benefícios dos suplementos mas até agora não temos boas provas de que são importantes.»

«Foram realizadas várias experiências aleatórias em que o aumento do consumo de suplementos com vitaminas e minerais comparado com um placebo não registou benefícios. Suspeito que os efeitos negativos da comida, como substâncias tóxicas, são mais importantes do que a falta de nutrientes saudáveis».

Boas e más gorduras

Também Artemis Simopoulos, presidente do Center for Nutrition, Genetics & Health, se tem dedicado aos aspectos evolucionistas da nutrição humana e, em especial, ao consumo de ácidos gordos. Na sua pesquisa constatou que, «ao longo da evolução humana, o rácio entre o consumo de ácidos gordos ómega 6/ ómega 3 era de 1/1.

Actualmente, nas sociedades ocidentais é de 16/1». Uma situação que, segundo a endocrinologista, conduz ao «aumento do stress oxidativo e da inflamação, ao endurecimento das plaquetas e ao aumento da obesidade, incrementando o risco de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, obesidade e de certos tipos de cancro»

Corrigir os erros

Apesar do actual desequlíbrio entre a ingestão de gorduras benéficas e mais prejudiciais, é possível mudar este cenário. «É fácil reverter o rácio ómega 6/ómega 3 através da alimentação», aconselha Artemis Simopoulos

Para tal, refere o especialista, só precisa de diminuir o consumo da carne e dos óleos vegetais (girassol, milho e soja), ricos em ómega 6 (ou ácido linoleico) e aumentar o consumo de vegetais de folha verde, peixes gordos, como o salmão, e preferir o uso de azeite e óleo de canola, ricos em ómega 3 (ou ácido alfalinoleico)».

Alimentar a longevidade

Para uma vida longa e saudável a endocrinologista recomenda ainda: «coma pelo menos sete doses de fruta e vegetais por dia, de forma a obter antioxidantes e fibra em abundância; coma mais peixe e menos carne e mantenha o peso normal, comendo menos e exercitando-se mais.»

Quanto aos principais erros cometidos actualmente inclui: «Os excessos alimentares, a par de uma vida sedentária; o aumento do consumo de hidratos de carbono simples, como a farinha refinada e o açúcar; o consumo excessivo de gordura saturada e de sal».

Texto: Vanda Oliveira com Staffan Lindeberg (médico especialista em Clínica Geral e Familiar) e Artemis Simopoulos (endocrinologista).