Este tipo de problemas, para além de trazerem consequências na qualidade de vida do doente, têm custos económicos associados (internamentos hospitalares, cuidados de saúde e impacto profissional) para o seu tratamento, pelo que a comunidade médica se tem debruçado em busca de mais e melhores respostas para estas pessoas.

O novo estudo internacional DEVOTE foi recentemente apresentado no congresso da Associação Americana de Diabetes e publicado, no mesmo dia, na prestigiada revista New England Journal of Medicine, e avalia a segurança cardiovascular de uma insulina de nova geração, a insulina degludec (um análogo de insulina de ação ultralonga, comercializado em vários países que ainda não se encontra disponível em Portugal) em comparação com a insulina glargina, em doentes com diabetes tipo 2 e alto risco cardiovascular para se compreender as principais diferenças e as mais-valias para as pessoas com diabetes tipo 2.

Este estudo foi desenvolvido com a participação de 438 centros de investigação, de 20 países. Os mais de 7 mil doentes selecionados para o estudo apresentavam uma idade média de 65 anos e uma duração média da diabetes de 16,4 anos. O estudo tinha como principal objetivo estudar a morte cardiovascular, enfarte do miocárdio não fatal ou acidente vascular cerebral não fatal e, adicionalmente, os episódios de hipoglicemia severa, morte por qualquer causa, efeito sobre o controlo glicémico e episódios de hipoglicemia severa noturna, entre múltiplos outros.

Foi demonstrada eficácia semelhante aos tratamentos já existentes no que diz respeito à segurança cardiovascular. Quando considerado o conjunto de morte de causa cardiovascular, enfarte do miocárdio não fatal e acidente vascular cerebral não fatal, foram registados eventos em 8,5% dos doentes sob terapêutica com insulina degludec e em 9,3% de doentes sob insulina glargina.

Contudo, foi demonstrada uma redução significativa na ocorrência de episódios de hipoglicemia severa configurando uma redução de risco na ordem dos 27%. Também foi demonstrada uma redução significativa (de 53%) nos episódios de hipoglicemia severa durante a noite.

Assim, este estudo demonstrou a segurança cardiovascular da insulina degludec (análogo de insulina de ação ultralonga) enquanto opção eficaz de tratamento dos riscos associados à diabetes tipo 2.

Adicionalmente, este novo análogo de insulina está associado a um menor risco de episódios de hipoglicemia severa (particularmente durante o período noturno). Conseguindo tal efeito, este tratamento reduz a probabilidade da ocorrência de eventos que podem comprometer a adesão do doente com diabetes a um plano de otimização do controlo dos seus níveis glicémicos (necessário para evitar o desenvolvimento das complicações tardias da doença).

Esta investigação tem um impacto particularmente relevante, tendo em conta que a diabetes tipo 2 é uma doença que cada vez mais impacta a população portuguesa e mundial. É uma doença que está fortemente associada a hábitos alimentares menos saudáveis e a uma fraca ou inexistente prática de atividade física.

O número de pessoas com diabetes tipo 2 está a aumentar em todos os países. Segundo os mais recentes dados do Observatório Nacional para a Diabetes, estima-se que esta doença atinja 1,3 milhões de pessoas em Portugal.

As explicações são do médico endocrinologista e Professor Universitário José Silva Nunes

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