Não é segredo que algumas doenças mentais parecem estar a aumentar a sua prevalência na população, as pessoas têm mais ansiedade e mais perturbações depressivas. No entanto há uma perturbação mental que está a ser afetada de forma direta pela Covid-19: a perturbação obsessivo-compulsiva.

A Perturbação Obsessivo-Compulsiva ou POC, também conhecida por TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo, a sua designação anterior) é caracterizada pela presença de obsessões em forma de pensamentos intrusivos e recorrentes que provocam ansiedade extrema, e compulsões, na forma de comportamentos e rituais com a finalidade de ajudar a lidar com as obsessões e ansiedade por estas despertada.

É estimado que 1 em cada 40 adultos, sofra de POC em todo o mundo. Sendo reconhecida como a 4ª perturbação psíquica mais frequente a nível mundial. Em Portugal, estima-se que afete 4,4% da população.

O tema da contaminação é comum nesta perturbação.

Pensamentos intrusivos sobre poder ser contaminado por vírus, germes ou bactérias dos mais diversos tipos, principalmente após o contacto com objetos considerados contaminados ou sujos. Estas ideias de contaminação levam à realização dos mais variados tipos de comportamentos e rotinas de limpeza, não só do seu próprio corpo, como das suas casas ou objetos pessoais.

A lavagem das mãos e desinfeção dos espaços foram introduzidos nas nossas rotinas diárias, contudo, estas rotinas já estavam introduzidas na vida de muitas pessoas de uma forma patológica, excessiva. No entanto, algo piorou, aquilo que eram antes pensamentos intrusivos e medos pouco conectados com a realidade, são agora perigos reais e relembrados a cada momento.

A ansiedade gerada pelas ideias de contaminação tornou-se ainda maior, dificultando a sua guerra contra a sua própria cabeça do que é real e do que é exagero.

Crenças acerca da possível contaminação sua e dos outros, de fazer mal ao outro através da contaminação ou a responsabilidade de poder infetar ou até matar alguém tornam-se o foco da atenção daqueles que já lutavam contra estas ideias, mesmo quando elas não eram realistas.

Algumas dicas

Afastar-se dos noticiários

Apesar da necessidade ser grande, acompanhar as notícias poderá ser um fator reforçador das dificuldades. Defina regras: visualizar apenas noticias de fontes seguras e apenas uma vez por dia, por exemplo.

Adotar uma atitude de não-julgamento

No aumento e descontrolo da ansiedade e dos sintomas que poderiam estar antes controlados ou em remissão, não se culpe. É uma situação excecional que exige de nós recursos excecionais, que por vezes não possuímos no momento.

Agende sessões de psicoterapia

Nesta fase poderá ser necessário algum apoio extra e revisão das estratégias aprendidas. Poderá ser também útil a preparação de um plano de ação diverso do que já tem, incluindo a adaptação de algumas das estratégias.

Um artigo da psicóloga Sara Cruz.