Comer, beber, dormir, rir, chorar... O corpo humano está em constante comunicação consigo mesmo para conseguir coordenar todas as suas ações e, para isso, criou uma espécie de mensageiros internos exclusivos. As hormonas avisam se temos fome, se temos de acordar e/ou se devemos passar da infância à adolescência. Provêm de uma glândula ou de órgão do sistema endócrino e são tão poderosas que basta uma pequena quantidade destes mensageiros para gerar rapidamente reações no organismo.

Existem muitas hormonas mas, neste arti­go, vamo focar-nos essencialmente nas que atuam especificamente na mulher. A população feminina tende a ser mais afetada por elas do que a masculina. O uso de contracetivos como a pílula acaba por ter consequências que se repercutem, depois, na saúde e no bem-estar físico e psicológico da mulher, como também confirmou um estudo científico divulgado em meados de novembro de 2020 pela publicação especializada Nature Human Behaviour.

Desajustes menstruais

As mudanças que ocor­rem na adolescência preparam o corpo da mulher para a maternidade futura. As hormonas produzidas pelos ovários vão criando condições ao organismo para poder reagir face a uma eventual gravidez, num ciclo que se repete a cada 28 dias aproximadamente e que se divide em três fases. Na primeira, os estrogénios produzidos pelos ovários es­timulam a proliferação das células do endométrio para que a sua mucosa se vá preparando para a chegada do óvulo fecundado.

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Na segunda fase desse ciclo, a seguir à ovulação, que ocorre por volta do décimo-quarto dia do ciclo, se for de 28, o nível de progesterona aumenta e a mucosa do endométrio alcança, então, as melhores condições para o óvulo feminino nidificar. Segue-se, depois, a terceira fase. Se não houver fecun­dação, os níveis hormonais descem e o estado do endométrio degrada-se até que, por volta do vigésimo-oitavo dia, começam a cair, dando início à menstruação propriamente dita. Neste período, são vários os problemas que podem ocorrer, como é o caso dos desajustes menstruais, um desquilíbrio que afeta mulheres de todas as idades.

Uma menstruação é considerada nor­mal quando aparece num intervalo entre os 21 e os 35 dias e dura, aproximadamente, quatro dias, com uma perda de sangue equivalente a quatro tam­pões ou pensos higiénicos diários. Qualquer mudança pode ser consi­derada um desajuste, por excesso ou defeito na sua frequência, quantidade ou duração. Além do historial clínico detalhado, o médico deve fazer uma avaliação ginecológica e uma citologia. Se a causa for hormonal, pode receitar anticoncetivos orais.

Endometriose

É outro dos problemas que afeta muitas mulheres. É causado pela presença de tecido endometrial fora do útero, que também sangra durante a menstruação, formando nódulos e quistos que podem bloquear as trompas de Falópio, levando, em casos mais graves, à infertilidade. Para tratar este problema de saúde, é necessário operá-las com uma laparoscopia, sem abrir, para remover os focos de tecido anómalo. Depois da intervenção, regula-se a atividade hormonal com fármacos específicos.

Acne da idade adulta

É um dos problemas causados pelas hormonas e afeta mais as mulheres. Nas últimas décadas, em função de estilos de vida mais desregrados, tem vindo a aumentar, atingindo mulheres em idades mais tardias. Quando as glândulas se­báceas da pele são ativadas pela influência dos andro­génios, um grupo de hormonas, podem produzir mais sebo do que o normal, causando as típicas borbulhas. Tomar a pílula durante algum tempo pode ser a solução, se a acne for severa e se o médico assim o indicar.

Excesso de pelos

É outro dos problemas que podem ser causados por desequilíbrios hormonais. Podem aparecer disfunções de dois tipos. Um deles, a hipertricose, é marcado por um aumento da pilosidade em todo o corpo. O outro, o hirsutismo, consiste na proliferação de uma quantidade excessiva de pelos em zonas masculinas, como as patilhas, o rosto e o peito. Se o problema for o excesso de hormonas ováricas ou supra-renais, resolve-se, por norma, através de um tratamento de reequilíbrio hormonal.

Gravidez

Assim que um óvulo feminino é fecundado, começam a ocorrer, de imediato, uma série de mudan­ças no corpo da mulher para se adaptar a esta nova situação e, em simultâneo, para facilitar o crescimento do bebé. Nessa altura, a produção hormonal aumenta e o sangue materno fica com um nível elevado de progeste­rona, de estrogénios, de gonadotropina coriónica (HCG) e de lactogénio placentário (HPL). Estas hormonas desempenham uma função concreta para impedir qualquer alteração no feto.

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A progesterona impede a manifestação de contrações antes do tempo e acelera o metabolismo da mulher grávida para assegurar o fornecimento de nutrientes e de oxigénio ao feto. Esta hormona é responsável por alguns incó­modos da gravidez, como é o caso da prisão de ventre, do ardor no estômago e das mudanças de humor. Os estrogénios, por seu lado, regulam o cres­cimento dos músculos do útero e fazem com que estes se tornem fortes para o parto. Ajudam a formar as glândulas mamárias e conseguem que a grávida tenha uma pele mais flexível. As hormonas HCG e HPL geram energia adicional para o desenvolvimento da criança.

Tal como sucede com os estrogé­nios, estes mensageiros contribuem para o aumento das mamas e para o desenvolvimento das glândulas mamárias. São vários os problemas que podem ocorrer na sequência desse(s) desequilíbrio(s), como é o caso da diabetes gestacional, muito comum. A influência da HPL na gestação pode provocar diabetes mellitus, a diabete tipo 2, durante a gravidez. Apesar de ser uma patologia tem­porária, se não for controla­da, aumenta o risco de voltar a manifestar-se mais tarde.

Para além de aumentar, durante a gravidez, o risco de contrair infeções, esse desequilíbrio pode levar a grávida a ter um parto prematuro e/ou a provocar hipertensão na futura mãe. Na gravidez, a mulher com este tipo de patologia recebe insulina através de uma injeção ou é ensinada a usar dispositivos para verificar os níveis de açúcar em casa, aprendendo também a ajustar a dose de insulina necessária para ultrapassar esta situação. Depois do parto, o problema costuma, por norma, desaparecer.

A hipertensão gestacio­nal é outra consequência desta condição feminina. Esta patologia é causada por uma subida de pressão arterial, mais comum no fim da gravidez. Os números apurados situam-se acima dos valores médios habituais, aqueles que a mulher tinha antes de engravidar. A hipertensão gestacio­nal está associada à pre­sença de proteínas na urina e também exige um acompanhamento médico adequado. É (muito) importante controlar a pressão arterial ao longo de toda a gravidez.

Atraso(s) na puberdade

A passa­gem de menina a mulher, uma das fases mais críticas da adolescência feminina, ocorre, em média, entre os oito e os 14 anos e exige uma observação atenta dos pais. Deve consultar-se um especialista se não houver desenvolvimento mamário ou pelos genitais e/ou axilares depois dos 15 anos ou se a menstruação não tiver aparecido depois dos 16. Se a origem desse atraso for hormonal, o médico pode administrar estrogénios e progesterona, duas hormonas, para induzir a puberdade de forma artificial.

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Nos primeiros anos de vida das mulheres, o seu sistema hormonal está em repou­so mas, paulatinamente, o relógio biológico hormonal ativa-se e a puberdade chega. Assim, "o início da puberdade corresponde a vários passos progressivos da maturidade do sistema nervoso central [hipotálamo e hipófise], sincronizado com a promoção do crescimento e desenvolvimento dos orgãos genitais [o chamado desenvolvimento periférico]", explica Clara Bicho, ginecologista e obstetra. Trata-se da "transição biológica entre a função reprodu­tiva imatura para a função reprodutiva adulta", acrescenta ainda esta especialista.

O corpo demora algum tempo até controlar este processo. Por isso, observam-se mudanças físicas que, por vezes se tornam incómodas, como a acne ou o excesso de pelos ou as mudanças de comportamento. Os ovários começam a pro­duzir estrogénios e progesterona, responsáveis por uma grande parte das mudanças que ocorrem na mulher, como o desenvolvimento das mamas, a distribuição feminina da gordura, o crescimento esquelético, o crescimento e desenvolvimento do canal vaginal e o do útero.

De acordo com Clara Bicho, "as glândulas supra-renais também se envolvem nesta modifica­ção, estimulando a produção de androgénios, que são responsáveis pelo aparecimento dos pelos nas axilas e nos órgãos genitais". Com o passar do tempo, a secreção destas hormonas passa a ter um caráter cíclico e regular, o ciclo menstrual. Quando o útero dispõe de estrogénios suficientes, ocor­re a primeira menstruação ou menarca. Nos primeiros ciclos menstruais, não costumam existir óvulos.

Esses ovos demoram cerca de oito a 10 meses a amadurecer depois dessa primeira menstrua­ção que marca o início dos ciclos anovulatórios. Também ocorre um aumen­to na secreção de prolactina, a proteína responsável pela produção de leite na gravidez, que é poten­cializada pelo estrogénio para um crescimento da estrutura mamária normal. O aumento de produção da prolactina provoca a hiperprolactinemia, um problema que pode causar alterações menstruais e, nos casos mais graves, infertilidade.

Menopausa

É, por oposição à fase anterior, o final da idade fértil. A passagem dos anos esgota a capacidade hormonal dos ovários. Com o tempo, ficam menos recetivos à estimulação da hormona folículo-estimulante (FSH) e da hormona luteíni­ca (LH), segregadas pela hipófise. Por conseguinte, segregam menos estrogénios e progestero­na e, no final, a ovulação desaparece. A menopausa come­ça um ano após a última menstruação (ausência de fluxo menstrual durante 12 meses) ou com uma avaliação bioquímica.

Ocorre quando a FSH e a LH se apresentam elevadas. A idade média ronda os 50 anos. A lista de problemas que podem ocorrer inclui sintomas menopáusi­cos físicos, nomeadamente afrontamentos, suores, mal-estar geral, palpitações, inflamações da bexiga e da vagina e secura vaginal. Fadi­ga, diminuição de memori­zação, irritabilidade, insónias e nervosismo são outras manifestações psicológicas. A melhor opção é a terapia hormonal de substituição com recurso a estro­génios e a progesterona.

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