Filtrar e eliminar substâncias tóxicas oriundas do metabolismo é uma das principais funções dos rins mas, para um em cada 10 portugueses existe o risco de poder vir a ser devidamente realizada apenas com ajuda médica. A doença renal crónica «define-se como uma perda da função renal mantida no tempo, o que significa que os rins perdem a capacidade de filtrar», explica o nefrologista Jorge Dickson. É uma situação irreversível que se desenvolve ao longo de meses a anos, muitas vezes de uma forma discreta e silenciosa.

Sendo uma doença silenciosa, «é muitas vezes detetada tardiamente», o que justifica que todos os anos, em Portugal, surjam cerca de 2500 casos em fase terminal. Felizmente, está ao seu alcance prevenir e promover a sua deteção precoce. Antecipe-se aos sintomas. Falta de força, fadiga, náuseas, vómitos matinais, edema nos tornozelos e até mesmo falta de ar são sintomas comuns da doença renal crónica. Além de muito variáveis, «são inespecíficos, já que há um conjunto de patologias de diferentes órgãos que se manifesta desta maneira», diz Jorge Dickson.

Acresce o facto dos sintomas estarem ausentes até às fases mais avançadas da doença, que evolui numa escala de cinco estádios, «sendo o quinto o mais grave, quando se está prestes a perder por completo a função dos rins ou esta já está mesmo ausente». Quando detetada numa fase precoce, é muito frequentemente possível eliminar ou controlar as causas desta doença e impedir que se agrave. Mas numa fase avançada, quando surgem os sintomas, o tratamento é menos eficaz e visa limitar danos.

Um diagnóstico precoce é, por isso, essencial. Visite o seu médico de família regularmente que irá prescrever-lhe análises de rotina ao sangue e urina que permitem detetar anomalias no funcionamento do rim. Se necessário, será encaminhado para uma consulta de nefrologia. Faça-o, de seis em seis meses se tem hipertensão, diabetes,  familiares diretos com doença renal ou mais de 50 anos ou anualmente se tem menos de 50 anos e não tem queixas.

Como evitar os fatores de risco

«A hipertensão e a diabetes provocam mais de metade dos casos de insuficiência renal nos países do hemisfério ocidental», diz Jorge Dickson. Em risco estão também pessoas com familiares diretos com doença renal e os idosos. A partir dos 25 anos, a capacidade de filtrar dos rins vai diminuindo. «Esta tendência para perda da função renal com o envelhecimento contribui para que a média de idades de pessoas que fazem diálise esteja à volta dos 60 a 65 anos», refere o especialista.

Segundo Jorge Dickson «é a conjugação da idade com outros fatores de risco que leva a situações de maior gravidade». Existe, ainda, um rol de complicações associadas à  doença, com destaque para os problemas cardiovasculares, «a maior causa de morte nos doentes em diálise». Para se proteger, deve adotar um estilo de vida equilibrado. «É muito menos provável que uma pessoa ativa, não obesa, com uma alimentação saudável, que faça exercício físico e não fume desenvolva patologia cardiovascular e renal», diz Jorge Dickson.

Siga uma dieta saudável. Consuma sal em quantidades moderadas, reduza o consumo de açúcar para diminuir a probabilidade de desenvolver diabetes e evite gorduras saturadas, que provocam alterações do colesterol e consequentes alterações nas artérias. Pratique exercício físico regularmente e integre a atividade física nas suas rotinas diárias. Ande a pé e evite passar muito tempo sentada. E não fume. O tabagismo é um dos fatores de risco cardiovascular mais importantes, já que ataca diretamente as células endoteliais, que cobrem o interior dos vasos sanguíneos.

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Os exames de diagnóstico que deve pedir

Uma vez que os sintomas desta patologia se manifestam tardiamente, a prevenção atempada desta doença é fundamental. Estas são as análises e os exames que permitem detetar a doença renal crónica:

- Análises ao sangue

A única forma de detetar a doença renal crónica em fases precoces. Os valores da ureia e creatinina permitem avaliar a capacidade que o rim
tem de filtrar.

- Análises à urina

Detetam substâncias anómalas e permitem caracterizar melhor o eventual tipo de lesão renal. Usam-se em fases precoces e tardias para complementar o diagnóstico.

- Ecografia renal

Avalia o tamanho dos rins, uma pista preciosa quando há poucos dados sobre a história do doente. Se forem mais pequenos que o normal, a doença é muito provavelmente crónica (irreversível).

Texto: Rita Miguel com Jorge Dickson (nefrologista)