Dor, febre, mal-estar e desconforto são sintomas que, para além de serem uma proteção do organismo contra agentes patogénicos, dão o alerta de que a nossa saúde pode estar comprometida.

No entanto, se por um lado, existem doenças com manifestações óbvias de que algo está errado e que nos levam ao serviço de urgência, outras há que só apresentam sintomas muito tardiamente ou que emitem sinais que não valorizamos tanto e que não nos levam a procurar ajuda médica. São as chamadas doenças silenciosas.

Adotar hábitos de vida saudáveis, reconhecer alguns sinais e saber quando deve procurar um especialista podem ser armas poderosas para travar a doença. Ivone Cruz, médica de clínica geral e familiar, dá-lhe as principais pistas.

Diabetes tipo 2

Doença metabólica crónica em que o organismo além de produzir insulina em quantidade insuficiente torna-se resistente a ela, não a metabolizando, levando a um excesso de açúcar no sangue.

- Fatores de risco
Além de existir «uma predisposição genética para a doença, a diabetes tipo 2 é consequência de hábitos de vida pouco saudáveis, nomeadamente, sedentarismo e obesidade», refere Ivone Cruz, médica de clínica geral e familiar.

- Procure o médico se...
Surgirem sinais como vontade de urinar com excessiva frequência e em quantidades elevadas, sede constante, sensação de boca seca, fome difícil de saciar, perda de peso inexplicável, infeções urinárias constantes, comichão no corpo, em especial nas zonas genitais, e visão turva.

- Como se diagnostica
Diagnostica-se através de uma análise de rotina que mede o valor da glicose no sangue em jejum.

- Porque deve estar atento
As complicações provocadas são perigosas, podendo ser fatais se não forem tratadas a tempo. «Quanto mais prematuro for o diagnóstico, mais cedo se pode tratar e adotar uma alimentação adequada, acompanhada por exercício físico, evitando sequelas como cegueira, e úlceras nos membros inferiores», refere Ivone Cruz.

Hipertensão arterial

Doença caracterizada por pressão sanguínea elevada nas artérias que obriga o coração a um maior esforço para fazer circular o sangue através das mesmas.

- Fatores de risco
Antecedentes familiares, alimentação
desequilibrada e rica em sal e gordura, tabagismo, consumo de bebidas
alcoólicas, sedentarismo, obesidade, níveis altos de colesterol e idade
avançada.

- Procure o médico se...
«Surgirem sinais como dores de
cabeça, tonturas, visão enevoada, náusea, confusão, sonolência e falta
de ar», refere a especialista, embora estes sintomas possam ser tardios
ou nunca chegar a aparecer.

- Como se diagnostica
«Basta medir a tensão durante alguns
dias para perceber se a pessoa apresenta níveis tensionais elevados, mas
o mais rigoroso é fazer um mapa da pressão arterial durante 24 horas»,
indica a especialista.

- Porque deve estar atento
A eliminação dos fatores de
risco pode ajudar a controlar o problema. Para além disso, «se não for
tratada a tempo, há alterações graves do organismo, como insuficiências
renal e cardíaca e acidente vascular cerebral», refere a especialista.

Osteoporose

Doença predominantemente feminina que resulta numa fragilidade óssea causada pela falta de cálcio.

- Fatores de risco
«Mulheres magras e com menopausas
precoces têm maior risco, embora o sedentarismo e certas terapêuticas à
base de corticoides podem reduzir o cálcio ósseo», refere Ivone Cruz.

- Procure o médico se...
Ocorrerem fraturas ósseas, dor súbita e intensa nas costas, perda de altura, ombros descaídos e presença de corcunda, abdómen mais proeminente e cãibras nas pernas.

- Como se diagnostica
«Através de uma densitometria óssea.
«Influenciada pelo sistema hormonal, a vigilância deve começar na
menopausa ou antes, se existir historial na família de osteoporoses
prematuras», explica Ivone Cruz.

- Porque deve estar atento
«O diagnóstico precoce, uma
alimentação rica em cálcio, o aumento da produção de vitamina D e a
prática de exercício físico permitem controlar a perda de densidade
óssea, prevenindo fraturas e perda de altura», refere a médica.

Infeção VIH/SIDA

O vírus da imunodeficiência humana ataca o sistema imunológico,
destruindo as células que defendem o organismo.

Se for detetado
precocemente é possível controlar a progressão da doença e prevenir o
contágio.

O contágio pode ocorrer através de sangue, sémen, fluidos vaginais e
leite materno infetados. Geralmente ocorre após relações sexuais
desprotegidas, partilha de agulhas e seringas, durante o parto e
amamentação.

Fadiga crónica, febre, perda de apetite, perda de peso,
dores musculares, dor de garganta persistente e diarreia são alguns dos
sinais que podem surgir mais tarde. O diagnóstico é feito através do teste do VIH, que é gratuito e
deve ser feito sempre que ocorre um comportamento de risco. Se for
detetado tardiamente pode já ter ocorrido destruição do sistema
imunitário, que torna o organismo vulnerável a infeções que podem ser
fatais.

Exames de diagnóstico que salvam vidas

- Eletrocardiograma

Analisa o funcionamento do coração
através da sua atividade elétrica em cada batimento cardíaco. É
realizado quando há suspeita de doenças cardíacas. Como rotina não
precisa de ser feito mais do que uma vez por ano.

- Ecografia

Diagnóstico que utiliza a emissão de ondas sonoras ou ultrassons
para visualizar os órgãos internos. Pode ser realizado como exame de
rotina ou quando existem sintomas que precisam de esclarecimento.

- Densitometria óssea

Determina a densidade mineral óssea, comparando-a com os padrões
normais para a idade e sexo, clarificando o nível da osteoporose.
Geralmente, só é recomendada de cinco em cinco anos, a partir dos 50
anos.

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Ivone Cruz (médica de clínica geral e familia)