A associação do tabaco a esta doença é muito clara: cerca de 80% dos doentes com DPOC são ou foram fumadores. Contudo é preciso considerar este diagnóstico em outros indivíduos que na realidade nunca fumaram ativamente, mas que foram expostos ao fumo do tabaco, a outros gases inalados ou poeiras (incluindo a poluição).
Também não se pode excluir o papel da genética individual, sabe-se que alguns indivíduos tem uma suscetibilidade para desenvolver a doença. Esta suscetibilidade é na generalidade das vezes impossível de determinar, exceto no caso da proteína alfa1-antitripsina, que quando se encontra em concentrações baixas no sangue pode conduzir ao desenvolvimento de enfisema pulmonar (estima-se que a deficiência desta proteína seja responsável por 2 a 3% dos casos de enfisema pulmonar).
As estatísticas nacionais mostram que a DPOC afeta 14,2% dos portugueses com mais de 40 anos e foi responsável por 7,3% das mortes em Portugal em 2015. A Organização Mundial de Saúde prevê que em 2030 a DPOC irá ser a terceira causa de morte mundial.
Principais sintomas
Os seus principais sintomas são crónicos e persistentes e incluem a tosse, a expectoração, o cansaço para esforços, a falta de ar e a pieira. O espectro da doença é grande mas nos casos graves ocorre redução do oxigénio e subida de dióxido de carbono no sangue, com consequências nefastas no restante organismo.
O termo atual de DPOC inclui outras doenças mais conhecidas como a Bronquite Crónica e o Enfisema Pulmonar. Em comum, os três têm a inflamação, destruição e estreitamento das vias aéreas no interior do pulmão.
O diagnóstico de Bronquite Crónica é um diagnóstico clínico num contexto de tosse crónica com exposição a fumos ou poeiras, sem outra causa identificada. O Enfisema Pulmonar é diagnosticado com recurso à imagiologia (tomografia computorizada), que permite visualizar a destruição da arquitetura normal do pulmão.
Num número reduzido de doentes com Asma Brônquica, mal controlada ao longo de vários anos e/ou exposição ao fumo do tabaco (ou outros gases), pode surgir uma entidade clínica de sobreposição entre a DPOC e a Asma Brônquica, que é conhecida pelo nome de Síndrome de Sobreposição Asma DPOC – ACOS.
Perante a suspeita de DPOC a sua confirmação final implica sempre a realização de uma espirometria (prova de função respiratória), para confirmar a obstrução brônquica fixa à passagem do ar. Para determinar a gravidade da doença deve ser ainda avaliada a presença/gravidade da falta de ar e o número de agudizações que ocorrem durante um ano. Numa avaliação mais profunda pode ser necessário verificar a tolerância ao esforço, quantificar o compromisso das trocas gasosas e a repercussão da doença no coração.
A DPOC é uma doença progressiva, embora a velocidade de progressão seja bastante variável. Para o agravamento da doença contribuem as agudizações da doença, designadas clinicamente por exacerbações de DPOC. As exacerbações caracterizam-se por um agravamento agudo da doença, que leva à mudança da terapêutica e/ou o recurso aos cuidados de saúde. A principal causa desta mudança são as infeções (virais e bacterianas), mas também podem ocorrer por suspensão da medicação, má técnica na administração da medicação (que é essencialmente inalada) ou exposição a fumos e poeiras.
Prevenção
Como o número e gravidade das exacerbações são determinantes no declínio da capacidade respiratória, a prevenção é fundamental. Assim, a vacina contra a gripe e a vacina antipneumocócica são fundamentais, bem como o cumprimento da medicação inalada com o esclarecimento da sua técnica para garantir a sua correta administração.
Um outro ponto fundamental do tratamento é a promoção da atividade física diária, que nos doentes mais graves pode ser um desafio, mas os seus benefícios estão bem comprovados.
Por fim, nunca é demais reforçar que a medida mais importante na prevenção e tratamento da DPOC é a cessação tabágica!
Um artigo da médica Susana Lopes Moreira, pneumologista e coordenadora da Unidade de Pneumologia do Hospital Lusíadas Lisboa.
Comentários