A depressão é frequente nas pessoas idosas. Segundo a Associação Portuguesa de Gerontopsiquiatria (APG), cerca de 10% dos idosos nacionais padecem dela. Esta não é, no entanto, uma situação normal do envelhecimento. A depressão na terceira idade, muitas vezes, não é valorizada ou porque quem dela sofre pode não estar tão disponível para falar sobre o luto e a sua tristeza ou porque há outros sintomas, provocados por outras situações que podem mascarar o problema.

Certas medicações para situações de carência de vitamina B12, viroses e doenças da tiroide podem provocar sintomas semelhantes aos da depressão, pelo que o idoso com sintomas deve referir ao seu médico toda a medicação que está a tomar. As formas de tratamento mais frequentes são os fármacos, mas muitas pessoas idosas preferem começar por fazer tratamentos de psicoterapia e terapia de comportamento do que juntar mais medicamentos aos muitos que já tomam.

Através deste tratamento, conseguem melhorar muito a sua qualidade de vida e a forma de lidar com os seus problemas. Em geral, a combinação de medicação com fármacos antidepressivos e psicoterapia tem demonstrado ser eficaz em pessoas idosas. Vencer a depressão nesta fase da vida é, assim, um dos muitos desafios que as pessoas que atingem a terceira têm de enfrentar. Um desafio que se torna ainda mais difícil de atingir numa altura em que as gerações mais novas estão demasiado absorvidas pelas suas próprias vidas e pelos (novos) ritmos de vida, desenfreados e exigentes.

A importância do convívio e da socialização

Com menos disponibilidade para a família, a nova realidade faz com que muitos idosos se sintam abandonados. Uma situação que os que o rodeiam devem procurar contrariar. "Conviver e socializar é fundamental para a prevenção de diversos problemas das pessoas idosas e para a promoção de um envelhecimento saudável", assegura mesmo Sandra Neves, psiquiatra da UPPC - Unidade Psiquiátrica Privada de Coimbra, num artigo de opinião divulgado online.

"Infelizmente, o problema da solidão não nos é alheio, sobretudo nas grandes cidades, onde apesar de existirem tantas pessoas, é possível viver e morrer completamente só. É indispensável pensarmos na integração em grupos de suporte para pessoas isoladas, viúvas, pessoas idosas com deficiência motora, cognitiva ou outra e, em certos casos, procurar o aconselhamento de profissionais de saúde mental, serviço social ou terapeutas ocupacionais", defende.

"A depressão não deve ser encarada como a tristeza normal da velhice, até porque muitas vezes se apresenta com queixas subjetivas", alerta ainda a especialista. "Os familiares e cuidadores, assim como o próprio idoso, deverão ser incentivados a procurar apoio e orientação junto dos profissionais de saúde mental, por forma a melhorar o seu bem-estar e qualidade de vida", aconselha ainda a psiquiatra da UPPC - Unidade Psiquiátrica Privada de Coimbra.

Interação geracional

"Numa perspetiva de promoção da saúde mental, as atividades ao ar livre e as atividades de grupo poderão ajudar a evitar alguns quadros depressivos ou constituir, noutros casos, um grande aliado terapêutico", garante ainda Sandra Neves. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2025 existirão cerca de 1,2 mil milhões de pessoas com mais de 60 anos em todo o mundo, sendo esta a faixa etária a registar o maior crescimento.

Cuidar da saúde mental revela-se, assim, de uma importância essencial, "especialmente para quem se preocupa com um envelhecimento saudável", afirma a psiquiatra, que aponta ainda uma série de recomendações que, na sua opinião de especialista, "podem ajudar a contribuir para o bem-estar das pessoas mais velhas". Estes são os comportamentos a adotar:

- Compartilhar o seu tempo com os seus entes queridos, mesmo que seja com atividades como as refeições diárias ou as compras no supermercado, é um primeiro passo para aumentar a sua autoestima e melhorar a sua saúde mental.

- Manter a ligação e a rede de suporte, com a família, amigos e comunidade, seja pessoalmente ou por telefone, por e-mail ou através das redes sociais, é outro dos comportamentos a adotar.

- A atividade física promove o bem-estar mental, físico e social. Além de incentivar e de estimular os mais velhos a fazê-lo, os que os rodeiam devem envolver-se, procurando transformar esses momentos, tendencialmente penosos, em tempo de convívio, partilha e comunhão.

- O descanso é essencial nesta fase. Apostar numa rotina diária de sono, de forma a diminuir os níveis de stresse e de promover maiores níveis de energia e humor, é uma das estratégias a implementar e a fomentar.