Tem uma sensação de peso dentro da vagina, como se tivesse um ovo dentro de si, principalmente ao final do dia? Sente o tampão sair do lugar e dor vulvar antes, durante ou depois do ato sexual? Tem dificuldade em reter urina quando tosse, ri, corre ou ouve água a correr? Vai mais do que seis vezes à casa de banho urinar? Tem o intestino preso ou sente como se tivesse algo a obstruir ou que é incompleto? Se respondeu sim a alguma destas questões, então é sinal que o seu períneo não está a funcionar bem.
Carina Portugal, fisioterapeuta, especialista em uroginecologia, avisa que «atualmente existem soluções terapêuticas muito eficazes para tratar de qualquer disfunção, e que, como em tudo, quanto mais precoce o tratamento melhor serão os resultados». Esta profissional deixa aqui as soluções para um períneo saudável. Aprenda já a proteger o seu!
O que é e qual a função do períneo?
O períneo é um grupo muscular pequeno mas tem funções muito importantes para o nosso bem-estar e que afetam diretamente a qualidade de vida. O períneo é responsável pelo controle dos esfíncteres. Controla quando urinamos ou defecamos, contribui para manter a boa posição anatómica dos órgãos pélvicos (bexiga, útero, vagina e reto), influencia diretamente a função sexual e tem também um papel importante na manutenção de uma boa postura.
Onde se localiza o períneo?
O períneo ou pavimento pélvico é um conjunto de músculos e fáscias localizados internamente na região pélvica. Forma uma ponte miofascial entre o púbis e o cóccix que passa logo abaixo da bexiga, útero e reto. Quando contraímos este grupo muscular devemos sentir o ânus, a vagina e a uretra a apertar e elevar.
Como se pode garantir que o períneo funciona bem?
Para manter esta região saudável há que evitar o enfraquecimento destes músculos. Mesmo sem fatores de risco é importante exercitar este grupo muscular regularmente de forma a prevenir problemas futuros (por exemplo incontinência, prolapsos dos órgãos pélvicos conhecido por bexiga descaída) e, por outro lado, melhorar a agilidade, força e resistência deste grupo muscular melhorando a sua performance na função diária e sexual.
Facilita o trabalho de parto?
Pelo mesmo motivo de potencializar as contrações da vagina, o períneo é importantíssimo na hora do parto. Mas, no caso das grávidas, o peso da barriga pode acabar por enfraquecer a região. Isso faz com que muitas sofram com perda de urina ou mesmo falta de contrações. É comum as futuras mães frequentarem cursos que estimulam o fortalecimento do músculo durante a gestação.
Veja na página seguinte: Os fatores de risco para as disfunções do períneo
E, no que toca à incontinência, podemos controlá-la?
É reconhecido pela Sociedade Internacional de Continência, constituída por médicos, enfermeiros e fisioterapeutas de todo o mundo, que a realização de exercícios dos músculos do pavimento pélvico e terapia comportamental (que é a educação das situações do dia a dia que prejudicam a saúde pélvica), são a primeira linha de intervenção em caso de incontinência urinária. Existem três tipos de incontinência:
- A incontinência urinária de esforço (quando tossimos, rimos, espirramos, saltamos)
- A incontinência urinária de urgência (quando existe uma vontade enorme de urinar que não se consegue parar sem que a bexiga esteja efetivamente cheia)
- A incontinência urinária mista (a combinação das duas anteriores)
Em qualquer dos tipos é importante a realização do treino dos músculos do períneo, e como vários estudos científicos já demonstram, a reeducação dos músculos perineais é eficaz para curar as pacientes.
Os fatores de risco para as disfunções do períneo
O envelhecimento e a obesidade integram a lista mas estão longe de ser os únicos. Estas são algumas das situações que podem gerar problemas:
- Gravidez
O aumento do peso do útero em crescimento (o bebé, líquido amniótico e a placenta) sobre o pavimento pélvico, juntamente com as alterações hormonais e posturais, vão fragilizar os músculos do períneo. Existem muitas grávidas que desenvolvem incontinência urinária ou dores perineais durante a gestação.
- Parto
Constitui o maior fator de risco para as disfunções perineais, pois pode provocar laceração da mucosa, compressão do nervo, alongamento e lesão dos músculos, ligamentos e fáscias.
- Obstipação
As manobras hiperpressivas constantes para tentar expulsar as fezes com o períneo em relaxamento vai facilitar a lesão dos ligamentos suspensores dos órgãos.
- Tosse crónica
Pressões constantes do conteúdo abdominal sobre o períneo. Num estudo foi revelado que atividades como tossir impõem mais pressão a nível vaginal do que pegar em 10 quilos.
- Atividades laborais ou recreativas pesadas
Atividades que envolvam pegar em pesos, ou exercício físico muito intenso e/ou com muito impacto (por exemplo, correr ou saltar). Atletas de alta competição lidam muitas vezes com disfunções pélvicas.
- Menopausa
As alterações hormonais vão levar à alteração da qualidade do colagénio, afetando as estruturas ligamentares de suporte da bexiga, útero e reto, deixando-as mais laxas. Muitas vezes é nesta faixa etária que começam a surgir sintomas dos problemas que se desenvolveram ao longo dos anos.
Texto: Joana Brito
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